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Três dias, duas noites: retalhos da vida na N222
Vai de Gaia a Almendra e a sua beleza é (re)conhecida. A Fugas foi conhecê-la por quem a vive.
À porta do seu café, Maria Isaura Soares lamenta como a “variante” acabou por “decretar a falência do negócio”. Outros estão à porta de casa apenas a ver os dias passar na secreta esperança de dois dedos de conversa. E outros, ainda, andam na azáfama do dia-a-dia, indiferentes a miradouros e paisagens. Afinal, são todos parte das paisagens que se metamorfoseiam à medida que a N222 abre caminho do litoral para o interior tendo no rio Douro uma espécie de bússola, mesmo quando não cabe no enquadramento.
Seguimos-lhe as sinuosidades, do Douro, no troço que recebeu a distinção de “melhor estrada do mundo para conduzir”, 27 quilómetros e 93 curvas - e é como quem percorre um postal muito conhecido. Mas há muitas mais curvas ao longo da N222, nós fazemos-las todas seguindo a meada do novelo - e às vezes perdemo-la, propositadamente.
Passamos por aldeias de xisto e de granito, entramos noutras que são cascatas brancas, atravessamos vilas que são “uma rua para cima e outra para baixo” e visitamos igrejas de pedra e de muitos séculos de história. Deparamo-nos com retratos de paisagens em chamas, vestidas que estão de laranjas, vermelhos e amarelos das vinhas durienses, e de paisagens que se cozinham a fogo lento, numa ruralidade ancestral. E percebemos que se junto ao rio a “temporada alta” já passou, longe do rio é sempre temporada de algo - e, por estes dias, faz-se muito azeite nas margens da N222.
Foram três dias, podiam ter sido mais. A Fugas foi de Vila Nova de Gaia a Almendra (Vila Nova de Foz Côa), do caos do trânsito à serenidade dos olivais (com pinceladas de vinhas) ao ritmo da estrada e daqueles com quem se cruzou. Porque se a N222 é (re)conhecida pela sua beleza (e até distinções, nós fomos conhecê-la por quem a vive.
Fotografia: Paulo Pimenta
Texto: Andreia Marques Pereira