Campanha de ajuda a família de Odair Moniz perto dos 30 mil euros
Odair Moniz era o principal sustento da família, com três dependentes a cargo. Foi morto há um mês, na sequência dos disparos desferidos por agentes da PSP.
A campanha de apelo a ajuda financeira lançada pela viúva de Odair Moniz – o cidadão cabo-verdiano que foi morto pela polícia com dois tiros há um mês, na Cova da Moura, na Amadora – chegou quase aos 30 mil euros.
Num apelo feito na plataforma de recolha de fundos GoFundMe, a viúva, Mónica Moniz, lembra que no dia 21 de Outubro perderam o “Dá”, como era conhecido – "filho, pai, marido, tio, cunhado, amigo e nosso amor maior". "No asfalto onde, pela última vez, respiraram os seus sonhos, morreram também uma parte dos nossos. A sua morte prematura deixou em nós, sua família, um vazio que não conseguimos sequer ainda nomear."
Num curto texto, a viúva explica a necessidade de "reorganizar e dignificar" a "vida familiar e emocional, bem como fazer face a um conjunto de despesas", que não podem "ainda prever exactamente". "Embora, neste momento, nada possa atenuar a nossa dor, todo o apoio é bem-vindo."
Odair Moniz tinha dois empregos – era cozinheiro num restaurante em Lisboa e tinha o seu próprio café, no bairro do Zambujal, Amadora, onde vivia. A família – que tem três dependentes a seu cargo, os dois filhos biológicos de dois e 19 anos, e uma sobrinha de 17 anos que vive com eles desde os três meses e é considerada filha – ficou sem o principal sustento. "Entre a dor e a memória, estamos certas de que lutar para que seja feita justiça pelo 'Dá' é o único caminho possível para encontrar alguma paz. Sabemos também que essa caminhada – que já começou – é longa, exigente e violenta", referem.
Entretanto, contactada pelo PÚBLICO sobre o apoio que está a prestar, a Câmara Municipal da Amadora afirmou que se "disponibilizou, desde a primeira hora, a apoiar a família no que a mesma entender ser necessário e de acordo com as competências do município". "Respeitando a privacidade da família neste momento difícil, e sem infringir o regulamento de protecção de dados, apenas podemos informar que esse acompanhamento tem decorrido, sob a forma de diversos apoios e ajudas, articulados em proximidade com a família, quer através serviços de intervenção social e de educação municipais, bem como articulação com outras IPSS no terreno. Sempre que ocorrem eventos de gravidade social, a CMA disponibiliza e continuará a disponibilizar todos os serviços e instituições da cidade para colmatar as necessidades existentes”.
Contactada, a advogada da família confirmou que tem existido "articulação com os serviços da câmara".
Já a PSP, a quem o PÚBLICO perguntou se ofereceu algum apoio à família (financeiro ou de outro tipo) e quais os procedimentos quando há vítimas mortais decorrentes de acções dos seus agentes, não respondeu à primeira questão. Disse apenas que "a família poderá ser indemnizada pelo Estado, se assim vier a ser sentenciado pelo tribunal. São estes os procedimentos, caso assim a justiça o determine".
Odair Moniz morreu na sequência de dois tiros disparados na sua direcção por um agente da PSP. Tinha estado na Cova da Moura com amigos, mas na madrugada, com todos os cafés fechados, terá ido ao Bairro do Zambujal, onde tinha um café, buscar uma cachupa. Ao regressar à Cova da Moura, terá passado um traço contínuo, como noticiou o PÚBLICO, e por isso a polícia mandou-o parar, mas ele terá fugido. Foi aí que começou a sequência de eventos com Odair Moniz a entrar de carro no Bairro da Cova da Moura, e a polícia atrás dele.
Em comunicado, logo nesse dia, a PSP justificou o baleamento com o facto de Odair Moniz ter empunhado uma arma branca, esgotados “todos os meios e esforços” para o manietar. Segundo o Expresso, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, as imagens de videovigilância da zona visionadas pela Polícia Judiciária, que está a investigar o caso, não mostram uma arma na mão de Odair Moniz. A CNN Portugal referiu que os próprios polícias negaram durante as suas declarações que o cidadão tivesse uma arma. Testemunhas ouvidas pelo PÚBLICO reforçaram o mesmo.
O caso está em investigação pelo Ministério Público, Polícia Judiciária e Inspecção-Geral da Administração Interna.