Ucrânia dispara mísseis Storm Shadow do Reino Unido contra a Rússia pela primeira vez

Exército ucraniano poderá ter visado a região de Kursk.

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Storm Shadow a ser preparado para o envio REUTERS
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A Ucrânia disparou mísseis Storm Shadow, fabricados no Reino Unido, contra a Rússia pela primeira vez desde o início do conflito. A informação é avançada, nesta quarta-feira, pelo The Guardian e pela Bloomberg, citando várias fontes, no dia seguinte a Kiev ter atingido território russo com os ATACAMS norte-americanos também pela primeira vez.

O uso de Storm Shadow por parte do Exército ucraniano vem no seguimento da autorização dada pelos EUA, no domingo, para que as forças de Kiev usassem os ATACAMS em solo russo. A Ucrânia já tinha estes mísseis à sua disposição e foram utilizados, segundo o Guardian, contra a Crimeia, incluindo o quartel-general da frota russa no mar Negro. Segundo explica o diário espanhol El País, uma vez que este tipo de armamento contempla componentes norte-americanos, era também necessária a autorização da administração de Joe Biden.

A verdade é que, mesmo sem dar autorização expressa, tanto Londres como Paris se foram demonstrando favoráveis à utilização do Storm Shadow/Scalp, fabricado pelo consórcio europeu MBDA, contra alvos na Rússia.

“A minha posição tem sido sempre a de que a Ucrânia deve ter o que precisa, enquanto precisar. Putin não pode ganhar esta guerra. Perdoem-me, não vou entrar em questões operacionais, porque só há um vencedor se o fizer, que é Putin, e isso prejudicaria os esforços ucranianos”, tinha dito na terça-feira Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, na conferência dos G20 no Rio de Janeiro.

Já na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, apontava na mesma linha. “Sempre dissemos muito abertamente que consideraríamos essa opção se fosse possível atingir alvos militares nos locais onde a Rússia está actualmente a agredir o território ucraniano. Portanto, nada de novo”, observou o ministro gaulês, em Bruxelas, num encontro com jornalistas à margem do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

Já nesta quarta-feira, um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, quando confrontado com a utilização de mísseis do Reino Unido por parte das forças ucranianas em território russo, disse, à Reuters, que o seu gabinete não iria comentar relatórios ou questões operacionais. O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, também não confirmou a utilização deste armamento, mas disse que está a “utilizar todos os meios para defender o país”. “Não vamos entrar em pormenores, mas [...] somos capazes de responder”, afirmou.

Kursk como alvo

Segundo o jornal The Guardian, ainda não é possível confirmar o alvo atingido pela Ucrânia. Imagens não confirmadas, distribuídas através da aplicação de mensagens Telegram, parecem mostrar fragmentos do míssil num local na região de Kursk. A agência Reuters, citando utilizadores russos dessa mesma plataforma, dá conta de pelo menos 14 grandes explosões. O Telegraph explica que alguns habitantes da cidade de Marino, em Kursk, encontraram mesmo fragmentos de um míssil Storm Shadow.

Os Storm Shadows têm um alcance superior a 250km e juntamente com os ATACAMS de fabrico norte-americano, que podem chegar a alvos até 300kms, permitem atingir objectivos estratégicos no interior da Rússia. "[Podem ser usados] em alvos de grande prioridade, como lançadores de mísseis russos, aviões de ataque e cadeias de abastecimento”, explicava, na segunda-feira, ao PÚBLICO Manuel Poêjo Torres, consultor da NATO e especialista em estratégia militar, sobre a janela de oportunidade criada pela autorização norte-americana para utilizar os ATACAMS contra a Rússia.

Será na região de Kursk, que a Ucrânia atacou de forma surpreendente em Agosto e onde ainda controla partes do território, que estarão mobilizados cerca de 10 mil soldados norte-coreanos que estão a combater ao lado das forças russas. “Posso confirmar que mais de 10 mil soldados norte-coreanos foram enviados para a Rússia, a maioria dos quais chegou à região de Kursk, onde começaram a envolver-se em operações de combate com as forças russas”, disse, na semana passada, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Vedant Patel, sublinhando "a preocupação" dos Estados Unidos com esta aliança.

Na terça-feira, os ATACAMS produzidos pelos Estados Unidos foram lançados contra a cidade de Karachev, no oblast de Briansk, a 250 quilómetros nordeste de Kursk. Foi atingido um depósito de munições e os sistemas de defesa aérea russos foram capazes de interceptar cinco dos mísseis e danificaram um. Os destroços de um míssil caíram sobre uma instalação militar naquela região, provocando um incêndio. Não há, porém, registo de feridos ou mortos.

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