Universidade de Évora ouve alunos pela segunda vez para decidir caso do professor acusado de assédio
Reitora Hermínia Vasconcelos Vilar diz estar a auscultar os estudantes na sequência de denúncias passadas sobre o professor. PÚBLICO sabe que houve já uma reunião com alunos de Música e outra haverá.
A Universidade de Évora está ainda a analisar o caso do professor afastado da Escola Luiz Villa Boas — Hot Clube de Portugal após uma queixa de assédio por parte de uma aluna, informou o departamento de comunicação da instituição pública de ensino ao PÚBLICO. No processo de decisão estão a ser ouvidos os alunos da universidade alentejana e ao que o PÚBLICO sabe há um encontro com estudantes esta terça-feira. O professor em causa pôs o cargo de director da Associação de Jazz de Leiria (AJL) à disposição, mas a direcção à qual preside decidiu mantê-lo, como informou esta segunda-feira a entidade — da qual dependem Escola de Jazz de Leiria e a Orquestra de Jazz de Leiria, de que o docente é director pedagógico e artístico, respectivamente.
“A reitora da Universidade de Évora está a falar com os estudantes antes de tomar uma decisão”, disse ao PÚBLICO, ao final do dia de segunda-feira, a Universidade de Évora. A instituição dissera ao PÚBLICO na sexta-feira passada que "não tinha qualquer conhecimento desta situação até agora", referindo-se às circunstâncias de saída do docente do Hot Clube de Portugal.
Porém, o PÚBLICO apurou que já na quinta-feira foi convocada e realizada uma reunião com os alunos do Departamento de Música da Universidade de Évora — Escola das Artes. Esse encontro, agendado com carácter de urgência e por email cerca das 16h30 para as 19h do mesmo dia, terá tido alguma adesão dos estudantes.
Após as várias notícias visando o seu docente, que tem leccionado estas duas semanas, foi marcado outro encontro para esta terça-feira entre os responsáveis do departamento, dirigido por Gonçalo Pescada, e os alunos. Questionada esta terça-feira pelo PÚBLICO sobre os moldes desse diálogo que a reitoria disse manter com os alunos, a comunicação da universidade respondeu que não pretende "acrescentar qualquer informação adicional sobre o assunto".
A instituição de ensino acrescentara já esta semana que, não tendo existido queixas formais até ao final da semana passada, não houve também “até ao momento [novas] denúncias”. A reitora Hermínia Vasconcelos Vilar estará então em processo de avaliação da posição do professor em causa na universidade.
O PÚBLICO questionou na segunda-feira a instituição após o noticiário que visou nos últimos dias o professor convidado do seu Departamento de Música, confirmando o motivo da saída deste do Hot Clube no ano lectivo de 2021/2022 e dando conta de testemunhos de antigas alunas, estudantes da escola de música sita no mesmo edifício que a escola do Hot Clube, como foi o caso no PÚBLICO, e das declarações do do então director pedagógico da escola do Hot, Bruno Santos, ao semanário Expresso.
No mesmo dia, e num comunicado publicado na rede social Facebook, a AJL informava que se tinha reunido com o visado e que foram “prestados todos os esclarecimentos solicitados”, sendo que “a maioria deliberou pela não destituição do presidente”. O director da AJL é o segundo nome mais visado pelas queixas organizadas informalmente pela rede criada nas últimas duas semanas, que brotou da acusação de violação da DJ Liliana Cunha contra o antigo professor do Hot Clube João Pedro Coelho (a música nunca foi aluna do pianista, que nega as acusações, e conheceu-o fora do meio escolar) e acendeu um rastilho de denúncias sobre o assédio no meio musical português, com foco no jazz.
As queixas feitas ao colectivo são espelhadas por depoimentos dados a vários jornais e demonstram, ao contrário do que consta do comunicado da AJL, que os actos apontados ao professor em causa não se resumem a “publicações individuais nas redes sociais”. O PÚBLICO consultou trocas de mensagens entre o músico e então docente do Hot Clube e suas alunas ou estudantes da Academia Nacional Superior de Orquestra – Metropolitana, que funciona no mesmo edifício.
A Escola de Jazz de Leiria foi fundada em 2023, tendo o professor e músico como director pedagógico. Em 2019, o professor é convidado a leccionar no Departamento de Música da Universidade de Évora e, segundo a instituição, não terá em 2022 dado conhecimento da queixa que levou ao seu afastamento da conceituada escola de jazz lisboeta. O PÚBLICO sabe, por fontes próximas da recolha de denúncias e ex-alunos do Hot Clube, que as queixas já recolhidas são uma amostra de um número maior de casos de assédio insistente, por mensagens, a alunas das duas instituições lisboetas, bem como que existe descontentamento com a gestão do processo entre a comunidade estudantil tanto de Évora quanto de Leiria.
A direcção da AJL “condena, veementemente, os alegados comportamentos denunciados na comunicação social e reitera que é nos tribunais que tais actos devem ser julgados”, escreveu no comunicado de segunda-feira. Promete encaminhar “de imediato, para a justiça, todos os casos de assédio ou outros de que tome conhecimento”, embora reitere que para já não haja qualquer denúncia a registar.
Na semana passada, o professor e vibrafonista Paulo Santo, também docente da Escola Luiz Villa Boas — Hot Clube de Portugal, comunicou via Instagram que abandonava o seu cargo de vogal da direcção da AJL. “Não me revendo na posição que a Associação Jazz de Leiria adoptou, sinto-me obrigado a cessar todas as minhas funções para com esta entidade”, explicou, assim abandonando também o seu posto de músico da respectiva orquestra e de docente da escola.
O PÚBLICO questionou o professor em causa, que remetera para depois do fim-de-semana quaisquer esclarecimentos, e não obteve resposta até à data de publicação desta notícia.