Incêndio de banca de apoiante de Mondlane leva a confrontos com a polícia no Chimoio

Pelo menos uma pessoa morreu nos protestos contra a polícia de apoiantes do candidato presidencial da oposição, depois de a loja de Paulino White ter alegadamente sido incendiada por agentes.

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Cartaz de Daniel Chapo, candidato presidencial da Frelimo, em Chimoio JOSÉ COELHO / LUSA
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Uma pessoa morreu nos confrontos violentos desta segunda-feira entre apoiantes de Venâncio Mondlane e do Podemos com a polícia na cidade de Chimoio, a capital da província de Manica, no centro de Moçambique. A informação foi avançada ao PÚBLICO pelo coordenador da Plataforma Eleitoral Decide, Wilker Dias.

De acordo com o site moçambicano Integrity Magazine, tudo começou com um incêndio na banca comercial de Paulino White, um dos principais apoiantes e mobilizadores do candidato presidencial da oposição na cidade. De acordo com relatos de testemunhas, desconhecidos que se faziam transportar numa viatura Mahindra com símbolos da Polícia da República de Moçambique terão deitado fogo ao estabelecimento comercial, depois de expulsarem o segurança e os outros seguranças das bancas adjacentes no mercado 38, em Chimoio.

“Para além de terem expulsado o meu guarda, destruíram câmaras de segurança e puseram fogo, queimaram tudo que estava lá dentro, não tendo sobrado nada para contar a história”, contou Paulino White, citado pelo referido site. O apoiante de Mondlane já fez queixa na polícia, a quem acusa de estar por trás do incidente. E justifica-se, naquela altura da madrugada, os agentes da Unidade de Intervenção Rápida que vigiam o mercado tinham-se ausentado, algo que só podia acontecer com ordens superiores.

A banca de White é um centro de difusão da mensagem de Mondlane, onde quem não tem outra forma, pode assistir em directo às transmissões que o candidato presidencial faz através da sua página de Facebook. Há quem lhe atribua um papel fundamental na vitória do candidato da oposição em Chimoio.

O fogo posto contribuiu para exaltar os ânimos e desatar a fúria dos jovens opositores que queimaram pneus, bloquearam ruas e entraram em confronto com a polícia que, como é habitual desde que se desataram os protestos a 24 de Outubro, depois da Comissão Nacional de Eleições ter dado a vitória à Frelimo, o partido no poder, e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo, nas eleições de 9 de Outubro, reagiu com gás lacrimogéneo e munições reais.

Em resultado disso, Tobias Vitorino, chefe da praça de transportes de passageiros Chimoio-Macate, foi atingido por dois tiros na cabeça. De acordo com o relato do site noticioso, ainda ferido foi transportado para o hospital do bairro 7 de Abril, tendo sido depois transferido para o hospital provincial do Chimoio, onde acabaria por morrer no bloco operatório, quando os médicos tentavam extrair os projécteis.

Depois dos três dias da quarta fase dos protestos convocada por Mondlane ter terminado na sexta-feira, e que já resultaram em quase meia centena de mortos, e após um fim-de-semana em que os protestos passaram a ser sonoros, com panelas, apitos e vuvuzelas, nos habituais panelaços que também saíram à rua, numa espécie de Carnaval de protesto, a capital provincial de Manica foi o único local onde se lamentou mais uma morte esta segunda-feira em Moçambique.

Foi também o dia em que Ossufo Momade, o presidente demissionário da Renamo, o partido que perdeu o seu estatuto de líder da oposição nestas eleições, rompeu o silêncio para pedir a “anulação imediata” das eleições de 9 de Outubro e a criação de um “governo provisório” até à realização desse escrutínio.

"Estamos aqui para solicitar a anulação imediata deste processo eleitoral. Aos olhos de todos e da comunidade internacional somos unânimes em afirmar que o mesmo não reflectiu a vontade legítima do povo por vários motivos que são por todos nós conhecidos", disse Momade, em conferência de impressa, citado pela Lusa.

Momade garantiu que a exigência de anulação das eleições por parte da Renamo não é uma tentativa do seu partido para reverter o seu mau resultado nas urnas: "A nossa exigência de anulação não é uma acção leviana ou motivada por interesses pessoais ou partidários.” O também candidato presidencial que, segundo os resultados oficiais da Comissão Nacional de Eleições ficou em terceiro lugar com apenas 5,81% dos votos, garantiu que, “pelo contrário, é um apelo à ética, à justiça e à verdade”.

Entretanto, o Presidente cessante, Filipe Nyusi, recebeu algumas formações políticas para discutir a tensão pós-eleitoral e aproveitou a oportunidade para afirmar que “não há motivos, não há razões para moçambicanos morrerem, assim como não há motivos e nem razões para que se desfaça, se destrua, o país construído com sacrifício por todos nós”.

O chefe de Estado que sempre se referiu à crise pós-eleitoral para atacar os manifestantes como vândalos, sem nunca se questionar sobre a razão mais funda que motiva os manifestantes a protestarem nas ruas, voltou a não se referir à repressão da polícia e ao uso de munições verdadeiras contra a população, preferindo limpar as suas mãos: “Não quero dizer quem tem razão, quem não tem razão, mas o que não há razão é que ninguém pode morrer.”

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