Protestos contra a confirmação da vitória do Sonho Georgiano

Um político da oposição atirou tinta preta contra o presidente da comissão eleitoral durante a sessão de certificação dos resultados das legislativas do mês passado.

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Contestação aos resultados das eleições em Tbilissi DAVID MDZINARISHVILI / EPA
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A confirmação da vitória do partido Sonho Georgiano nas eleições legislativas este sábado foi interrompida por um protesto da oposição que continua a não reconhecer o triunfo do partido, acusando-o de manipular as eleições.

David Kirtadze, membro do partido Movimento Nacional Unido (MNU) da oposição, interrompeu a certificação oficial dos resultados e atirou tinta negra ao presidente da comissão eleitoral, Giorgi Kalandarishvili, segundo mostraram as imagens captadas pelas câmaras de televisão.

Kalandarishvili sofreu uma lesão no olho e a sessão teve de ser interrompida. Quando foi retomada, o resultado das eleições foi oficialmente confirmado.

Nas eleições de 26 de Outubro, o Sonho Georgiano recebeu 53,9%, alcançando 89 lugares no Parlamento, num total de 150, permitindo-lhe governar com maioria absoluta.

A oposição pró-europeia acredita que os resultados foram falseados pelo partido que está no poder há já 12 anos seguidos e várias equipas de observadores internacionais detectaram irregularidades, embora tenham ficado aquém de declarar que as eleições não tenham sido livres e justas. Os EUA e a União Europeia pediram que fosse aberta uma investigação imparcial para apurar potenciais manipulações.

Os partidos da oposição citam as sondagens feitas à boca da urna em todo o país que atribuíam uma maioria sólida às coligações que se opõem ao Sonho Georgiano.

A empresa de sondagens Edison Research, dos EUA, que trabalha nas eleições georgianas há mais de uma década, concluiu que as diferenças entre as projecções e os resultados oficiais “não podem ser explicadas pela variação normal”, apontando a possibilidade de ter existido “manipulação do voto ao nível local”, segundo o Guardian.

Nos dias que se seguiram às eleições foram convocadas manifestações com dezenas de milhares de pessoas que contestavam os resultados. A Presidente Salome Zourabichvili, crítica do Sonho Georgiano, disse que não pretende dar posse a um governo do partido por acreditar que as eleições não foram justas.

Apesar de inicialmente ter adoptado uma postura de aproximação à UE, nos últimos tempos o Sonho Georgiano tem apresentado sinais que fazem muitos observadores temer pelo futuro da democracia no país caucasiano. Na Primavera, o Governo fez aprovar uma muito polémica lei dos agentes estrangeiros que obriga qualquer organização não-governamental que receba mais de 20% de financiamento de fontes externas a integrar uma lista – e, com isso, temem muitos activistas, ver as suas actividades criminalizadas e perseguidas.

A lei foi aprovada apesar de uma grande contestação social, da oposição da Presidente e da pressão dos EUA e da UE, por considerarem que a medida põe em causa as liberdades civis. Em resultado, o apoio financeiro internacional foi cortado e o processo de adesão da Geórgia à UE ficou suspenso.

Durante a campanha, vários dirigentes do Sonho Georgiano, incluindo o seu fundador, o multimilionário Bidzina Ivanishvili, ameaçaram ilegalizar todos os partidos da oposição, acusando-os de atentar contra a ordem constitucional.

Crise na Abecásia

Entretanto, este sábado o presidente da província separatista georgiana da Abecásia, Aslan Bzhania, prometeu demitir-se caso os manifestantes concordassem em abandonar o edifício do parlamento local que actualmente ocupam.

A região separatista apoiada por Moscovo vive tempos de enorme instabilidade desde que os seus líderes apresentaram uma legislação que, de acordo com os seus críticos, irá facilitar a aquisição por cidadãos russos de propriedades na estância balnear no Mar Negro, aumentando os custos da habitação para a população local.

Apesar da promessa de Bzhania, os manifestantes recusam-se a abandonar o parlamento na capital da região, Sukhumi, que ocupam desde sexta-feira.

Moscovo disse estar a acompanhar de perto a situação na Abecásia e emitiu um aviso para que os cidadãos russos evitem viajar para o território por razões de segurança.

Desde 2008 que a Rússia reconhece a soberania da Abecásia e da Ossétia do Sul, duas regiões que legalmente pertencem à Geórgia, mas que são administradas por autoridades apoiadas pelo Kremlin. Desde a curta guerra no Verão de 2008 que a Rússia mantém um contingente militar nas duas regiões georgianas.

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