Tailândia
Esta cidade tailandesa adorava os seus macacos — agora prendem-nos em jaulas
Durante a pandemia de covid-19, os macacos deixaram de ser alimentados pelos moradores de Lopburi e tornaram-se agressivos. Uma campanha governamental capturou e esterelizou 1600 macacos.
Os gangues de macacos saqueadores já não terão de enfrentar as fisgas dos moradores na histórica cidade tailandesa de Lopburi. Os animais selvagens foram capturados e esterilizados depois de se terem tornado violentos nos últimos quatro anos.
Antes de a pandemia de covid-19 ter fechado os moradores de Lopburi em casa, alguns dos seus 58 mil habitantes alimentavam casualmente os três mil macacos de cauda longa que viviam ao seu lado. Até organizavam um banquete anual com frutas para eles, atraindo turistas à “Cidade dos Macacos”, a três horas de carro a norte de Banguecoque.
Os macacos, que se acredita trazerem boa sorte, também habitam as florestas próximas e há muito que fazem parte da história da cidade.
Mas depois de Lopburi ter saído do confinamento em meados de 2022, os seus residentes descobriram que os macacos, sem pessoas a alimentá-los, se tinham tornado desordeiros.
Bandos de macacos tinham tomado conta de edifícios, confrontando frequentemente os residentes. Envolviam-se em rixas, que chocavam os habitantes locais. Alguns moradores voltaram a enclausurar-se dentro de casa.
Crianças pequenas, mulheres idosas e até polícias andavam com fisgas para tentar afugentar os macacos.
Os jornalistas da Reuters fizeram meia dúzia de viagens a Lopburi este ano, incluindo durante o auge da agressão dos macacos no início de 2024.
A partir de Fevereiro, com o aumento das queixas, as autoridades armadas com fisgas e armadilhas entraram em acção para capturar os primatas que tinham causado estragos e até assustaram alguns residentes, levando-os a colocar barras de metal nas suas casas para se protegerem.
“Temos de nos enclausurar dentro de casa, não temos liberdade nem nas nossas casas”, diz Jirat Buapromart, 54 anos.“Eles estão prontos a roubar-nos tudo o que puderem.”
Em Maio, as autoridades intensificaram a luta contra os macacos, incluindo o reforço dos esforços de esterilização iniciados durante a pandemia.
Cinco meses após o início da campanha do Governo, o pandemónio de primatas de Lopburi está finalmente sob controlo, com cerca de 1600 macacos em cativeiro.
Alguns grupos de defesa dos direitos dos animais concordam com as autoridades sobre castrar os macacos, mas não com colocá-los em jaulas.
“O nosso objectivo é esterilizar todos os macacos, 100% deles”, disse em Setembro o veterinário local Patarapol Maneeorn, do departamento governamental de vida selvagem. Os macacos serão depois transferidos para uma área designada onde serão esterilizados, disse ele.
“Os macacos estão a sofrer porque estão numa jaula que não foi concebida para eles”, disse Edwin Wiek, fundador da Wildlife Friends Foundation Thailand. “Não é adequada para eles”.
Wiek pressionou o governo para aumentar o financiamento do Departamento de Parques Nacionais, Vida Selvagem e Conservação de Plantas, que tem pessoal treinado em cuidados e tratamento de animais.
Para alguns residentes, o regresso da calma às ruas de Lopburi é um alívio. “As coisas tornaram-se um pouco mais fáceis porque a maior parte dos macacos foram capturados. A vida é mais fácil”, disse o relojoeiro Chalit Nithiwkram, 64 anos. O negócio também está a melhorar, disse ele: “Se houvesse macacos, nenhum cliente se atreveria a vir aqui”.
Para outros, Lopburi e os seus macacos são inseparáveis. “Os macacos fazem parte da identidade de Lopburi”, diz Supaporn Reanprayoorn, 38 anos, que gere uma loja perto de um templo onde os macacos se juntam frequentemente. Por vezes, dá-lhes petiscos.
“Deixem os turistas tirarem fotografias com eles — apenas cem ou dois.”