Tiago Nacarato e Cainã Cavalcante lançam disco com clássicos brasileiros

Beira-Mar será lançado na quarta-feira. O disco vai de Noel Rosa a Marcelo Camelo, passando por Chico Buarque e Caetano e uma canção com poesia de Florbela Espanca.

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Tiago Nacarato (E) e Cainã Cavalcante durante a gravação de Beira-Mar Divulgação
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A parceria entre Tiago Nacarato e Cainã Cavalcante, ambos de 34 anos, surgiu em 2023, quando Nacarato se apresentou com o violonista brasileiro no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Além de tocar juntos, formaram uma amizade que se manifesta na música. Eles lançam, nesta quarta-feira (13/11), o disco Beira-Mar.

Nascido no Porto, filho de pais brasileiros, Nacarato é conhecido por entoar canções do Brasil, apesar de já ter experimentado outros gêneros musicais. A carreira dele decolou depois de uma participação na versão portuguesa do programa The Voice, em que chegou à semifinal, em 2017, cantando com sotaque brasileiro músicas da Bossa Nova.

O cearense Cavalcante, que tem como padrinho de batismo Patativa do Assaré, é considerado um virtuoso do violão. Teve seu primeiro reconhecimento como músico aos 10 anos de idade, ao ficar em primeiro lugar no IV Concurso Nacional de Violão Musicalis. Ele acompanha músicos como Fagner, José Paulo Becker, o pianista Tiago Almeida, entre outros. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelos dois artistas ao PÚBLICO Brasil.

Onde foi gravado o disco?

Nacarato: Em em Vila Nova de Gaia, no Groove Wood Studio, com o enorme Serafim Borges.

Cainã: A gravação ocorreu em junho. É uma coisa recente.

E como foi que surgiu a ideia?

Nacarato: Surgiu muito de repente. Quem teve a ideia foi o Miguel Camelo, meu manager. O Cainã estava vindo para Portugal fazer uma turnê, e nós já tínhamos tocado juntos num show que fiz em São Paulo, no Sesc Pinheiros. O Camilo disse: "Olha, o Cainã está vindo, por que não gravam qualquer coisa?" Mandei uma mensagem para o Cainã e ele, de cara, disse que sim. Então, tivemos um dia de ensaio e um dia de gravação. Gravamos oito músicas em um dia no estúdio e filmamos. Ficou um trabalho espontâneo, verdadeiro, muito bonito.

Cainã: Eu faria uma passagem rápida por Portugal para um concerto em Lisboa. Tinha um gap de dias e fui ao Porto. Foram dias maravilhosos. Nós tínhamos tocado em São Paulo, e foi uma coisa de a gente se encontrar no teatro e ver que dava certo, porque tocar junto é muito mais do que estar no mesmo lugar tocando.

E isso significa o quê?

Cainã: Isso vai além da coisa mecânica que fazemos ao longo da vida, que é eu saber onde colocar a mão e o Tiago, onde colocar a voz. Sabemos isso como músicos. Agora, conectar-se, não é sempre que acontece. Com o Tiago foi de cara. Creio que isso acontece quando as pessoas estão dispostas. Quando nos encontramos, fizemos dessa maneira, com muito respeito, carinho e admiração um pelo outro. Encontramos esse ponto do infinito que nos liga, que é o nosso amor pelo violão, o nosso amor pela canção, pela música brasileira, pela música do mundo, porque, no disco, gravamos oito faixas, mas, no ensaio, passamos o dia tocando coisas que não entraram no disco.

Nacarato: Esse encontro com Cainã é especial, porque compreendemos a música da mesma forma. Ou seja, ouvimos e vibramos com as mesmas coisas.

Como escolheram as músicas?

Nacarato: Eu já tinha meio que escolhido algumas, pois tinha esse projeto no baú há muito tempo. Mandei uma proposta de repertório para o Cainã, e ele respondeu com um grande sim. No ensaio, tiramos umas e colocamos outras.

O disco tem clássicos da música brasileira?

Cainã: Gravamos grandes clássicos, músicas que amamos de paixão, que ficam muito bonitas na voz do Tiago, que funcionam bem no violão. Por sorte, a sensibilidade dele nos levou para um repertório que traduzia esse encontro. Mas também gravamos uma música portuguesa muito linda. O Tiago me apresentou uma música do João Gil.

A que tem a poesia da Florbela Espanca, Perdidamente?

Cainã: Nossa, que música linda. Eu me apaixonei completamente por ela. E fizemos uma gravação nossa de voz e violão, uma coisa supersingela.

Nacarato: O Cainã disse que tinha vontade de tocar qualquer coisa portuguesa, e isto de noite, já depois de termos terminado o ensaio. Aí eu apresentei três possibilidades. Ele se apaixonou pela música do João Gil e, de manhã, fez aquele arranjo, que é uma obra de arte.

Cainã: É que tem muita coisa que é do momento, que é improvisada mesmo. A música Perdidamente é a prova disso. É muito profunda. Eu amo essa nossa gravação. Conhecia algumas poesias da Florbela Espanca porque, no Brasil, estou tendo a oportunidade de colaborar com o Raimundo Fagner, que já gravou música com letras dela. Para mim, foi uma surpresa muito grande. A vida inteira ouvindo a poesia maravilhosa da Florbela Espanca e, de repente, esse nosso trabalho ter uma música com poesia dela foi um presentaço.

Vocês tocam Lupicínio, Noel. Esses nomes, de gerações antigas, correm risco de esquecimento?

Nacarato: Creio que esse risco sempre existe. Se não houver agentes culturais que cultivem a música já feita, o risco existe. Nós temos esse papel. No meu caso, é nestas canções que eu me sinto em casa, porque ouço essas canções desde criança e tenho muita afinidade emocional com esse tipo de escrita, com as possibilidades harmônicas de cada uma desses temas, com as melodias. Para mim, jamais cairá no esquecimento.

Cainã: Acho que, hoje, se a gente faz o que faz, é porque essas pessoas estavam aí. Não estamos inventando nada, estamos dando continuidade a um legado, a uma história, a um jeito de fazer música. O Brasil é um país muito grande, muito diverso. Existe uma mídia esmagadora, com dinheiro, que realmente toma conta dos veículos de difusão em massa de música. Acho que o que a gente faz comunica com um público determinado, usando da nossa linguagem. Alguém pode gostar da Anitta, do João Gil e do Noel Rosa. Eu venho da periferia de Fortaleza. As pessoas na minha rua não sabiam quem era o Miles Davis ou quem é o Tom Jobim, e eu tive o privilégio de ter o acesso à arte deles. Então, de alguma forma, eu colaborava para que as pessoas soubessem disso. Na realidade, quero alcançar o máximo de pessoas que puder, seja na periferia, seja na turma que escuta o funk e naquela que escuta o piseiro ou a Beyoncé.

Vocês dois compõem. Por que não gravaram músicas próprias?

Cainã: Porque, nesse momento, não tinha tempo. Foram dois dias para nos encontrarmos e fazermos algo. Quem sabe esse pode ser o primeiro passo e o segundo, um disco de canções inéditas.

Nacarato: Sobretudo, porque tivemos um tempo escasso para ficarmos confortáveis no ato de nos comunicarmos com a música. É preciso conhecer na íntegra as canções para podermos brincar e surfar na nossa onda, que é a onda do encontro musical.

Se pudessem escolher uma música do outro para cantar, quais escolheriam?

Cainã: Estamos neste desafio agora, para a turnê. Tenho um trabalho muito mais como instrumentista do que como compositor, apesar de ter algumas canções. Creio que esse desafio que você lançou é um desafio que a gente se lançou também. Ainda estamos nos provocando sobre isso.

Quando começa a turnê desse disco e como será?

Nacarato: O objetivo deste disco é correr o mundo. Temos programada uma turnê no Brasil em 2025 e estamos pensando em fazer por Portugal. Mas queremos ir mais longe. Estamos negociando Londres. O Cainã fez uma turnê incrível pela Espanha e vai arranjar esses contatos. E o objetivo é o Japão também.

Cainã: Temos muito show para fazer pela Europa, pelo Brasil. O Tiago tem um público lindo no Brasil, que acompanha os shows dele. Então, vamos unir forças para, em 2025, circular pelo Brasil e pela Europa.

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