Trump telefonou a Putin e disse-lhe para não intensificar a guerra na Ucrânia

Os dois líderes discutiram o objectivo da paz no continente europeu e Trump expressou interesse em conversas subsequentes para discutir “a resolução da guerra da Ucrânia em breve”.

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Encontro entre Trump e Putin na Finlândia, em 2018 KEVIN LAMARQUE / REUTERS
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O recém-eleito Presidente dos Estados Unidos conversou ao telefone com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, na passada quinta-feira, a primeira conversa telefónica entre os dois líderes desde a reeleição de Trump. Durante a chamada, que fez a partir do seu resort na Florida, Trump aconselhou o Presidente russo a não intensificar a guerra na Ucrânia e lembrou a considerável presença militar de Washington na Europa.

Segundo as várias fontes ouvidas pelo The Washington Post, que falaram sob a condição de anonimato, os dois discutiram o objectivo da paz no continente europeu e Trump expressou interesse em conversas subsequentes para discutir "a resolução da guerra da Ucrânia em breve".

Durante a campanha presidencial, Trump disse que colocaria um fim imediato à guerra na Ucrânia, embora não tenha dado pormenores sobre a forma como tencionava fazê-lo. Em privado, deu a entender que apoiaria um acordo em que a Rússia mantivesse algum território capturado e, durante o telefonema, levantou brevemente esta questão, disseram fontes familiarizadas com o assunto.

A chamada surge numa altura de incerteza generalizada sobre a forma como Trump irá redefinir o tabuleiro de xadrez diplomático mundial de aliados e adversários dos EUA após a sua vitória decisiva na terça-feira. Trump disse à NBC na quinta-feira que tinha falado com cerca de 70 líderes mundiais desde a eleição, incluindo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky – uma chamada à qual Elon Musk também se juntou.

Os primeiros contactos de Trump com os líderes mundiais não estão a ser realizados com o apoio do Departamento de Estado e de intérpretes do governo dos EUA. A equipa de transição de Trump ainda não assinou um acordo com a Administração de Serviços Gerais, um procedimento normal para transições presidenciais. Trump e os seus assessores desconfiam dos funcionários públicos, na sequência de divulgações de transcrições dos telefonemas presidenciais durante o seu primeiro mandato. "Eles estão a telefonar directamente [a Trump]", disse uma das pessoas familiarizadas com as chamadas.

"O Presidente Trump ganhou uma eleição histórica de forma decisiva e os líderes de todo o mundo sabem que a América vai regressar à proeminência na cena mundial. É por isso que os líderes iniciaram o processo de desenvolvimento de relações mais fortes com o 45.º e 47.º Presidente, porque ele representa a paz e a estabilidade globais", disse Steven Cheung, director de comunicação de Trump, num email.

Moscovo reagiu inicialmente com frieza à vitória de Trump, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a dizer aos jornalistas que Putin não tinha planos para telefonar ao novo Presidente. Trata-se de "um país hostil que está directa e indirectamente envolvido numa guerra contra o nosso Estado", segundo palavras de Peskov. Mas, na quinta-feira, Putin felicitou publicamente Trump pela sua vitória, elogiando a sua reacção "viril" à tentativa de assassinato na Pensilvânia, e disse que estava "pronto" para falar com Trump. Peskov não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário.

No domingo, um jornalista do canal de televisão estatal russo Rossiya, Pavel Zarubin, publicou uma entrevista com Peskov, na qual o porta-voz do Kremlin afirmava que os sinais de melhoria das relações sob a presidência de Trump eram "positivos".

"Trump falou durante a sua campanha sobre como ele vê tudo através de acordos, que pode fazer um acordo que levará todos à paz. Pelo menos ele fala de paz, não de confrontos e do desejo de infligir uma derrota estratégica à Rússia", disse Peskov.

Enquanto a estratégia de Biden e Harris em relação à Ucrânia era previsível, Peskov acrescentou: "Trump é menos previsível, e também é pouco previsível se Trump vai manter as declarações que fez durante a campanha eleitoral. Vamos esperar para ver."

Um antigo funcionário dos EUA que estava familiarizado com a chamada com Putin disse que Trump provavelmente não quer entrar no cargo com uma nova crise na Ucrânia, "dando-lhe incentivo para querer evitar que a guerra se agrave".

O telefonema de Trump com Zelensky, na quarta-feira, foi amigável, mas ocorreu numa altura em que os funcionários de Kiev estão preocupados com o que uma presidência de Trump pode significar para os esforços de guerra.

A Ucrânia precisa de milhares de milhões de dólares de apoio económico e militar todos os meses para continuar a defender-se do seu inimigo, maior e mais bem equipado, que fez avanços militares significativos nos últimos meses. Trump queixou-se do custo da guerra para os contribuintes norte-americanos e, em privado, referiu que a Ucrânia poderá ter de ceder algum do seu território, como a Crimeia, para obter a paz.


Exclusivo PÚBLICO / The Washington Post

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