EUA acusam Irão de planear assassínio de Trump e de jornalista no exílio
Um afegão e dois norte-americanos foram contratados para assassinar a jornalista no exílio Masih Alinejad. O suposto líder do plano disse que também lhe foi proposto o assassínio de Donald Trump.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América acusou um afegão residente no Irão, com conhecidas ligações aos Guardas da Revolução Islâmica, de ter contratado dois norte-americanos a mando do Governo iraniano para assassinarem a jornalista iraniana no exílio Masih Alinejad. No decurso das investigações, o suposto líder operacional do plano, Farhad Shakeri, afirmou também que lhe foi proposta a elaboração de um plano, em Setembro, com vista ao assassínio do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
Shakeri, de 51 anos, encontra-se em parte incerta no Irão. Segundo o despacho de acusação, as informações em causa foram passadas ao FBI pelo próprio suspeito e cruzadas com operações de vigilância aos outros dois acusados, ambos detidos em Nova Iorque — Carlisle Rivera, 49 anos, de Brooklyn; e Jonathon Loadholt, 36 anos, de Staten Island.
Segundo o FBI e o Departamento de Justiça, Rivera é um antigo presidiário que cumpriu pena numa cadeia norte-americana ao mesmo tempo que Shakeri, um afegão que viveu nos EUA desde criança e até à sua deportação, em 2008, após o cumprimento de uma pena de 14 anos de prisão por roubo.
Alinejad promete "luta contra tirania"
Masih Alinejad, uma jornalista iraniana que fugiu do seu país em 2009, e que tem dupla nacionalidade iraniana e norte-americana, já foi alvo de pelo menos três tentativas de assassínio por parte de pessoas ligadas às autoridades do Irão, segundo o Departamento de Justiça dos EUA.
A jornalista, crítica do regime iraniano e também da política externa norte-americana, soube do plano mais recente em Outubro. Na altura, os procuradores dos EUA formularam acusações contra o general iraniano Ruholla Bazghandi — um responsável de alta patente nos Guardas da Revolução — e três outros homens, todos residentes no Irão. A identidade de Shakeri, Carlisle e Loadholt só foram conhecidas publicamente na sexta-feira.
Na rede social X, a jornalista — que, segundo a própria, já foi obrigada a mudar de residência 21 vezes desde que chegou aos EUA — congratulou-se com as detenções e disse estar feliz por saber que as autoridades norte-americanas estão a trabalhar para a proteger.
"Vim para a América para exercer o meu direito à liberdade de expressão. Não quero morrer, quero lutar contra a tirania e mereço estar em segurança. Obrigado às forças de segurança por me protegerem, mas peço ao Governo dos EUA que proteja a segurança nacional da América", disse Alinejad.
Numa reacção a partir de Terrão, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmail Baghaei, rejeitou qualquer envolvimento do Irão nos planos denunciados pelos EUA, e acusou Israel de estar por trás do caso.
"A repetição desta acusação, nesta altura, é um plano nojento dos círculos sionistas e anti-Irão para prejudicarem ainda mais as relações entre o Irão e os EUA", disse Baghei, citado pela agência Associated Press.
Plano "credível" contra Trump
Ao mesmo tempo, o FBI e o Departamento de Justiça consideraram "credível" a informação, avançada por Shakeri, de que o general iraniano Bazghandi lhe encomendou, em Setembro, um plano para assassinar Donald Trump.
No início de 2020, à entrada do último ano do primeiro mandato de Trump, os EUA assassinaram, num ataque com um drone, o general iraniano Qassem Soleimani, então o comandante da Força al-Quds — a unidade de elite dos Guardas da Revolução. Logo nessa altura, o Governo iraniano jurou vingar-se do ataque norte-americano.
Shakeri, o principal suspeito no caso revelado na sexta-feira, disse que se recusou a organizar um plano para assassinar Trump porque teria de ser executado em apenas sete dias. Segundo o despacho de acusação, o afegão disse também que o seu interlocutor no Governo iraniano não insistiu no pedido, sugerindo que haveria uma nova tentativa depois da eleição presidencial, na expectativa de que Trump perdesse e ficasse mais exposto em termos de segurança.
O Presidente eleito dos EUA escapou a uma tentativa de assassínio a 13 de Julho, durante um comício no estado da Pensilvânia. O responsável pelos disparos, o norte-americano Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, foi morto pela polícia e, até agora, não surgiram indícios de que estivesse envolvido directamente com entidades estrangeiras.
Dois meses depois, a 15 de Setembro, um homem natural da Carolina do Norte, Ryan Wesley Routh, terá tentado disparar contra Trump quando o então candidato do Partido Republicano jogava uma partida de golfe na Califórnia. O suspeito é um assumido crítico de Trump e foi detido durante uma fuga inicial à polícia.