Belíssimo este rosé de Tinta Amarela e de Valpaços, quem diria?

Diz o enólogo da Valle de Passos, Francisco Gonçalves, que a proposta era trabalhar as castas da região “de uma forma simples”. Pois, mas esse less is more requer muito conhecimento.

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A Valle de Passos renasce pelas mãos da Terras & Terroir, que lançou para já quatro referências, incluindo um rosé de Tinta Amarela (foto de arquivo) Rui Gaudêncio
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Quem diria que um rosé podia ser um belo cartão-de-visita para o projecto de vinhos da Terras & Terroir em Trás-os-Montes? Não é o único, mas esse foi o vinho que mais nos impressionou de entre as quatro referências Valle de Passos, lançadas recentemente pelo grupo.

Os astros alinharam-se e os donos da Pacheca (e de mais meia dúzia de projectos vínicos e de enoturismo — sempre —, espalhados por várias regiões) não só encontraram boas uvas, como encontraram “o mágico” — como lhe chama Álvaro Lopes, um dos sócios — que haveria de fazer com elas vinhos com sentido de lugar. Ali, em Valpaços. Francisco Gonçalves. Aí, não há novidades. Enólogo e produtor, Francisco é dos técnicos que melhor conhece os terroirs e as castas de Trás-os-Montes.

Vamos então às uvas. O grupo anunciou a compra da marca Valle de Passos no início de 2023, mas o seu projecto vitivinícola em Valpaços, onde já têm o Olive Nature Hotel & Spa, nascera antes. Depois de ter falhado a aquisição de vinhas aos anteriores donos da Valle de Passos, o seu caminho cruzou-se, em boa hora, com o de uma filha da terra, emigrada na Suíça e que estava com dificuldades em vender as uvas à cooperativa local. Foi nos seus 8 hectares de vinha — Touriga Nacional, Tinta Amarela e Tinta Roriz — que o projecto começou.

Enquanto prepara o solo de um antigo pinhal junto ao Olive Nature para aí plantar vinhas próprias, o grupo vai diversificando os terroirs onde compra uva. Tem já três fornecedores e um desses parceiros tem meio hectare de Tinta Amarela que permitirá, em futuras edições do rosé que aqui nos traz (de 2022, só há 600 garrafas), engarrafar mais litros. Sendo que em carteira estão outros potenciais fornecedores de Tinta Amarela, igualmente em dificuldades para escoar a sua produção — essa é também uma boa razão para lhe propormos este vinho.

O vinho nasceu em altitude (entre os 600 e os 700 metros) e tem um nariz fresco, a romã e a cereja, e uma boca que, oferecendo alguma complexidade, também é leve. É a acidez a trabalhar. Num rosé muito elegante e que tem uma estrutura invulgar, cortesia do estágio de cerca de quatro meses em barrica usada de 500 litros. Seco e gastronómico, nem lhe percebemos os 13,5% de álcool. Faz-nos salivar até.

Diz Francisco Gonçalves que a proposta era trabalhar as castas da região “de uma forma simples”. Pois, mas esse less is more requer muito conhecimento, que o digam os que tentam lidam com a Tinta Amarela — que, já agora, nos altos, se porta bem.

A Terras & Terroir começou por transformar 40 toneladas de uva em 2022 e este ano chegou às 70 toneladas de matéria-prima (50 mil litros). Tem vindo a vinificar na adega de Francisco Gonçalves, em Montalegre, mas já projecta o próprio centro de vinificação, junto ao seu hotel temático, para daqui a cerca de dois anos. Custará mais de 2 milhões de euros. Prova de que a aposta ali é séria.

Nome Valle de Passos Branco 2023

Produtor Terras & Terroir;

Castas Gouveio (60%), Viosinho (25%) e Arinto (15%)

Região Trás-os-Montes

Grau alcoólico 13%

Preço (euros) 8

Pontuação 92

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova É um dos quatro vinhos com que se estreia a nova vida da marca Valle de Passos, hoje nas mãos do grupo Terras & Terroir. As uvas são da zona de Carrazedo de Montenegro, de uma zona de solos graníticos, a cerca de 500 metros de altitude, e a vinificação é para já feita em Montalegre, na adega do parceiro e enólogo Francisco Gonçalves. É um branco de bica aberta, muito fresco e mineral, com um perfil mais sério, sem grandes exuberâncias. No nariz, é cítrico, com notas de maçã verde (ou pêra), muito mineral. Boca fresquíssima, mineral também, com uma acidez vibrante. Final seco, mas longo e saboroso. Boa estreia.

Nome Valle de Passos Rosé 2022

Produtor Terras & Terroir;

Castas Tinta Amarela

Região Trás-os-Montes

Grau alcoólico 13,5%

Preço (euros) 14 (PVP recomendado)

Pontuação 93

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Nascido em altitude (600 a 700 metros), tem um nariz fresco (romã, cereja) e uma boca com alguma complexidade, mas leve (é a acidez a trabalhar). Muito elegante, tem uma estrutura invulgar (estagiou quatro meses em barrica usada de 500 litros), é seco e gastronómico. Faz-nos salivar.

Nome Valle de Passos Tinto 2022

Produtor Terras & Terroir;

Castas Tinta Amarela (50%), Tinta Roriz (40%) e Touriga Nacional (10%)

Região Trás-os-Montes

Grau alcoólico 13,5%

Preço (euros) 8

Pontuação 91

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Tem uma cor rubi, ligeiramente aberta. É aromaticamente intenso, cheira a frutos silvestres, com o que nos parecem ser notas de ameixa e um ligeiro toque de frutos secos (nozes, por aí). Na boca, é frescura, tanino fino mas com garra e envolvência. Não tem aquela rusticidade que nos afasta de alguns vinhos transmontanos, é antes um tinto macio e equilibrado. E um dos ‘segredos’ é a extração contida na hora de vinificar, como explica Francisco Gonçalves, o enólogo que a Terras & Terroir escolheu para o seu projecto na região. Boa proposta para o produtor ‘pôr o pé na porta’.

Nome Valle de Passos Tinta Amarela 2022

Produtor Terras & Terroir;

Castas Tinta Amarela

Região Trás-os-Montes

Grau alcoólico 14%

Preço (euros) 14

Pontuação 92

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Mais cor no copo do que no Valle de Passos tinto e a mesma fruta silvestre, mas aqui com uma complexidade aromática maior — notas de especiaria e um lado fumado que marca o vinho sem nunca se sobrepor aos seus aromas primários. Gastronómico, com garra tânica, elegante. Sem a rusticidade de outros Tinta Amarela — o enólogo foi bem-sucedido na sua procura pelo equilíbrio entre álcool e tanino maduro —, na boca oferece concentração e leveza (muita frescura) ao mesmo tempo. Tem um final longo, mastigável quase. Muito bom este transmontano que também pode ser um vinho do mundo.

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