Trump presidente, a vitória da estratégia. Goste você ou não

Mesmo discordando veementemente do posicionamento ideológico e da postura do candidato, é preciso olhar com profissionalismo que a estratégia de comunicação do partido Republicano funcionou.

Ouça este artigo
00:00
03:57

Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Donald Trump ganhou e será o próximo presidente dos Estados Unidos. É fato consolidado por números. Mas o que gerou esta vitória?

Mesmo discordando veementemente do posicionamento ideológico e da postura do candidato, é preciso olhar com profissionalismo que a estratégia de comunicação do partido Republicano funcionou.

“Eleição é guerra. De vida ou morte. Muitas vezes vale tudo, guerra suja. Aliás, como todas as guerras. E, como em todas, aqui também há dois lados: o dos ganhadores e dos perdedores.” A frase de abertura do livro de Chico Santa Rita, Batalhas Eleitorais, de 2001, encaixa-se perfeitamente no cenário das eleições norte americanas.

Desde o princípio, viu-se um Trump discursando para todos. Não se fiou em segmentar sua fala em direção a este ou aquele grupo. Isto se fez com muita pesquisa e acompanhamento cirúrgico dos eleitores.

Apesar das idiossincrasias, dos deboches, da falta de respeito e das besteiras, nada foi julgado pelo seu eleitorado. Pelo contrário. Aproximou-os. A percepção deve ter sido de que Trump é como nós. Próximo. Ele até fritou batatas em uma rede de fast food.

Kamala Harris tentou. Foi guerreira. Via-se que estava exercendo o papel de candidata tal e qual pensaram para ela. Foi cool usando ténis; música de Beyoncé, participação de estrelas. Grandes doações. Foi, sem dúvida, uma excelente aluna. Mas vejo que sua campanha falhou.

Os democratas depositaram todas as fichas nos discursos segmentados. Na diversidade. Focaram no que chamamos de nichos. Esqueceram-se que, antes disso, é fulcral se comunicar com as massas. Kamala transmitiu a imagem de muita descontração, risos, braços soltos, em que mais parecia estar em um dos shows dos seus apoiadores.

Ela foi quatro anos Governo. O assunto da sua agenda deveria ter sido as realizações da administração de Joe Biden. Do que ainda estava para melhorar. Podem até ter cuidado disso, mas, no geral, a campanha pareceu ser de uma candidata outsider, liberal, focada em promover causas (de percepção da população) segmentadas. A agenda dela não funcionou. Entrou na espiral negativa de estar sempre respondendo a agenda positiva do Trump. Perdeu.

A campanha foi limpa? No meu entendimento, não. Um dos exemplos foi um dos homens mais ricos do mundo apoiando Trump publicamente e promovendo a “compra de votos”, sustentada pela legislação norte-americana.

Trump e sua equipe realizaram uma campanha bem feita. É um caso de sucesso do marketing político. O tom foi em ritmo de uma nota só. Suave e constante. Assertivo. Aqui tivemos o exemplo de um bom candidato. Trump obedeceu sua equipe, não saiu da linha da estratégia de seus marqueteiros.

O eleitor norte-americano, com seus desejos e problemas, era o objetivo. Não era a mulher, o homossexual, o negro, o índio, o pobre ou o rico. Seu objetivo foi falar com o cidadão. Ele conversou com o Seu João (Mr. John) e com a Dona Maria (Ms. Mary) sobre os problemas do dia a dia. Trump foi eleito assim, falando para todos, e sobre tudo. Com uma inteligência política sem margem para erro.

Mas o governo começou assim: o presidente eleito no palco, rodeado da supremacia da elite branca e endinheirada, provavelmente todos com seus vestidos, tailleurs, ternos e gravatas de grifes, residentes da 5th Avenue, em Manhattan.

Por isso, é inevitável lembrarmos de Goebbels quando olhamos para esse palco. Não foi só a Kamala Harris que perdeu essa eleição. Fomos nós.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários