Operação Pretoriano presa a 23 horas de vídeos. Interrogatórios adiados
Defesa da família Madureira exigiu que fossem analisadas todas as imagens de videovigilância captadas na Assembleia-Geral do FC Porto. Prisão preventiva do ex-líder da claque expira a 7 de Dezembro.
Praticamente a um mês do prazo-limite para a libertação de Fernando Madureira, o avanço da fase instrutória na Operação Pretoriano está dependente da visualização de 23 horas de filmagens da noite de 13 de Novembro, dia da Assembleia Geral (AG) do FC Porto que motivou o início do processo. A morosidade deste processo obrigou ao adiamento da inquirição dos restantes arguidos para uma data futura, algo que estreita ainda mais a janela temporal para que o tribunal chegue a uma decisão instrutória.
No dia 7 de Dezembro, cumprem-se precisamente dez meses desde que Fernando Madureira foi colocado em prisão preventiva: se a fase instrutória ainda não estiver decidida, o antigo líder será posto em liberdade — o que contraria a vontade do tribunal. De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, o dia de terça-feira foi exclusivamente dedicado à visualização das imagens das filas que se formaram antes da AG portista.
Na manhã desta quarta-feira, foi já possível analisar vídeos do processo de credenciação. Da parte da tarde, continua a visualização de imagens no interior do estádio. Falta ainda passar mais de metade do volume total de vídeos, num processo que se arrastará durante várias sessões. Os momentos de maior tensão, já no pavilhão Dragão Arena, ainda não foram revistos. Apenas no final do visionamento das 23 horas de filmagens, serão prestados quaisquer esclarecimentos por parte de Fernando e Sandra Madureira. Este processo poderá também ser demorado, dado o volume de informação analisado.
Os advogados dos restantes arguidos recusam falar numa estratégia dilatória da defesa da família Madureira, mas a verdade é que o tempo corre a favor do antigo líder dos Super Dragões. A visualização em tempo real das imagens de videovigilância foi pedida pela equipa liderada por Gonçalo Cerejeira Namora, que viu recusada a audição de todas as testemunhas arroladas. Neste grupo, contava-se o antigo presidente portista Jorge Nuno Pinto da Costa e os restantes membros da anterior administração do clube.
De acordo com Adélia Moreira, advogada do arguido José Pereira, até agora as imagens mostraram apenas um ambiente calmo e sem grande tensão. Milhares de sócios decidiram participar nesta reunião, uma afluência inédita na história das AG do clube, com as filas a estenderem-se durante centenas de metros. A chegada de André Villas-Boas, ovacionado pelos sócios presentes no local, foi outro dos momentos da noite visionados no TIC.
"São 23 horas de imagens e temos de as ver todas. É um direito que o senhor Fernando Madureira e a Sandra têm. O direito de verem as imagens, fazerem comentários e darem as explicações", explicou a advogada à comunicação social junto ao TIC.
O momento da análise ao ambiente que antecedeu a AG portista é de especial importância para Fernando Madureira, implicado na distribuição ilícita de pulseiras de acesso ao recinto por membros dos Super Dragões que não eram sócios do FC Porto. Depois da análise destas imagens, seguem-se os momentos no interior do Estádio do Dragão, numa primeira fase, e posterior passagem para o pavilhão Dragão Arena. Foi neste recinto que se deram os principais incidentes de violência, com um regime de intimidação e agressões contra sócios portistas.
A Operação Pretoriano investiga os incidentes de violência ocorridos na Assembleia Geral extraordinária do FC Porto de Novembro de 2023. O Ministério Público (MP) acusa o ex-líder dos Super Dragões, a mulher e vários outros elementos da claque Super Dragões de terem montado um clima de medo e intimidação que culminou em agressões a sócios portistas.
No total, foram constituídos 12 arguidos e todos respondem pelos mesmos 31 crimes: 19 de coacção agravada; sete de ofensa à integridade física no âmbito de espectáculo desportivo; três de atentado à liberdade de informação; um de instigação pública a um crime e outro de arremesso de objecto.
Em causa na AG portista estava a votação de uma revisão estatutária: em caso de aprovação, o poder de Pinto da Costa sairia reforçado. O MP diz que a direcção dos Super Dragões pretendia abafar a oposição a Pinto da Costa, nomeadamente o apoio a André Villas-Boas, que já se perfilava como possível candidato para as eleições de Abril passado — que acabaria por vencer.
Vários sócios portistas dizem que foram intimidados e obrigados a mostrar apoio a Pinto da Costa. Foram arremessadas garrafas e outros objectos. Em alguns destes casos, registaram-se mesmo agressões físicas.