Prémio Médicis para Julia Deck e o seu romance autobiográfico Ann d’Angleterre

Médicis para romance estrangeiro foi para o guatemalteco Eduardo Halfon, por Tarentule; Reiner Stach ganhou o prémio de ensaio por Kafka, Les années de jeunesse (volume 3).

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Julia Deck projectou neste romance a sua relação com a mãe, nascida em Inglaterra DR
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O romance Ann d'Angleterre, da escritora francesa Julia Deck, venceu o Prémio Médicis, anunciou o júri esta quarta-feira, no restaurante La Méditerranée, em Paris.

Com esta obra autobiográfica dedicada à sua mãe, Julia Deck, de 50 anos, venceu na terceira volta, por cinco votos contra quatro, que recaíram sobre Paris, musée du XXIe siècle, de Thomas Clerc, segundo a imprensa francesa.

O romance vencedor propõe-se reconstruir os laços entre uma mãe britânica brilhante e ousada e a sua única filha, uma mulher autodeclaradamente depressiva e sombria, prejudicada pelo divórcio dos pais.

A autora manifestou-se "muito emocionada", ao passo que o seu editor, da Seuil, Mathieu Larnody, confessou que o prémio lhes dá "muita emoção e prazer".

"É um livro muito importante na trajectória da Julia, que marca um desvio para a autobiografia, motivado por uma história pessoal densa, intensa e pesada. É também uma pessoa cujo trabalho sigo desde o seu primeiro livro, pelo que é um grande prazer poder acompanhar esta obra", afirmou, citado pela publicação LivresHebdo.

Com esta distinção, Julia Deck é a primeira autora da temporada literária francesa de 2024 a ganhar um dos grandes prémios do Outono, depois de terem sido conhecidos os vencedores do Goncourt (Kamel Daoud, com Houris) e do Femina, (Miguel Bonnefoy, com Le rêve du jaguar).

Ann d'Angleterre é o sétimo romance de Julia Deck, que, marcada pelo acidente vascular cerebral da sua mãe no Verão de 2022, decidiu contar a história desta mulher inglesa oriunda da classe trabalhadora, apaixonada pela literatura, e que acabou por subir na hierarquia social para se estabelecer em França.

A meio da sua história, a autora percebe uma estranheza e suspeita que a mãe lhe tenha escondido alguns segredos de família.

O Prémio Médicis para romance estrangeiro foi para Eduardo Halfon, por Tarentule, enquanto Reiner Stach ganhou o prémio de ensaio por Kafka, Les années de jeunesse (volume 3).

Nenhum dos livros vencedores está publicado em Portugal, embora o escritor guatemalteco Eduardo Halfon esteja editado por cá, com O anjo literário (Cavalo de Ferro), Luto e Canción (ambos na Dom Quixote).

No ano passado, o Prémio Médicis Étranger coube à escritora portuguesa Lídia Jorge, por Misericórdia, que venceu ex-aequo com Impossibles Adieux, da sul-coreana Han Kang, este ano galardoada com o Prémio Nobel da Literatura.

O vencedor do Prémio Médicis de Ensaio em 2023 foi Laure Murat, pela obra Proust, roman familial ("Proust, um romance familiar"), ao passo que o prémio Médicis da Francofonia distinguiu o canadiano Kevin Lambert, por Que notre joie remaine ("Que a Nossa Alegria Permaneça").