Pesquisas de Opinião: afinal, como portugueses e brasileiros avaliam seus governos?

Quando se analisa os números referentes a “razoável”, em Portugal, e “regular”, no Brasil, pode-se concluir que a situação não está boa para os governos dos dois países.

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Na semana passada, em 28 de outubro, foi publicada a pesquisa quantitativa do CESOP — Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica — para o PÚBLICO, a RTP e a Antena 1.

Desde o dia da publicação, vários colegas analisaram os números e o desempenho de cada questão. Muito se falou do crescimento da intenção de votos na coligação AD (PSD, CDS-PP e PPM), que aumentou dois pontos percentuais, somando 33%, e uma queda de quatro pontos do PS, para 29%.

Uma das questões inquiridas foi a avaliação do governo. Apresento-lhes o resultado desta questão das três últimas pesquisas:

As alterações foram sutis. Aparentemente, os números permanecem os mesmos, com exceção dos valores da coluna N/s e N/r, o que significa não sabem e não responderam. Esta posição caiu de 10% em maio para 5% em julho e, em outubro, chegou a 3%. Uma queda expressiva de sete pontos percentuais. Pode-se entender que esta movimentação é fruto do maior conhecimento da população sobre o governo.

No quesito “bom”, houve, também, crescimento, de 14% em maio para 20% em outubro. Mesmo que sutil, pode-se dizer que houve, sim, ruídos favoráveis que fizeram com que se tenha uma inclinação positiva da avaliação do governo.

Mas trago uma questão que, constantemente, tem me deixado intrigada: por que razão a maioria dos portugueses, 57%, considera o governo razoável? O que significa este “razoável” na cabeça da população. Como a pesquisa entende o que é esta avaliação “razoável”? E mais: porque este “razoável” não é esmiuçado pela imprensa?

De acordo com João António, responsável pelo levantamento do CESOP, os entrevistados responderam a uma questão de avaliação governativa e, no entendimento dele, não há como identificar avaliações razoáveis mais positivas ou negativas a partir dessas respostas.

Entretanto, João António faz uma ressalva. No mesmo questionário, na pergunta sobre a avaliação pessoal do primeiro-ministro, Luís Montenegro, 79% dos entrevistados, numa escala de zero a 20, deram nota de 12. Sendo assim, assume-se o razoável positivo.

Iracema Rezende e Alexandre Garcia são dois excelentes profissionais com quem tive o privilégio de trabalhar e para quem eu liguei, na semana passada, para falarmos sobre a questão da escala “razoável” e “regular” nas pesquisas quantitativas. Iracema disse-me que os institutos de pesquisa nos Estados Unidos da América e muitos no Brasil já utilizam nas pesquisas quantitativas terminologia de “regular positivo” e “regular negativo”.

Alexandre Garcia explica como fazer a conta a partir da proporção do número “razoável” face às escalas positivas e negativas. Segundo ele, pode-se considerar esse “razoável” de acordo com as distâncias da soma do “bom” e “muito bom”, que equivale a 22%; e a soma de “mau” e “muito mau” é de 18%. A soma dos dois dá 40%.

Transforma-se isso em 100% e está praticamente meio a meio, com 55% de regular positivo (proporção de 22% em 40%) e 45% (proporção de 18% em 40%) de regular negativo. Com esse cálculo, encontra-se o equilíbrio do número da resposta “razoável”. Ou seja, na avaliação do governo de Luís Montenegro, no parâmetro “razoável”, pode-se entender que o positivo é ligeiramente maior que o negativo.

Ao olharmos para esses três estudos quantitativos, a variação dos números de “razoável” pouco ou nada mudou. Será assim o povo português tão contido em dizer o que realmente pensa e sente sobre o governo? Vejo esses 57% de “razoável” com preocupação.

E no Brasil, como está a avaliação do governo Lula? Nas últimas pesquisas quantitativas da QUAEST Consultoria e Pesquisa, os números apresentados foram:

Mesmo que o formato da questão sobre a avaliação do governo em Portugal e no Brasil seja diferente, entende-se que a premissa é a mesma no que se refere à escala de categorias. Em avaliações de governo, é comum o uso de escalas curtas de três ou cinco pontos. Ambas as pesquisas, do CESOG e da QUAEST, apresentam a escala “razoável” ou “regular” na questão referente a avaliação do governo como ponto neutro.

Vamos, novamente, considerar esse “regular“ de acordo com as distâncias do “negativo” e do “positivo”. A soma dos dois dá 63%. Transforma-se isso em 100% e está praticamente meio a meio, com 50,79% de regular positivo (proporção de 32% em 63%) e 49,2% (proporção de 31% em 63%) de regular negativo.

Sob esta análise de regular positivo e regular negativo, vê-se que ambos os governos se encontram com uma avaliação empatada. Mas é importante dizer que, nesses dois casos, os valores são quase muito equilibrados, com cerca de 50% para cada escala positiva ou negativa. Mas, em hipótese alguma, deve-se dividir o valor do regular por dois.

O ideal, neste caso, é realizar uma pesquisa qualitativa após a quantitativa. porque somente com um estudo aprofundado dos números, nas qualitativas vão emergir os porquês.

Seja o “razoável” em Portugal ou o “regular” no Brasil, o que interessa em ambas as classificações é que o cidadão não quer se comprometer com a sua opinião. Alguns institutos costumam retirar a categoria neutro. Portanto, esta premissa deve ser bem avaliada, pois, em determinadas situações, a real avaliação sobre um governo pode ser realmente a neutralidade.

Segundo o dicionário da língua portuguesa da Porto Editora, “razoável” é: adjetivo 1. Que é conforme a razão; 2. Justo; 3. Ponderado e sensato; 4. Moderado; 5. Conveniente, apropriado, oportuno; 6. Aceitável, regular, acima do medíocre; 7. Suficiente, mediano. (do latim rationabile, racional).

Por isso. fica a dica da experiente Iracema Rezende: “A resposta ‘regular´ tende a ser negativa, pois emite uma insatisfação oculta. O regular é aquele em cima muro, aquele que não quer se comprometer, não quer falar. A insatisfação é maior que a satisfação”.

Quer dizer: em Portugal, com Luís Montenegro e os 57% de avaliação “razoável”, e no Brasil, com o governo Lula e os 33% de “regular”, ambos se encontram em situação de sinal amarelo. Nem tudo está tranquilo para esses governos.

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