A natureza cobra a conta

Fenômenos extremos, como furacões, tsunâmis e secas, são o “novo normal”. Cada um pode fazer a sua parte se engajando em ações que levem a uma transição justa para a chamada economia de baixo carbono

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Não é de hoje que cientistas alertam para os riscos que nós, habitantes da “nave” Terra, estamos sujeitos diante de tantos mandos e desmandos contra a Natureza. Os mais céticos negaram, outros tantos duvidaram. Apenas alguns, felizmente, perceberam que há mesmo algo de muito errado no roteiro que temos ajudado a “escrever” para este filme cada vez mais realista e catastrófico.

A natureza está enviando todos os tipos de alertas: tsunâmis, incêndios florestais, furacões devastadores, chuvas torrenciais, inundações e secas extremas. Mais do que isso: está cobrando a conta. Este agora é o “novo normal”. E qual a nossa responsabilidade sobre estes que seriam efeitos naturais? Cientistas já deixaram claro que o aquecimento global está provocando todo tipo de alteração no nosso habitat. E que, se nada fizermos – com urgência –, poderemos acelerar este processo.

Como jornalista especializada em sustentabilidade, tenho ouvido e lido muitas opiniões. Professores que estudam estes fenômenos há anos, cada um com a sua pesquisa, todos advertem sobre um ponto central: nós, habitantes do planeta, estamos contribuindo – conscientemente ou não – para este cenário.

Quanto aos recentes incêndios florestais que recentemente assolaram o Brasil, de acordo com dados coletados pelo Sistema Alarmes, do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apenas uma parte ínfima deles é iniciada por causas naturais, como raios. Os pesquisadores alertam que 99% dos incêndios que temos visto são provocados por ação humana.

Na Região Norte, a Amazônia vivencia a maior seca enfrentada nos últimos anos. A população ribeirinha, acostumada a viver dos rios, enfrenta uma crise social sem precedentes. Em outubro, o Rio Negro em Manaus registrou o menor nível desde 1902, ao atingir 12,70 metros.

O que estamos vivenciando na Amazônia não é um fenômeno isolado. De acordo com estudo divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), metade das áreas globais de captação de águas subterrâneas verificaram irregularidades. Além de oito estados do Brasil que tiveram níveis históricos de baixa precipitação, Moçambique registrou um dos eventos hidrológicos de alto impacto após desastres e níveis de água subterrânea abaixo do normal afetaram Portugal. A agência das Nações Unidas destaca haver 3,6 bilhões de pessoas com acesso inadequado à água por pelo menos um mês por ano. Esse total deve aumentar para 5 bilhões até 2050.

Não por acaso, um experiente meteorologista norte-americano de Miami, diante de cenas fortes da chegada de dois furacões que assolaram diferentes estados no país mais rico do planeta, chorou diante das câmeras.

Qual o meu objetivo com este alerta? Conscientização. Aja! Não tem aquele dito popular – o pior cego é o que não quer ver? Os números e as pesquisas estão todos aí. E, contra dados verdadeiros de cientistas, não há contestação. Pelo menos 8 milhões de toneladas de plástico - o equivalente a um caminhão de lixo por minuto - são despejadas no oceano anualmente, segundo o Fórum Econômico Mundial. Neste ritmo, se nada for feito, em 2050, os oceanos terão mais plástico que peixes. No Chile, pilhas de lixo da indústria da moda inundam o Deserto do Atacama: segundo a agência de notícias AFP, em 2021, estimava-se que cerca de 59 mil toneladas de roupas chegavam anualmente a esse lixão no deserto.

Ainda há tempo. Podemos rever velhos hábitos de consumo. Repensar a vida. Reduzir, reciclar e reutilizar. Pensar e repensar. Participar e se engajar. Sabe aquele casaco guardado que há anos você não usa? Doe! Ressignique objetos. Ande mais – a pé ou de bicicleta. Faça a sua parte. Separe orgânicos do que pode ser reciclado. Seja voluntário em movimentos da sociedade civil que estão procurando reverter esta rota incerta. Viva uma experiência única: seja um “zelador” de sua rua, seu bairro, sua cidade. Veja o que pode fazer para ajudar neste movimento global por uma economia mais justa, inclusiva, solidária e sustentável, sem deixar ninguém para trás. Participe no que chamamos de transição para a economia de baixo carbono. Compartilhe informações úteis – e não fake news – sobre o que está em curso no planeta. Influencie, leia, pressione políticos, empresários, artistas e influencers. Participe. A hora é esta!

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