Fotogaleria
Filipa Frois Almeida explora a decomposição das memórias nas imagens de família
Filipa Frois Almeida explora a degradação de retratos de família. Homogeneizador de memórias preenche a Galeria da Estação, em Braga, até 26 de Outubro.
No meio de fotografias fantasmagóricas, sente-se um arrepio na pele. Possivelmente por se entrar numa viagem ao que é familiar ou ao que aparenta ser. É esta impressão que Filipa Frois Almeida traz a público através de retratos que encapsulam a “vulnerabilidade e efemeridade das memórias humanas”.
No projecto Homogeneizador de memórias, a artista decidiu enfrentar o passado: “Tive contacto com a morte aos sete anos com a desaparição da minha mãe. Indirectamente, em tudo o que faço, falo um pouco disso. São coisas difíceis de desassociar da nossa vida.” Porém, garante na descrição da exposição que, após anos de psicoterapia, alcançou um momento positivo de “autoconfiança e de reconciliação”.
Filipa Frois Almeida considerou relevante explorar a degradação da fotografia, “que se vai esbatendo e que é também um organismo vivo, está em mutação constante”. Assim, sob a curadoria de Noora Mänty, reuniu auto-retratos, imagens da mãe, do irmão e dos filhos para expor nos Encontros da Imagem, na Galeria da Estação de Braga, até 26 de Outubro.
Este projecto tem cerca de dois anos. São várias fotografias e cada uma pode demorar entre uma semana a dois meses a decompor. “Dependia do resultado que pretendia, daí ter feito tantos testes”, esclarece a artista quando questionada pelo processo técnico que conduziu ao Homogeneizador de memórias.
“É através da fotografia que registamos momentos para fixar no tempo, mas ela própria também tem o seu tempo de vida - envelhece, transforma-se”, ilustra a também estudante de doutoramento em Belas Artes. Para a mostra artística trabalhou o dissipar e a indefinição da imagem no tempo, partindo da concepção de que ao sonhar “não se consegue percepcionar bem os rostos das pessoas, mas sabe-se quem elas são”.
Alguns destes retratos surgiram de outro projecto que envolve fotografar pessoas durante uma hora sem que elas se possam mexer e sem que haja quaisquer distracções. A Filipa Frois Almeida interessa, portanto, o momento em que o sujeito cai no seu próprio pensamento. Para explicar melhor cita, em entrevista ao P3, a filósofa Hannah Arendt: “Onde estamos, quando pensamos?”
Contudo, a fotógrafa acredita que as questões que levanta são mais direccionadas para o que está para vir. Precisamente por ter fotografado os seus filhos para o projecto, pergunta-se agora que memórias esses retratos lhe vão suscitar no futuro.