Afamada pelos seus colheitas, a Krohn também é sinónimo de fabulosos Portos Vintage

Provámos os vintages da Krohn de 2022, 2017, 2003, 1970 e 1960, que surpreendem pelo seu lado mais seco. À excepção do 2022, que é amostra de casco, ainda encontrámos todos à venda.

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A WineStone promoveu uma prova de Portos vintage da Khron, casa de vinho do Porto que adquiriu no último ano à The Fladgate Partnership Nelson Garrido
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Não é das marcas mais conhecidas, mas, entre conhecedores e apreciadores de vinho do Porto, a Krohn, outrora Wiese & Krohn, nascida em 1865, sempre foi tida como a casa a procurar quando o assunto eram tawnies colheita — Portos 'aloirados' pela oxidação que a madeira facilita, são de uma só colheita e envelhecem o mínimo de sete anos em casco. Tem colheitas fantásticos, é verdade, de anos que muitas vezes não existem nos portefólios das outras empresas. E num estilo sempre muito sóbrio e equilibrado, sem bombas de açúcar. Mas não é que o seu berço, em Sarzedinho, Ervedosa do Douro, também dá origem a vintages soberbos?

A equipa de enologia da WineStone, holding do grupo José de Mello criada há um ano para o sector vitivinícola, quis mostrar isso mesmo numa prova promovida há dias na Quinta do Retiro Novo, onde o grupo prepara novos investimentos. Situada no vale do Rio Torto, a propriedade que dá origem aos Portos da Krohn está num dos dois sítios especiais do Douro vinhateiro para a produção de vintages — Portos engarrafados normalmente dois anos após a vindima e envelhecidos em garrafa — e acarinhados por essa razão pelas grandes casas de vinho do Porto. O outro é o vale do Pinhão. Mas não é conhecida por essa categoria.

Foi por isso com surpresa que ficámos a conhecer soberbos vintages da casa como o fino 1970, muito delicado e com uma frescura imensa, e o extraordinário 1960, cuja amplitude aromática nos põe a cabeça à roda. A pensar, a apreciar, a puxar pelas nossas memórias olfactivas. Um com 54 anos e o outro com 64! Absolutamente fabulosos a caminho da velhice. Tomara a muitos (de nós, também). O ideal dos dois mundos era esse nariz espantoso do 60, com a boca do 70, muito marcada pela acidez vibrante do vinho. Uma nota constante aos cinco vintages que provámos (para além do 1960 e do 1970, o 2003, o 2017 — todos com existências em stock na Krohn — e o 2022, este último amostra de casco mas já aprovado pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto), e surpreendente, é a identificação clara de um perfil mais seco — falamos sempre de vinhos doces, atenção, mas com uma doçura muito bem balanceada pela acidez, que não enjoam.

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David Baverstock, que lidera a enologia da WineStone, acredita no potencial do Retiro Novo, berço dos Portos Krohn, para fazer "grandes vintages" Nelson Garrido

Por indicação de David Baverstock, que lidera a equipa de enologia da WineStone, provámo-los do mais novo para o mais velho. O 2022 mostra fruta madura, perfume intenso e um nariz elegante. Não será para aguentar 50 anos na garrafa, diz o experienciado técnico que nos últimos anos se dedicou a vinhas mais a sul, mas que há 40 anos se estreou em Portugal no grupo Symington, tendo trabalhado precisamente ali no vale do Côa. Mas será muito bom daqui a 15, 20, 25 anos. Conseguimos percebê-lo. Tanino, fruta, uma frescura imensa, 90 gramas de açúcar por litro. Um perfil elegante e um vintage do lado 'mais seco' do vinho do Porto.

O 2017 (70 euros) começa agora a 'casar', diz-se na gíria do vinho do Porto. Que é como quem diz: o conjunto apresenta-se agora mais harmonioso, tornando também mais fácil de imaginar o vinho no futuro — e os vintages são vinhos de paciência, para comprar quando saem para o mercado e abrir mais tarde. É um Porto que confirma o potencial que a WineStone viu na Quinta do Retiro Novo. As vinhas da propriedade, anteriormente detida pela Fladgate Partnership (Taylor's, Fonseca e Croft), não só podem dar origem a Portos vintage, como podem produzir grandes vintages.

Este Krohn Vintage 2017 cheira a fruta vermelha e ao ano em que nasceu. Notamos-lhe o calor de um ano seco (mas, apesar disso, equilibrado) e, simultaneamente, muita frescura. Este sim, um Porto para cumprir quatro ou cinco décadas em grande forma. Tem tudo no lugar.

Até ao 2003 (90 euros), identificamos um mesmo perfil, marcado por um lado herbáceo que acentua a sensação de frescura destes vinhos. Outro ano seco, e quente, "um ano clássico", que deu um vinho que provado hoje tem ainda fruta (mais madura, uvas-passas...), mas também notas de verniz já — aromas terciários que decorrem do envelhecimento em garrafa —, tanino e acidez que o aguentarão num bom lugar durante mais tempo. Muito equilibrado, está num bom momento para abrir, muito equilibrado, belíssimo, sendo que dentro de uns dez anos entrará numa fase mais estável.

Absolutamente fabuloso o 1970 (340 euros). De "um ano super clássico" ("não há conversa, 1970 foi um dos melhores anos de sempre", nota David Baverstock, é um vinho de grande complexidade aromática, com aromas de evolução em garrafa, anis, alcaçuz, um nariz quase medicinal, com grande frescura e final de boca que sabe a rebuçado de café. "Um vintage do outro mundo." É, sim senhor. E que, tendo passado o meio século de vida, ainda tem muita energia.

A década de 1960 deu à garrafa Portos mais opulentos, com muita concentração. Apesar disso, este Krohn Vintage 1960 (420 euros), maduro e amplo como é apanágio dos vintage de então, também surpreende pelo tal perfil mais seco. Inebriante no nariz, despertando mil e uma memórias — folhas secas, farmácia, eucalipto, casca de pinheiro, caril... —, na boca é menos vibrante do que o Krohn Vintage 1970. No conjunto, um vinho tremendo.

A WineStone anunciou a compra da Quinta do Retiro Novo há cerca de um ano. Com a propriedade, a holding para o vinho do Grupo José de Mello adquiriu também a marca Krohn e os seus stocks, tendo 'herdado' existências de Portos vintage e colheita desde 1931. Dos vintages 1960 e 1970, há poucas garrafas, mas ainda há. Este ano, os Portos da Krohn já foram feitos pela equipa de Baverstock (no Douro, a principal responsável é a enóloga Mafalda Bahia Machado) e na recta final desta vindima no Douro ficou a saber-se que a WineStone prepara o lançamento de nova imagem para a histórica marca.

Nome Krohn Porto Vintage 2017

Produtor WineStone

Castas Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinto Cão, Tinta Roriz e Tinta Barroca

Região Douro

Grau alcoólico 20,2%

Preço (euros) 70 (PVP recomendado)

Pontuação 96

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Fruta vermelha e preta, mas também notas de fruta de caroço e notas florais, num perfil aromático marcado pelo ano seco em que o vinho nasceu. Sente-se-lhe esse calor, mas este Krohn Vintage 2017 é oferece simultaneamente muita frescura. É um Porto para durar quatro ou cinco décadas em grande forma. Belíssima acidez, elegância, sabores de fruta silvestre, 'apenas' 102 gramas de açúcar por litro e uma boca longa. Um vintage que confirma o potencial que a WineStone viu na Quinta do Retiro Novo (não só, mas também) para produzir grandes Portos de categorias especiais.

Nome Krohn Porto Vintage 2003

Produtor WineStone

Castas Touriga Nacional, Tinto Cão, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Barroca

Região Douro

Grau alcoólico 20,1%

Preço (euros) 90 (PVP recomendado)

Pontuação 95

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Fruta madura, concentração, corpo, boa acidez e taninos equilibrados e maduros, a augurarem ao vinho vida longa. Final doce (94 gramas de açúcar por litro) e comprido. Um vintage que ainda vai na sua juventude, mas já oferece uma boa experiência e é, de resto, um bom teste para perceber, por um lado, o estilo da casa no que ao Porto Vintage toca e, por outro, ver para onde se dirige o vinho, que daqui a uns dez anos entrará numa fase mais estável.

Nome Krohn Porto Vintage 1970

Produtor WineStone

Castas Touriga Nacional, Tinto Cão, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Barroca

Região Douro

Grau alcoólico 21,1%

Preço (euros) 340 (PVP recomendado)

Pontuação 97

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Super complexo este Krohn Vintage 1970 de um ano super clássico. No nariz, oferece aromas de frutos secos, anis, alcaçuz, quase medicinais. E na boca, uma grande frescura, que se prolonga durante longos segundos depois de o bebermos, num final impressionante, picante e com sabor de rebuçado de café. Tem um pouco mais de açúcar residual do que outros vintages que provámos da Krohn (115,8 g/l), mas tem o mesmo estilo sóbrio e 'mais seco' que identificámos nos vintages da casa. Um vinho-milagre, porque passou a fasquia dos 50 anos e está, de facto, um "vintage do outro mundo", como lhe chamou David Baverstock. Prontíssimo a beber e a apreciar.

Nome Krohn Porto Vintage 1960

Produtor WineStone

Castas Touriga Nacional, Tinto Cão, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Barroca

Região Douro

Grau alcoólico 21%

Preço (euros) 420 (PVP recomendado)

Pontuação 98

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Há tanta coisa a acontecer ao nível da experiência olfactiva que este Krohn Vintage 1960 proporciona, que cheirá-lo é meia prova. Brincamos. Mas, de facto, este é um Porto aromaticamente complexo, com notas de folhas secas, farmácia, eucalipto, pinhal... até caril! Com um nariz incrível, na boca, destacam-se a sua leveza e as notas de café que lhe sentimos no final. Vintage amplo e maduro, como é apanágio dos vintage da década de 1960, muito equilibrado. Tremendo.

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