Sexualidade e envelhecimento: um prazer que não termina

Homens mais velhos sexualmente ativos são frequentemente rotulados como devassos, enquanto mulheres que mantêm uma vida sexualmente ativa são consideradas imorais.

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"A sexualidade só chega ao fim no dia em que morremos" Aakash Goel/pexels
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Na sociedade atual a sexualidade continua a ser vista como algo exclusivo para os mais jovens, atraentes e saudáveis. Atualmente, pessoas que se encontram na terceira idade continuam a lidar com o estigma e os estereótipos negativos, que perpetuam uma série de mitos associados à sexualidade no envelhecimento. Alguns dos mitos mais comuns sugerem que os idosos não têm interesse em sexo, e quando demonstram esse interesse, são vistos como “não normais”.

Além disso, homens mais velhos sexualmente ativos são frequentemente rotulados como devassos, enquanto mulheres que mantêm uma vida sexualmente ativa são consideradas imorais ou fora do padrão social relacionado com a perda do interesse sexual ao longo da vida, especialmente depois na menopausa. Embora seja verdade que questões de saúde e dificuldades no funcionamento sexual possam aumentar com o envelhecimento, muitos idosos continuam sexualmente ativos e relatam níveis elevados de satisfação.

Dados científicos recentes confirmam que todos estes estereótipos, que desvalorizam e marginalizam culturalmente os idosos, não mudaram significativamente nas últimas décadas. Estudos realizados nos últimos 40 anos descrevem sistematicamente os mesmos fatores psicossociais de risco que afetam negativamente a expressão sexual dos idosos. Adicionalmente, a investigação focou-se principalmente no funcionamento e disfunção sexuais, nas limitações físicas e no tratamento médico destas dificuldades, desconsiderando a exploração das atitudes dos idosos face à sua sexualidade e os benefícios de uma vida sexual ativa.

No entanto, estudos recentes que exploram a perspetiva dos idosos sobre a sexualidade nesta fase de vida são muito claros: a sociedade e os media polarizam a sexualidade no envelhecimento. Promovem, por um lado, a assexualidade nos mais velhos, e por outro, colocam uma pressão irrealista para um envelhecimento “bem-sucedido”, que exige vitalidade e saúde, inalcançáveis para muitos.

Ambas as visões são prejudiciais e a proposta é que sejam substituídas por um movimento de "envelhecimento positivo" focado numa compreensão mais ampla da sexualidade, que englobe o conhecimento, a maturidade e a diversidade, permitindo que os idosos vivenciem e expressem sua sexualidade de forma plena e sem julgamentos. Mais do que descobertas médicas para resolver limitações físicas é importante combater os preconceitos culturais que desvalorizam a sexualidade na terceira idade.

Costumo dizer às pessoas que acompanho na consulta de Terapia Sexual que a sexualidade só chega ao fim no dia em que morremos. Em qualquer fase da vida, podemos vivê-la e expressá-la, podemos aprender e evoluir, celebrando o prazer como parte integrante da nossa existência.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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