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Cuidado: o “eu te amo” pode ser uma armadilha
As brasileiras que sonham em ter uma oportunidade no “amor ou trabalho” na Europa devem ficar muito atentas, pois facilidades podem custar muito caro.
Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
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Tudo começa com uma mensagem despretensiosa na caixa de mensagens ou um elogio no Instagram, Facebook e até na aplicação para aprender um idioma, regado de emojis de flores, corações e muito afeto. O detalhe que passa muitas vezes despercebido pelas mais emocionadas é a velocidade com que esse afeto se desenvolve.
Em menos de uma semana, o “Eu te amo” sai no meio de uma mensagem, mediado por um aplicativo de tradução qualquer. Se a pessoa estiver em um momento da vida mais difícil ou emocionalmente vulnerável, não há coração que resista a um “I love you”, mesmo que seja de alguém que esteja a milhares e milhares de quilomêtros de distância e que você nunca viu na vida.
Dali em diante, a linha entre encontrar o “amor da sua vida” e ser vítima de tráfico humano para fins de exploração sexual é bastante tênue. Você pode estar conversando com o seu futuro companheiro ou um aliciador. Aí minha filha, é questão de sorte, destino ou o que você achar mais conveniente acreditar. E a sorte não costuma ser para todas. #fikaadika.
A falta de dados oficiais, sobretudo em países considerados porta de entrada para vítimas de tráfico humano, como Portugal, Espanha e Itália, é preocupante. Estudo da Presidência Espanhola do Conselho da União Europeia revelou os desafios no combate ao tráfico de seres humanos online na Europa. A pesquisa mostra que os ambientes digitais facilitam à abordagem, o monitoramento e o controle da vítima. Ao mesmo tempo, pelo modus operandi dos criminosos, o trabalho das autoridades, assim como a investigação e a punição, se torna uma verdadeira maratona.
Os traficantes utilizam diversas tecnologias, como criptografia, GPS, sistemas de radares, drones e muitas outras. Nos aplicativos de mensagens instantâneas, e com a recente evolução da inteligência artificial generativa, é possível que a vítima esteja em uma chamada de vídeo com um avatar, ou mesmo com uma identidade falsa criada na deep web, acreditando estar conversando com alguém real.
Por ser um tipo de crime muitas vezes invisível, identificar os criminosos e garantir a prevenção se torna uma tarefa penosa. Considerando que os conteúdos e servidores que armazenam o fluxo das mensagens trocadas não estão no local de recrutamento e nem onde a exploração será concretizada, dificilmente, o crime é identificado.
Para as mais corajosas, que ousam entrar em um avião sem nunca antes ter saído do Brasil, outro tipo de abordagem que pode resultar em exploração sexual e trabalho análogo à escravidão são as vagas de emprego online que oferecem mundos e fundos, com a promessa de casa, comida e roupa lavada. Em muitos casos, a vítima sequer passou por uma entrevista ou teve que enviar um currículo. Meses depois, embarca rumo ao velho continente em busca de um sonho.
Nem preciso falar de como esse tipo de proposta é, no mínimo estranha, sobretudo, quando se tem de arcar com os custos da passagem aérea ou pagar depois para o seu “empregador” quando já estiver no local. Isso não existe. A não ser que você seja profissional de TI ou de áreas em que há escassez de mão de obra qualificada, com experiência e bastante capacitação. Neste caso, a própria empresa vai providenciar o seu visto de trabalho, ajudar na procura de casa e ainda facilitar a vinda de seus familiares. Percebem a diferença?
Se, no seu caso, não há indício de tráfico humano e você só conheceu um gringo no aplicativo de idiomas para aprender inglês e quer encontrar a “felicidade”, aqui vai um último alerta! Um detalhe que as youtubers que se dedicam a criar conteúdos sobre como é viver no exterior ou se casar com um gringo nunca falam. Em muitos casos, o crime não é nem a exploração sexual, mas a violência doméstica e psicológica e o cárcere privado.
E, se tudo está correndo bem e o gringo é até gente boa, antes de decidir engravidar, pesquise sobre o artigo 5 da Convenção de Haia, que conta com 118 países signatários e trata da responsabilidade parental e da proteção de menores de 18 anos. Informe-se sobre as leis locais, os seus direitos, os direitos dos seus futuros filhos. Por meio de uma pesquisa na internet, é possível encontrar respostas confiáveis para quase tudo nessa vida. Acredite!
Vale lembrar que autocuidado e amor próprio não é só fazer skin care e cuidar da aparência (que por sinal, as brasileiras são muito caprichosas). Amor próprio é, antes de tudo, se manter informada, ter uma profissão, independência financeira, saber se virar em mais de uma língua e, principalmente, na língua do país que você pretende ir.
Se, depois de tudo isso, você ainda acha que não quero lhe ver feliz e sou só mais uma daquelas imigrantes que “não torcem pelos seus compatriotas”, assista o canal da ativista brasileira Danny Boggione. Ela se dedica à prevenção e ao combate ao tráfico de seres humanos em um canal no YouTube, onde, além de ouvir especialistas, autoridades e ajudar no resgate de pessoas traficadas, ela entrevista vítimas sobreviventes, com relatos em primeira pessoa, como forma de alertar e evitar que outras mulheres (e homens) passem por situações semelhantes.
Agora, se esse texto não serviu para você, compartilhe com outras pessoas da sua família. Todos nós temos alguém muito emocionado no nosso círculo de contatos, e uma das formas de prevenir o tráfico de seres humanos é a informação.