Carlos III abraçado por indígena australiano no local onde nasceram os direitos civis

Depois do protesto de segunda-feira, Carlos III foi recebido por indígenas na cidade de Redfern. Até comeu tarte de canguru no National Centre for Indigenous Excellence.

epa11673976 Britain's King Charles III visits the National Centre of Indigenous Excellence in Sydney, Australia, 22 October 2024. King Charles III and Queen Camilla are visiting Australia from 18 October to 23 October. EPA/DAN HIMBRECHTS AUSTRALIA AND NEW ZEALAND OUT
Fotogaleria
Carlos III no National Centre for Indigenous Excellence, em Sydney DAN HIMBRECHTS/Reuters
epa11673964 Britain's King Charles III reacts as he watches a traditonal dance performance during a visit to the National Centre of Indigenous Excellence in Sydney, Australia, 22 October 2024. King Charles III and Queen Camilla are visiting Australia from 18 October to 23 October. EPA/DAN HIMBRECHTS AUSTRALIA AND NEW ZEALAND OUT
Fotogaleria
Carlos III no National Centre for Indigenous Excellence, em Sydney DAN HIMBRECHTS/Reuters
Ouça este artigo
00:00
02:57

Carlos III foi abraçado por um ancião indígena após uma cerimónia de boas-vindas nesta terça-feira, no local onde nasceu o movimento direitos civis aborígenes da Austrália, em Sydney, um dia depois de ter sido acusado de genocídio por parte de uma senadora e activista indígena em Camberra.

O rei encontrou-se com anciãos indígenas no National Centre for Indigenous Excellence, no centro da cidade de Redfern, incluindo a cozinheira de “bush tucker” — nome dado à comida nativa — Aunty Beryl Van-Oploo, que serviu tartes de canguru.

Carlos foi abraçado pelo ancião Michael Welsh, e por Chloe Wighton​, que se apresentou como membro da Geração Roubada — uma referência às crianças aborígenes sistematicamente retiradas das suas famílias há algumas décadas. “Bem-vindo a este país”, disse-lhe Wighton.

Nesta segunda-feira, Carlos foi atacado no Parlamento, em Camberra, pela senadora independente e activista indígena Lidia Thorpe, que gritou que não aceitava a sua soberania sobre a Austrália e exigiu um tratado para os povos indígenas.

Foto
Carlos no National Centre of Indigenous Excellence DAN HIMBRECHTS/Reuters

Numa entrevista à rádio pública Australian Broadcasting Corporation na terça-feira, Thorpe disse que “queria que o mundo conhecesse a situação difícil do povo”.

Embora a atmosfera em Redfern, nesta terça-feira, tenha sido diferente, algumas pessoas que foram ver o rei concordam com as acções de Thorpe. “Temos histórias para contar e penso que testemunharam essa história ontem”, declarou Allan Murray, presidente do Conselho Local Metropolitano de Terras Aborígenes.

Claude Tighe, um indígena de Glebe que viu o protesto de Lidia Thorpe nas redes sociais, disse: “Quero que ele [Carlos III] fale com os verdadeiros proprietários tradicionais das terras. Há muitos de nós aqui”. E elogiou: “Ela falou em nome do povo aborígene.”

A ex-atleta olímpica Nova Peris, que foi a primeira mulher indígena eleita para o Parlamento, confessou nas redes sociais que estava “profundamente desapontada” com as acções de Thorpe, que “não reflectem as maneiras, ou a abordagem à reconciliação, dos aborígenes australianos em geral”.

Foto
Carlos III conhece Chloe Wighton e o seu filho Jack Rose, de 5 meses DAN HIMBRECHTS/reuters

As emoções em torno dos direitos dos indígenas e da história colonial da Austrália estão ao rubro depois de, no ano passado, ter sido rejeitado um referendo nacional sobre a possibilidade de alterar a constituição australiana para reconhecer os aborígenes.

Carlos não tem ignorado o tema e referiu-se à “longa e por vezes difícil viagem da Austrália em direcção à reconciliação” num discurso proferido na segunda-feira.

Sob um céu primaveril, o rei visitou mais tarde um projecto de habitação social concebido com o apoio da sua instituição de solidariedade King's Trust Australia no subúrbio de Glebe. Foi acompanhado pelo primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, que cresceu num bairro de habitação social.

Carlos e Camila estão a visitar Sydney e Camberra durante seis dias, antes de viajarem para a reunião dos chefes de Estado da Commonwealth — das 56 nações, Carlos é rei em 15 — na ilha de Samoa. Esta é a primeira viagem oficial do monarca depois de ter sido diagnosticado com cancro no início deste ano. Contudo, é a 16.ª vez que visita a Austrália.