Dia Mundial dos Cuidados Paliativos: e como estamos?

Iniciativas complementares de apoio, como o programa HUMANIZA, mostram o caminho na inovação e humanização dos cuidados paliativos.

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Que todos os países “reforcem os cuidados paliativos como uma componente dos cuidados integrais ao longo da vida”. Esta foi uma das recomendações de uma resolução histórica da Assembleia Mundial de Saúde das Nações Unidas, que, em 2014, reforçou a importância do acesso e disponibilidade dos cuidados paliativos para todos, devidamente integrados nas políticas e orçamentos de saúde, assim como na formação dos profissionais de saúde.

Dez anos depois, o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos 2024, celebrado a 12 de Outubro, reflecte sobre os progressos alcançados numa década. Sob o tema “10 anos desde a Resolução: Como estamos?”, as comemorações deste ano são também um balanço do que mudou desde a aprovação da Resolução da ONU, como têm os cuidados paliativos evoluído e, também, o longo caminho pela frente no acesso, humanização, inovação e disponibilidade.

Segundo dados das Nações Unidas, 56,8 milhões de pessoas precisam, no mundo, de cuidados paliativos. No entanto, apenas 14% das pessoas que precisam destes cuidados os conseguem receber. E em Portugal? De acordo com informação da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) veiculada em 2024, existem cerca de 100 mil doentes com necessidades paliativas, dos quais apenas 30% conseguem ter acesso a apoios de equipas especializadas.

O contributo do programa HUMANIZA

“O programa HUMANIZA chega a Portugal como uma inovação e uma aposta na qualidade científica”, explica Hugo Lucas, psicólogo e director da EAPS (equipa de apoio psicossocial) do ISJD – Instituto São João de Deus, uma das EAPS com intervenção no âmbito do HUMANIZA. Segundo o responsável, o perfil inovador da iniciativa “permite que equipas previamente existentes, carenciadas na área de prestação de cuidados psicossociais e espirituais, tenham acesso a profissionais – na sua grande maioria com formação avançada e especializados nesta área de cuidados e, ao mesmo tempo, com uma formação complementar, em função do cunho formativo do programa, e suporte científico estruturados”. Este é um acesso “que faz a diferença na prestação de cuidados, no acompanhamento global da pessoa doente e da sua família”.

Neste apoio de proximidade, através da intervenção de EAPS com os doentes em suas casas, nos hospitais (incluindo uma unidade pioneira no IPO Porto – ver caixa) e nos lares de terceira idade, em todas as regiões do país, o foco é humanizar os cuidados prestados.

Nos últimos cinco anos, o HUMANIZA acompanhou 25.294 doentes e 31.196 familiares, com impacto comprovado na melhoria de qualidade de vida das pessoas em situação de fim de vida.

“A mais-valia deste programa é a visão holística do ser humano, e portanto, a garantia de intervenção nas diferentes dimensões do ser humano, o que facilita a consolidação desta intervenção”, explica Hugo Lucas, “em detrimento de abordagens simplistas ou meramente de controlo sintomático, que embora muito úteis, são ineficazes e insuficientes na abordagem integral ao sofrimento humano e ao processo de morrer, bem como, ao processo de luto dos familiares”.

Os dados preliminares da intervenção do programa foram apresentados no XI Congresso Nacional de Cuidados Paliativos e II Congresso Internacional da APCP, realizado na semana em que se celebra o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos.

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