Milhares de girinos do sapo ocidental, uma espécie que enfrenta a destruição do seu habitat e aumento dos predadores, atravessam o mundo subaquático do lago Cedar numa luz onírica rumo à sobrevivência. 99% não chegará à idade adulta. Entre um número recorde de 59.228 inscrições de fotógrafos de 117 países e territórios, Shane Gross, fotojornalista canadiano especializado em conservação marinha, foi o grande vencedor do concurso Wildlife Photographer of the Year, promovido anualmente pelo Museu de História Natural, em Londres.

A cerimónia de entrega dos galardões, que elegeu ainda Alexis Tinker-Tsavalas como o grande vencedor entre os fotógrafos jovens, além dos premiados nas diferentes categorias, decorreu esta terça-feira em South Kensington, antecipando a emblemática exposição do concurso, a celebrar a 60.ª edição, inaugurada no Museu de História Natural esta sexta-feira, 11 de Outubro, com 100 imagens premiadas.

Em comunicado, a organização elogia a imagem vencedora, The Swarm of Life, “uma fotografia de cortar a respiração que ilumina o mundo subaquático mágico dos girinos do sapo ocidental”, “uma espécie quase ameaçada devido à destruição do habitat e dos predadores”, captada por Shane Gross em Cedar Lake, na ilha de Vancouver, Canadá.

“O júri ficou cativado pela mistura de luz, energia e conectividade entre o ambiente e os girinos”, reage Kathy Moran, presidente do júri, citada na nota de imprensa. “Ficámos igualmente entusiasmados com a adição de uma nova espécie ao arquivo do Wildlife Photographer of the Year. Ao longo dos últimos anos, o concurso tem destacado ambientes e espécies que são frequentemente negligenciados, mas que provocam a mesma admiração e prazer quando partilhados com a vida selvagem e os locais selvagens mais tipicamente fotografados.”

Já o alemão Alexis Tinker-Tsavalas foi eleito Jovem Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano com um grande plano da vida que existe debaixo de um tronco morto, retratando um pequeno colêmbolo à esquerda e um novelo de bolor à direita em Life Under Dead Wood, uma imagem criada através da técnica focus stacking, “em que são combinadas 36 imagens, cada uma com uma área diferente em foco”, detalha o comunicado.

“Um fotógrafo que tenta captar este momento não só tem uma grande habilidade, mas também uma incrível atenção aos pormenores, paciência e perseverança. Ver uma imagem macro de duas espécies fotografadas no chão da floresta, com tanta perícia, é excepcional”, afirma Kathy Moran.

Além dos dois vencedores do Grande Título, foram ainda premiadas 18 fotografias em diferentes categorias, que “mostram a maravilha e a riqueza da biodiversidade no nosso planeta, ao mesmo tempo que, em muitos casos, lançam uma luz sobre os numerosos desafios que a vida selvagem enfrenta actualmente em todo o mundo”, destaca o comunicado, lembrando que todas as imagens a concurso foram “avaliadas anonimamente por um painel internacional de peritos, com base na sua originalidade, narrativa, excelência técnica e prática ética”.

Entre as imagens finalistas, distinguida com uma Menção Honrosa na categoria Animais no seu habitat, destaque para uma fotografia tirada em Portugal: um aglomerado de mexilhões sobre as rochas da praia da Ursa, concelho de Sintra, intitulada Strength in Numbers (Força numérica, em tradução livre para português), captada por Theo Bosboom.

"Muitas vezes escolho espécies que não são consideradas sexy e que não são fotografadas com frequência porque vejo beleza nelas e acho que é importante que sejam destacadas também, porque as pessoas tomam-nas como garantidas ou simplesmente comem-nas, no caso dos mexilhões, mas elas desempenham um papel importante no ecossistema", afirma o fotógrafo holandês em declarações à agência Lusa. "À primeira vista [os mexilhões] parecem cinzentos, mas se olharmos com atenção vemos todos os tipos de cores a emergir", descreve.​

Esta é a segunda vez que o fotógrafo é reconhecido por uma fotografia captada na praia da Ursa. Em 2017, foi finalista da mesma competição, com uma imagem de lapas nas rochas, parte de um trabalho feito nas costas de Portugal e de outros países que resultou num livro intitulado Moldado pelo Mar. "Gosto de partilhar a minha visão do mundo e a beleza que vejo, que por vezes é diferente da que outras pessoas vêem. Espero que sensibilize e motive as pessoas a olharem de novo para o que têm perto de casa."

Pela primeira vez, o concurso lançou ainda o Prémio Impacto, tanto para jovens fotógrafos como adultos, com o objectivo de reconhecer “um sucesso de conservação, uma história de esperança e/ou uma mudança positiva”. A polaca Liwia Pawłowska venceu o prémio na categoria jovem com um pisco-de-peito-ruivo entre as mãos de um cientista durante uma acção de anilhagem de aves, essencial aos esforços de conservação. O australiano Jannico Kelk conquistou o prémio entre os fotógrafos adultos com Hope for the Ninu, um pequeno marsupial que “foi levado à quase extinção devido à predação por raposas e gatos introduzidos [no seu habitat]”.

Para celebrar o 60.º aniversário do concurso, a já emblemática exposição no Museu de História Natural vai incluir imagens dos grandes vencedores de edições anteriores, assim como “fotografias, troféus e destaques da tecnologia de câmaras que encapsulam os 60 anos do concurso a revelar as histórias da natureza”, além de “vídeos que mostram o impacto que a fotografia da vida selvagem pode ter a nível mundial” e sugestões que convidam “os visitantes a defenderem o mundo natural”. A exposição vai depois partir numa “extensa digressão” pelo Reino Unido e diferentes destinos internacionais.

A edição do concurso do próximo ano abre inscrições já na próxima segunda-feira, 14 de Outubro, e encerra às 11h30 de 5 de Dezembro.