Arquitecto Gabriel Weber vence Prémio Fernando Távora 2024

Weber receberá uma bolsa de viagem no valor de seis mil euros para concretizar a sua proposta centrada na arquitectura Agudá.

O arquitecto brasileiro Gabriel Weber, mestre pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, vence Prémio Fernando Távora 2024
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Porto-Novo, Benim tatewakinio
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O arquitecto brasileiro Gabriel Weber (Rio de Janeiro, 1997), mestre pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, conquistou a 20.ª edição do Prémio Fernando Távora, com a proposta Do Benim ao Benim: Projectos Marginais, Arquitecturas Radicais, divulgou esta segunda-feira a Secção Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos (OASRN), organizadora do prémio.

O projecto de Weber debruça-se sobre a arquitectura dos Agudás, afro-brasileiros escravizados que conseguiram a liberdade no Brasil e retornaram a África, mais precisamente ao Golfo do Benim. Estabeleceram-se na região da antiga Costa dos Escravos, que abrangia todo o Golfo do Benim, da actual cidade de Lagos, na Nigéria, até Acra, no Gana.

Carpinteiros, marceneiros e pedreiros, estes ex-escravizados aplicaram os seus conhecimentos e habilidades técnicas adquiridos no Brasil num novo estilo de arquitectura, que se tornou dominante na antiga cidade de Lagos no final do século XIX.

“(Re)estabelecidos em África, os Agudás organizam comunidades em torno de uma identidade brasileira inventada, materialmente publicizada pela arquitectura”, introduz o arquitecto na sua proposta, descrevendo esta arquitectura como “produto da liberdade”.

“Classifico este périplo pela Nigéria, Benim e Brasil, mais como uma expedição, pelo elemento aventura e descobertas, neste caso de vestígios de uma arquitectura local, que, por obedecer a circunstâncias históricas e geográficas não deixa de estar inscrita num quadro global, e de constituir um contributo inspirador e científico para um reconhecimento de um povo com as suas características, leis e sabedorias”, observou a pintora e escritora Mónica Baldaque, que presidiu ao júri do prémio, constituído também pela arquitecta Andrea Soutinho (indicada pela Fundação Marques da Silva), o arquitecto Carlos Prata (indicado pela Casa da Arquitectura), a arquitecta Teresa Fonseca (em representação da Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos) e por Luísa Távora (designada pela família de Fernando Távora).

“Há uma memória e conhecimentos que devem ser preservados, respeitados, e trazidos à luz de uma nova leitura perante novos cenários”, acrescentou Mónica Baldaque. “Não é do etnográfico que falamos, que esse situa-se numa superficialidade decorativa. São muito mais profundas as raízes que aqui se procuram e interpretam. Penetrar nesse encantamento é um projecto notável de viajante /arquitecto.”

Para a concretização desta proposta, Gabriel Weber receberá uma bolsa de viagem no valor de seis mil euros. O arquitecto brasileiro está inscrito no Programa de Doutoramento da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), onde desenvolve a investigação sobre o Projecto Agudá, orientada pelos professores Carla Garrido de Oliveira, da Universidade do Porto, e Roberto Conduru, da Southern Methodist University-Texas. É bolseiro pela FCT – Fundação para Ciência e Tecnologia.

Ganhou o Prémio Viana de Lima em 2023 de melhor média do curso às disciplinas de Projecto. Transferiu e reiniciou a formação na FAUP em 2017, após um incêndio atingir o edifício da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde estava a tirar o segundo ano. É autor do livro Manual de Prácticas del Autobús - 474 Jacaré Copacabana (Barcelona: NoLibros, 2024), um desdobramento da sua dissertação de mestrado, finalista do Archiprix Portugal em 2023.

Lançado em 2005, o Prémio Fernando Távora é organizado pela OASRN em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitectura e a Fundação Marques da Silva. É uma distinção nacional, de regularidade anual, destinada a todos os arquitectos inscritos na Ordem dos Arquitectos para a melhor proposta de viagem. “O objectivo é incentivar e valorizar a viagem enquanto instrumento de formação e de apoio à prática profissional do arquitecto”, lê-se no comunicado da OASRN.

Esta 20.ª edição integra o programa de Comemorações do Centenário de Nascimento do Arquitecto Fernando Távora, organizado pela Ordem dos Arquitectos, a Fundação Marques da Silva, a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, o Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra e a Escola de Arquitectura, Arte e Design da Universidade do Minho.

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