Israel assinala, dividido, um ano sobre o 7 de Outubro

O partido do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, começou a subir nas sondagens.

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Memorial pelas vítimas do 7 de Outubro no kibbutz Be'eri ABIR SULTAN / EPA
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Israel assinala esta segunda-feira a data traumática de 7 de Outubro com várias cerimónias, duas delas mostrando a enorme divisão no país: uma aberta, em Telavive, organizada por famílias de reféns, e outra televisiva, pré-gravada, da responsabilidade do Governo. O Presidente, Isaac Herzog, declarou que o país não pode sarar as feridas da data sem o regresso de todos os reféns ainda na Faixa de Gaza (muitos já estarão, entretanto, mortos). Parte da população em Israel suspeita que o primeiro-ministro está mais interessado numa guerra prolongada do que nas vidas dos reféns.

A discordância sobre o modo como a data deve ser assinalada – não há ainda uma comissão que foi já defendida até pelo ministro da Defesa para apurar responsabilidades das falhas óbvias de informação sobre as intenções do Hamas – reflecte uma tendência geral no país com “velhas divisões a ressurgir”, como escrevia a revista britânica The Economist. “Falcões e pombas, religiosos e seculares, direita e esquerda”, discordam do que são as lições do 7 de Outubro e do que implicam para os passos seguintes.

Os radicais no Governo de Benjamin Netanyahu, muitos deles colonos, querem uma reocupação da Faixa de Gaza e o regresso dos colonatos retirados em 2005 no âmbito de um plano de Ariel Sharon. Outros querem um acordo de cessar-fogo com o Hamas para o regresso dos reféns.

Um inquérito da Universidade Hebraica de Jerusalém divulgado na véspera do 7 de Outubro indica que as divisões internas, especialmente sobre religião e questões de Estado, são vistas como uma ameaça maior para o futuro de Israel do que os conflitos armados em curso para a maioria dos inquiridos, com muitos a expressar desilusão sobre a coesão da sociedade e sobre a liderança do país, e uma maioria a apoiar uma comissão de inquérito aos falhanços de informação e resposta no dia 7 de Outubro.

Nas semanas mais recentes uma série de acções militares de Israel fizeram com que muitos se regozijassem com operações como a dos pagers que explodiram no Líbano ou o ataque que matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e boa parte do comando do movimento.

Nos media liberais como o Haaretz questionava-se, no entanto, qual o efeito destas acções a longo prazo, sendo vistas como avanços tácticos sem uma visão estratégica.

Mas deu ímpeto político a Netanyahu, com o seu antigo rival Gideon Saar a juntar-se ao executivo, e sondagens a mostrarem-se mais favoráveis ao seu partido, se eleições fossem realizadas agora (uma entre várias até previa uma maioria para a sua coligação pela primeira vez desde 7 de Outubro).

Saar desafiou a liderança de Netanyahu no Likud após o anúncio do processo de corrupção de Netanyahu, que decorre ainda (em Dezembro, Netanyahu irá depor em tribunal pela primeira vez), formou depois um novo partido, aliando-se mais tarde ao “partido dos generais” Benny Gantz e Gadi Eisenkot, que estavam no gabinete de guerra no pós-7 de Outubro. Saar saiu do Governo pela recusa de Netanyahu em o incluir no gabinete de guerra. Mais tarde, Gantz e Eisenkot saíram também.

A entrada de Saar deixa a coligação de Netanyahu com 68 deputados em 120 e por isso menos sujeita a pressão dos seus aliados ultra-ortodoxos (Shas e Judaísmo Unido da Torá), importante pela questão do fim da excepção do serviço militar para os ultra-ortodoxos, ou dos de extrema-direita (os 14 deputados de Bezalel Smotrich e Ben-Gvir).

Além dos feitos militares recentes num terreno com muito apoio (80% dos israelitas são a favor da ofensiva contra o Hezbollah), há muitos israelitas que, apesar de considerarem Netanyahu como um dos responsáveis pelos falhanços antes e durante o 7 de Outubro, não encontram uma alternativa de que gostem mais, diz a Economist. O líder da oposição, Yair Lapid, não conseguiu capitalizar com a fraca popularidade de Netanyahu e Benny Gantz desceu nos inquéritos de opinião desde que deixou o gabinete de guerra. O candidato mais popular é, segundo as sondagens, alguém que prometeu deixar a política depois de ter saído do breve Governo que chefiou: Naftali Bennett.

O jornalista do site Axios Barak Ravid comenta que, agora, “Netanyahu tem o espaço de manobra político para sobreviver durante pelo menos mais um ano, ou para marcar eleições antecipadas na melhor altura para si”.

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