Kim Kardashian advoga pelos irmãos Menendez, condenados por parricídio

Kardashian defende a libertação de Erik e Lyle Menendez, condenados a prisão perpétua, em 1996. “A consciencialização do público para o trauma do abuso sexual masculino era mínima.”

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Kim Kardashian passou no exame da Ordem dos Advogados da Califórnia para advogados estagiários, em 2021 EDUARDO MUNOZ/REUTERS
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Em Agosto de 1989, um crime em Beverly Hills chocou a América: o empresário musical José Enrique Menéndez e a sua mulher, Mary Louise “Kitty” Andersen, foram assassinados com tiros de caçadeiras. Os dois filhos do casal, Lyle, de 21 anos, e Erik, de 18, alegaram que tinham encontrado os pais, mas a investigação concluiu que tinham sido os irmãos os autores dos disparos. Em 1996, os dois foram condenados a prisão perpétua sem possibilidade de saírem em liberdade condicional.

Quase trinta anos depois da condenação, uma série da Netflix recuperou o caso, explorando os motivos do crime: das alegações de abuso à herança. E, nesta terça-feira, o Ministério Público de Los Angeles anunciou que vai analisar novas provas no caso dos irmãos Menendez. Entretanto, à boleia da comoção que a série causou na opinião pública, Kim Kardashian assinou um artigo de opinião, na NBC News, a pedir a libertação dos irmãos. “Eles não são monstros”, escreve, sustentando que os dois “foram condenados antes mesmo de o julgamento começar”.

A empresária e estrela de reality shows, que passou no exame da Ordem dos Advogados da Califórnia para advogados estagiários, em 2021, está há anos ligada ao Projecto Inocência (​The Innocence Project, no original), uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1992, que se dedica a exonerar indivíduos erradamente condenados, recorrendo a técnicas actuais, nomeadamente a testes de ADN (um dos casos de sucesso correu mundo, em 2020, depois de o homem em causa ter brilhado no programa de talentos America’s Got Talent​). É nessa qualidade que a também influencer, cujo pai Robert Kardashian (1944-2003) foi um famoso advogado e esteve na equipa de defesa de O.J. Simpson, considera que “o caso de Erik e Lyle tornou-se um entretenimento para a nação”.

No texto, Kardashian lembra que “o sofrimento [dos irmãos] e as histórias de abuso foram ridicularizados em sketches do Saturday Night Live”, acusando os meios de comunicação social de terem transformado “os irmãos em monstros”. E continua: “Dois miúdos ricos e arrogantes de Beverly Hills que mataram os pais por ganância. Não houve espaço para empatia, muito menos para compaixão.”

Segundo Erik e Lyle, actualmente com 53 e 56 anos, os dois eram vítimas dos abusos sexuais, físicos e psicológicos do pai desde muito novos. Já a polícia considerou a herança de 14 milhões de dólares (o equivalente a cerca de 35 milhões nos dias de hoje) um motivo mais plausível. No entanto, para Kim Kardashian, os testemunhos dos irmãos não foram tidos em conta: “A consciencialização do público para o trauma do abuso sexual masculino era mínima”, observa, o que, segundo ela, explica o facto de os abusos não terem sido tidos em conta.

Kardashian, que afirma já ter visitado os irmãos na prisão, frisa ainda o facto de mais de vinte membros da família apoiarem os reclusos, inclusive os irmãos dos pais. E destaca o facto de um dos directores do estabelecimento prisional ter confessado que se sentiria confortável em tê-los como vizinhos, sublinhando que a libertação dos dois seria uma forma de repor a justiça, já que a sentença aplicada, diz, está mais condizente com um assassino em série do que com vítimas de abusos sexuais. “Devemos isso a esses meninos que perderam a infância, que nunca tiveram a oportunidade de ser ouvidos, ajudados ou salvos.”

O caso dos dois está a ser reavaliado, tendo o procurador que detém a pasta dado a entender que o gabinete iria investigar as alegações de abuso sexual. Entre as provas apresentadas encontra-se uma carta de 17 páginas que Lyle escreveu ao irmão em Maio de 1990 (documento tido em conta em 1993, em julgamentos separados que os absolveu, e excluído em 1996, no segundo julgamento conjunto, que acabou com a condenação), e o testemunho de Roy Roselló, da banda porto-riquenha Menudo, que, em Maio do ano passado, revelou ter sido violado por José Menéndez quando tinha 14 anos.

Com uma nova audiência agendada para 26 de Novembro, os dois irmãos poderão ver as suas penas reduzidas, face a uma possível reclassificação do grau de homicídio.

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