A celebrar 140 anos, Borges inaugurou adega em Sabrosa e já vindimou na nova casa

No seu 140.º aniversário, a empresa anunciou novos investimentos, na adega e na vinha, e novo logótipo para os seus vinhos. Também lançou um vinho comemorativo, com uvas do Douro e do Dão.

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Gil Frias, presidente executivo do Grupo José Maria Vieira e administrador da Sociedade dos Vinhos Borges Direitos Reservados
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A celebrar 140 anos, a Sociedade dos Vinhos Borges está apostada em fazer crescer a sua operação no Douro, com um novo centro de vinificação e engarrafamento em Sabrosa, que, uma vez concluído, terá representado um investimento de sete milhões de euros. É “um dos maiores investimentos da empresa nas últimas duas décadas”, sublinhou há dias, num jantar de gala que pretendeu assinalar a efeméride, no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, no Porto, o presidente executivo do Grupo José Maria Vieira, que detém a Borges desde 1998, Gil Frias.

“Vamos trabalhar para aumentar a nossa área de vinha. Vamos trabalhar para racionalizar ainda mais as nossas parcelas de vinha com o fito de atingirmos os objectivos que temos para dentro de cada garrafa”, disse ainda o também administrador da Sociedade dos Vinhos Borges sobre os “novos 140” — durante o evento foi apresentado o novo logótipo da empresa, onde surge essa inscrição em latim e numeração romana, Novus CXL.

Em declarações ao PÚBLICO, Gil Frias concretizou o investimento na nova adega do Douro: “cinco milhões de euros na construção e montagem da adega”, onde será feita a “vinificação, o loteamento e o estágio de [vinhos] DOC Douro e Portos”, inaugurada a tempo desta vindima, 750 mil euros para a linha de engarrafamento que será instalada “no início do próximo ano” e que “estará 100% afecta aos vinhos de quinta, aos topos de gama e aos vinhos do Porto” da empresa e o restante, perfazendo “um investimento final global de sete milhões de euros”, também nessa segunda fase, no “aumento de vinificação”.

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A nova adega da Borges em Sabrosa custou 5 milhões de euros, num investimento faseado que há-de chegar aos 7 milhões Direitos Reservados

“Neste momento, está concluída a fase da construção e instalação da adega. Esta vindima de 2024 já está a ser 100% realizada na nova adega”, partilhou o responsável sobre um equipamento que “permite [à Borges] vinificar um milhão de quilos de uvas e [que] é modular”. “Significa que podemos ir aumentando a capacidade de vinificação em função dos nossos objectivos comerciais. No global, no futuro, poderemos vinificar o dobro das nossas vendas actuais de Douro e Portos.”

Uma meta que pode parecer contracorrente com os tempos que se vivem na região, a atravessar a pior crise de que há memória, e num contexto de crise alargada no próprio sector vitivinícola nacional, mas, como deu conta Miguel Carvalheira, director-geral da Borges, no 140.º aniversário da empresa, “em dez anos”, esta conseguiu “um crescimento de 60% nas vendas”. O centro de vinificação da Borges não é, de resto, a única adega nova a surgir ou na calha no Douro — até à vindima de 2025, serão inauguradas pelo mais duas adegas na região.

Questionado sobre o aumento da área própria de vinha, se estavam previstas aquisições ou se a ideia era plantar mais vinha nas regiões onde a Borges está presente — para além do Douro, Dão e Vinhos Verdes —, Gil Frias respondeu que, “a curto e médio prazo, a empresa está concentrada em maximizar a área de vinha dentro das suas próprias quintas”.

“Quer através de reestruturação de vinha, quer através de nova plantação nas quintas já existentes, nomeadamente na Quinta da Soalheira, no Douro, na Quinta de São Simão da Aguieira, na Quinta da Roda, [ambas] no Dão [sendo a Roda a mais recente aquisição da Borges], e na Quinta do Ôro, nos Verdes”, concretizou.

Em 2025, entrarão em produção seis hectares novos na Quinta da Roda, numa “vinha projectada há três anos e que já estará com um nível de produção muito bom, ainda que seja uma vinha jovem”. “Vai-nos aportar brancos de um nível de frescura e acidez excelente e de uma elegância e floralidade irrepreensíveis.”

Para os próximos anos, está “prevista a reestruturação, por ano, de dez hectares no Douro, na Quinta da Soalheira, com vista a melhorar volumes e qualidade”, revelou. “Quanto a aquisições de quintas, para já não temos nada previsto, mas… quem sabe? Estamos atentos a oportunidades sempre numa perspectiva de vinhas de topo de qualidade.”

No evento do passado dia 25 de Setembro, foi lançado um vinho comemorativo, que mistura Touriga Nacional do Douro e Touriga Nacional do Dão. “Um blend das nossas melhores Tourigas”, apresentou Frias, que acrescentou que “cada garrafa é uma verdadeira peça de relojoaria, decorada minuciosamente à mão, com peças únicas e irrepetíveis em chapa bronze e com uma fita de cetim, colada milimetricamente em cada topo e presa à rolha com uma peça anelar de bronze. Dentro de cada caixa individual temos um pequeno livro com a história da nossa empresa”.

O enólogo Fábio Maravilha referiu-se ao vinho, lançado “exclusivamente em garrafas magnum”, sem ano de colheita e que custa 500 euros, como um “elixir” que “transmite a alma do Douro e a elegância do Dão”, resultante do “desafio de provar 80 barricas” para chegar a quatro de uma região e quatro de outra, “de 2020, 2021, 2022 e 2023”.

Há muito que os espumantes fazem parte da história da Sociedade dos Vinhos Borges Direitos Reservados
Trabalhadoras rotulam garrafas da Sociedade dos Vinhos Borges Direitos Reservados
Cartaz publicitário dos Vinhos Borges Direitos Reservados
Cartaz publicitário dos Vinhos Borges Direitos Reservados
A Sociedade dos Vinhos Borges, hoje presente em três regiões, chegou a ter 11 quintas em Portugal Direitos Reservados
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Há muito que os espumantes fazem parte da história da Sociedade dos Vinhos Borges Direitos Reservados

O vinho, uma edição de 1.000 garrafas de 1,5 litros, já exibe o novo logótipo da Borges, que simboliza “o caminho” que o grupo José Maria Vieira quer percorrer nos vinhos. A nova imagem “recupera o “logo mais antigo da empresa” e “o coração vermelho da águia”, que simboliza a paixão da Borges pelo vinho, mantém “a águia bicéfala que representa os fundadores António e Francisco Borges”, assim como o lema “Res Non Verba” (“Actos e Não Palavras”), e estreia a inscrição “Novus CXL”. “Simboliza o que será a nova Borges”, comentou Gil Frias.

Dos irmãos Borges a José Maria Vieira

A velhinha Borges nasceu nos idos de 1884, depois de os irmãos António Borges e Francisco Borges fundarem a sociedade comercial António Nunes Borges & Irmão, conhecida como Casa Borges & Irmão. Ficava na rua do Bonjardim, no Porto, a casa que negociava em câmbios, lotarias, tabacos e, a dada altura, também em vinhos. Foi, contudo, sob a gerência de Artur Lello, na viragem do século XIX para o século XX, que o negócio do vinho prosperou. Em 1904, a Borges adquiriu a Quinta da Soalheira (São João da Pesqueira), na altura, por oito contos. É da propriedade, actualmente com 340 hectares, que saem os melhores vinhos do Porto e do Douro da empresa.

Na primeira metade do século XX, já como Sociedade dos Vinhos Borges, chegou a ter onze quintas próprias, tal era a importância de ter vinha própria e dar resposta à demanda do mercado. E chegou a ser do Estado português, aquando da nacionalização da banca no pós-25 de Abril.

Hoje, a Borges produz vinhos tranquilos no Douro, nos Vinhos Verdes e no Dão e produz Portos e espumantes, “cerca de 8,5 milhões de garrafas por ano”, exportando 55% dessa produção para mais de 70 mercados. Num segmento de entrada, tem marcas históricas como Gatão, Lello ou Fita Azul — todas centenárias; entre 1900 e 1913, a Borges apresentou mais de 70 pedidos de registo de marcas —, produzindo também vinhos de quinta (Simaens, Ôro, Vilancete, Aguieira, Roda e Soalheira).

Na festa do 140.º aniversário da Borges, foi homenageado José Maria Vieira (1939-2008), fundador do grupo que carrega o seu nome. Natural de Baião, estudou à noite no Porto quando já trabalhava na cidade. O primeiro emprego encontrou-o numa mercearia da avenida Rodrigues de Freitas, onde ganhou o gosto pelo café. Deixou esse negócio para trabalhar depois como vendedor num armazém de distribuição de produtos alimentares em Rio Tinto. E em 1962 aventurou-se por conta própria na compra e venda de produtos alimentares numa garagem na mesma freguesia de Gondomar. Nasce então o grupo que lançaria em 1985 a Torrié e que hoje tem 11 armazéns de distribuição em Portugal e seis lá fora. Sem ele, a Borges não seria o que é hoje, considerou Frias.

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