Dois terços dos médicos estão em greve, diz federação sindical

Greve de médicos e enfermeiros está a ter maior impacto nos blocos operatórios. Na ULS de Santa Maria, greve está a ter um “forte impacto” nas cirurgias e consultas de enfermagem.

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Cenário para já calmo no Hospital de São João Tiago Lopes
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O Sindicato do Enfermeiros Portugueses (SEP) avança que a greve destes profissionais de saúde está a ter uma adesão a rondar os 70% no Porto. Em declarações aos jornalistas, uma representante dos trabalhadores, Fátima Monteiro, do SEP, disse ainda que nos cuidados de saúde primários há unidades com taxas de adesão de 80%, o que "geralmente não é costume".

“Não há grande diferenciação entre áreas e unidades ao nível da expressão da greve. As taxas são muito idênticas entre os serviços”, explicou a sindicalista na ala de consultas externas do Hospital de São João. “Independentemente de estar a trabalhar num bloco operatório, nas consultas ou no internamento, o descontentamento existe e é significativo.”

Quanto aos médicos, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, estima que cerca de dois terços dos médicos estão em greve, adiantando que os "constrangimentos maiores" da paralisação se observam nos blocos operatórios dos hospitais, com muitos encerrados.

"Estamos a assumir, por agora, e são dados preliminares que dois terços dos médicos estarão em greve", disse Joana Bordalo e Sá à Lusa, pelas 12h45, referindo ainda que há blocos cirúrgicos encerrados a 100%, funcionando apenas para as urgências.

Estão nesta situação os blocos operatórios dos hospitais de Guimarães, Gaia, Santo António, Penafiel, Amarante, no distrito do Porto, no hospital de Leiria e no IPO do Porto, enquanto em Coimbra, no hospital universitário, a paralisação do bloco central é de 80%, de acordo com os dados preliminares da Fnam.

Joana Bordalo e Sá apontou também neste primeiro de dois dias de greve "muitos constrangimentos" em enfermarias de Medicina Interna, dando como exemplo o Hospital de Gaia, em que a adesão é de 80%, e o Hospital da Figueira da Foz, com 100%.

Relativamente às consultas hospitalares, a líder sindical disse que os números são "mais variáveis", situando-se entre os 50% e os 100%.

Para a presidente da Fnam, estes números espelham "o descontentamento dos médicos". "Estes números correspondem a milhares de médicos, especialistas, médicos internos", realçou, sublinhando que os internos representam um terço da força do trabalho médico no Serviço Nacional de Saúde.

Joana Bordalo e Sá vincou que a Fnam está a sentir "uma forte adesão dos internos, que prestam trabalho, sobretudo, a nível das enfermarias", o que também demonstra "a situação de mais fragilidade" em que se encontram, "com mesmo muito, muito, muito trabalho".

Independentemente dos números — porque a Fnam não vai entrar "em guerra de números" —, afirmou que os constrangimentos nos serviços "eram esperados e são um transtorno para a vida das pessoas", mas apontou que os "verdadeiros responsáveis [por esta situação] são o Ministério da Saúde e Ana Paula Martins [ministra], que nada fez para travar esta situação".

Em Lisboa, na Unidade de Saúde Local de Santa Maria, a paralisação destes profissionais de saúde está a ter um “forte impacto na parte cirúrgica”, nomeadamente nas cirurgias programadas no bloco operatório central. Quanto às consultas, fonte desta ULS refere ao PÚBLICO que a greve está a ter impacto, sobretudo, nas de enfermagem.

Ao início da manhã, à porta do Hospital de São João, no Porto, não era ainda possível aferir os números de adesão, mas o fluxo parecia normal. Perto das 9h30, Carla Martins saía pela entrada principal do Hospital de São João, com a filha, depois de ver adiada a consulta de oftalmologia pediátrica. “A consulta estava agendada há seis meses e só soube do adiamento agora mesmo”, conta ao PÚBLICO. “Nem é possível agendar nova consulta, terei de esperar por um novo agendamento”, rematou.

“Tive consulta, mas onde estive só havia três médicos a trabalhar e não tinha enfermeiros”, diz outra utente enquanto foge da chuva.​

"Política de desinvestimento"

Os médicos e enfermeiros encontram-se em greve esta terça e quarta-feira, por coincidência, estando garantidos serviços mínimos. As urgências estão asseguradas, assim como os cuidados de quimioterapia e radioterapia, cuidados intensivos, cuidados paliativos, hemodiálise e no caso dos enfermeiros também os internamentos.

A Fnam pede negociações sérias com o Ministério da Saúde, liderado por Ana Paula Martins, nomeadamente a decisão de uma grelha salarial até ao final do mês, para que entre em vigor já em 2025.

No caso dos enfermeiros, alguns chegaram a acordo com o Governo na segunda-feira à noite, mas o principal deles, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), não subscreveu e decidiu manter a paralisação. “É inaceitável que a ministra da Saúde não tenha convocado para a reunião o sindicato que mais representa a profissão”, disse Fátima Monteiro, referindo-se ao SEP. “Ficamos à espera de uma nova proposta da ministra e, se quando a recebermos e avaliarmos, a julgarmos insuficiente, continuaremos a lutar e exigir.”

“Os problemas dos enfermeiros são muitos e não são novos. Tem de haver uma valorização efectiva dos profissionais, algo que os fixe para que não abandonem” o SNS, explica a representante do SEP sobre as reivindicações da greve.

Sobre as competências da actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para tutelar a pasta, Fátima Monteiro põe antes o peso sobre os "sucessivos governos”, que considera que têm tido uma "política de desinvestimento" nestes profissionais.

“A luta dos enfermeiros é também a luta dos utentes. E nós vamos continuar a lutar por ter mais e melhor Serviço Nacional de Saúde, o que naturalmente passa por haver mais e melhores condições dos trabalhadores. Há uma cegueira tremenda do Governo por não ouvir os descontentamentos dos trabalhadores, mas não nos vão calar.”

Aumento de 300 euros

Também esta terça-feira, o presidente desta estrutura sindical, José Carlos Martins, disse que, embora o texto do acordo ainda não seja conhecido, "pelas declarações da senhora ministra o acordo é uma vergonha".

"O Ministério da Saúde deve um monte de dinheiro aos enfermeiros dos retroactivos de 2018 a 2022 e, agora, usa esse dinheiro de dívida não paga para uma eventual valorização, ainda que insuficiente, da grelha [salarial], faseadamente, durante três ou quatro anos", afirmou à Lusa.

Na segunda-feira, a tutela chegou a acordo com a plataforma de cinco sindicatos que inclui o Sindicato dos Enfermeiros (SE), o Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), o Sindicato Nacional dos Enfermeiros (SNE), o Sindicato Independente Profissionais Enfermagem (Sipenf) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).

Segundo disse a ministra da Saúde, o acordo prevê um aumento salarial de cerca de 20% até 2027, que começará a ser pago em Novembro deste ano. "Globalmente, é um aumento acima dos 20% e o valor mínimo de aumento será, até 2027, de 300 euros", afirmou Ana Paula Martins aos jornalistas, à margem da inauguração da nova sede da Ordem dos Farmacêuticos, em Lisboa. Além disso, a governante disse que, "pela primeira vez", um governo vai iniciar uma negociação com os sindicatos com vista a um Acordo Colectivo de Trabalho para a profissão.

Além da valorização salarial, os enfermeiros notam que há ainda outras questões a que é preciso dar resposta, dando o exemplo da compensação do risco e penosidade e da actualização das remunerações para enfermeiros especialistas.

O SEP defende, assim, um encurtamento das posições remuneratórias, uma "efectiva valorização" dos enfermeiros especialistas, cuja grelha salarial é igual à do enfermeiro, apesar do investimento de 18 meses na formação "com competências especializadas que têm impacto na melhoria de cuidados prestados". José Carlos Martins lembrou que o SEP aguarda que o ministério reagende a reunião nos termos do protocolo negocial que foi estabelecido com o sindicato e que, nessa reunião, o Governo "apresente o pacote de soluções para o conjunto dos problemas".

Em declarações à RTP3, um dirigente do SEP, Paulo Anacleto, afirmou existir "uma adesão maciça" dos enfermeiros na região de Coimbra, estando "encerradas várias enfermarias" dos Hospitais da Universidade de Coimbra, bem como as consultas externas do Hospital Sobral Cid e perturbados os serviços no Centro de Reabilitação Rovisco Pais. com Lusa

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