A redenção europeia de Maria Luís Albuquerque
Depois do resgate da troika, eis a salvação europeia da nova comissária dos Serviços Financeiros da UE.
Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho e discípula de Vítor Gaspar, autor com orgulho do “enorme aumento de impostos”, está a caminho da sua redenção como comissária europeia dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos.
A social-democrata não foi escolhida para uma das seis vice-presidências, numa altura em que Portugal irá deter o cargo de presidente do Conselho Europeu, mas Ursula von der Leyen conferiu-lhe uma pasta com poder político e um vasto corpo de funcionários que não está no fundo da tabela das prioridades europeias, pelo contrário.
A concretização da união bancária e da união de mercados de capitais surgiu como necessidade depois da crise financeira de 2008, e tem marcado passo nos corredores de Bruxelas devido à dificuldade de todos os Estados-membros se entenderem nesta matéria. Como transmitiu na carta de missão entregue a Albuquerque, Von der Leyen espera que esta encerre estes dois dossiers complexos e que ensombram, na prática, as propaladas virtudes da integração europeia.
Maria Luís Albuquerque ainda terá de enfrentar um minucioso processo de escrutínio no Parlamento Europeu antes de tomar posse, e aquilo que foi apontado por Ursula von der Leyen, quando anunciou a nova composição do Colégio de Comissários (“enorme experiência no sector privado”), como sendo uma mais-valia ainda lhe pode dar algumas dores de cabeça. Se para a presidente da Comissão é importante um ex-governante mas com um perfil mais tecnocrata para fugir às figuras senatoriais da política que muitos países gostam de enviar para o edifício Charlemagne, vários eurodeputados preparam-se para questionar os conflitos de interesse por ter ido trabalhar para a Global Arrow, uma empresa anglo-saxónica especializada na angariação e recuperação de dívida pública e privada e de análise de risco, que esteve ligada à avaliação de activos tóxicos do Banif. Na altura, em 2016, Maria Luís Albuquerque sacudia incompatibilidades, alegando tratar-se de um cargo não executivo.
No Parlamento Europeu, a ex-ministra das Finanças terá de agradar não só aos representantes da sua família política, o Partido Popular Europeu, e aos liberais, mas ir mais além até alcançar os dois terços dos votos.
Se passar no teste, o que muito provavelmente acontecerá, nem mesmo a polémica privatização da TAP, que a levará em breve a nova audição na Assembleia da República, travará a redenção política da ex-ministra. Depois do resgate da troika, eis a salvação europeia de Maria Luís Albuquerque.