Pedro Nuno diz que “calculismo” sobre eleições não decide voto do PS no OE

Só um deputado ousou defender abertamente, na última Comissão Política Nacional do PS, o dar o “tudo por tudo” para evitar novas eleições

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Pedro Nuno Santos não revelou à Comissão Política quais as propostas que vai levar para a negociação com o Governo PAULO NOVAIS / LUSA
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Chama-se Paulo Pisco, tem 63 anos, é licenciado em Filosofia e deputado do PS pelo círculo da Europa há várias legislaturas. Foi ele o único socialista a defender claramente, na última Comissão Nacional do PS, que decorreu em Coimbra no sábado, que o partido devia fazer todos os possíveis para viabilizar o Orçamento do Estado do Governo.

Pedro Nuno Santos respondeu com alguma irritação ao único deputado que ousou enfrentar a estratégia do secretário-geral. Afirmou que nem ele nem o PS estavam movidos por “calculismo” relativamente a futuras eleições e que, para tomar uma decisão com vista ao próximo Orçamento, o PS não tinha que ter medo de eleições.

José Luís Carneiro, que foi o “challenger” de Pedro Nuno Santos nas eleições directas para secretário-geral, assumiu que se devia fazer um esforço “até ao limite” para contribuir para a estabilidade política, mas que “é ao Governo que compete estender a mão ao maior partido da oposição”. Carneiro também falou da exigência de que os dados da execução orçamental sejam divulgados pelo Governo e que o próximo Orçamento deveria ter como base as famosas “contas certas” – expressão cunhada durante o governo Costa – a redução da dívida pública, o crescimento assente na inovação, competitividade e salários. E defendeu que o investimento deve ser centrado na saúde, educação, transportes e mobilidade.

Embora o secretário-geral não tenha informado os membros da Comissão Nacional sobre quais as propostas que tenciona apresentar ao Governo como condições para que o PS viabilize o Orçamento – além das “linhas vermelhas” já conhecidas do fim do IRS Jovem e da diminuição do IRC – ficou a ideia de que seriam propostas na área da educação e saúde.

A paz com Carneiro

As relações entre Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro não foram famosas logo no início do mandato do secretário-geral. Na Comissão Política de onde saiu a expressão “praticamente impossível” relativamente à aprovação do Orçamento do Estado, José Luís Carneiro falou cá fora, aos jornalistas, e não interveio dentro da reunião. Pedro Nuno acusou o toque.

Desta vez, foi tudo diferente. E José Luís Carneiro veio mesmo para as suas redes sociais apoiar a estratégia do secretário-geral relativamente ao Orçamento do Estado. Numa publicação onde fez a súmula do seu discurso na Comissão Nacional, José Luís Carneiro escreveu que “compete ao Governo tomar a iniciativa de apresentar as propostas do Orçamento do Estado. É ao Governo que compete tomar a iniciativa do diálogo e da concertação política”, criticando o Executivo por, ao não apresentar o exercício das contas relativas ao ano de 2024 e as previsões para 2025” ter falhado “não apenas em relação ao maior partido da oposição”, mas também “em relação ao presidente do Parlamento”.

O elogio a Pedro Nuno do seu antigo adversário vem na frase em que Carneiro diz que “o PS e o secretário-geral tudo têm feito e tudo devem continuar a fazer para que o país tenha estabilidade política”. Ora, José Luís Carneiro prefere a estabilidade “quando o país, o Estado e as autarquias têm metas tão exigentes para cumprir”, mas recusa um PS humilhado, exigindo ao Governo “uma atitude de humildade democrática”.

“Praticamente impossível”

No discurso de abertura do secretário-geral do PS, houve um perfume de regresso ao tempo em que era certo o voto contra do PS ao Orçamento do Estado.

Apesar de Pedro Nuno Santos dizer que nunca saiu do mesmo sítio, toda a gente o ouviu dizer coisas diferentes durante o Verão relativamente à aprovação ou não pelo PS das contas do Estado para 2025.

Do “praticamente impossível” aprovar o Orçamento que saiu da Comissão Política logo a seguir às eleições até à entrevista à RTP em que Pedro Nuno admitiu viabilizar caso “o PS não seja ignorado”, o secretário-geral do PS já usou muitas fórmulas semânticas para exprimir o seu pensamento e o secretariado do PS chegou a mandatá-lo para negociar o Orçamento.

Agora, voltou à casa de partida, de onde diz que nunca saiu: é “praticamente impossível” o PS abster-se no Orçamento.

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