A importância da gratidão — mesmo entre pais e filhos

Nas relações entre pais e filhos é tão fácil tomarmo-nos uns aos outros como garantidos, como se cada uma das partes não fizesse mais do que aquilo que lhes compete.

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EDUARDO MOSER/SANDRADESIGN
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Querida Mãe,

Preciso de dizer uma coisa aos avós:

Sei que estão exaustos neste fim de verão. Sei que o rebuliço de jantares e almoços, que prepararam para os vossos filhos e os filhos dos filhos, vos deixou estonteados; que o barulho de não sei quantos netos pequenos a brincar e a discutir, somado à exasperação de verem filhos, genros e noras a aplicar as suas parentalidades, que às vezes mais vos parecem modas, só pode cansar.

Sei que se sentem culpados por vos incomodar ver a casa mais desarrumada, quando simultaneamente nada vos dá mais prazer do que a ter cheia de família feliz por a sentirem sua. Sei que foi preciso engolir alguns sapos, e alguns pés que pisaram, mas que depois vos provocaram remorsos, porque Deus sabe que a última coisa que querem é magoar aqueles que mais amam.

Mas, mãe, só quero que saiba(m) que tudo isso vale a pena! Que são esses dias que ficam gravados no nosso coração. Filhos, netos, sobrinhos, primos, juntos, confusos, entrelaçados. Sim, é difícil juntar adultos na mesma casa quando ninguém faz cerimónia e já há manias diferentes das nossas, mas são estes encontros que tornam a vossa casa A CASA. Obrigada por tudo e, por favor, não se mudem para um T1, ou decidam emigrar para a Amazónia, para ficarem longe de nós!


Querida Ana,

Agradecimentos aceites — estou a treinar-me para aceitar elogios e obrigadas sem discussão, tal como me recomendaste no nosso último podcast. E acredito que todos os avós se sentem retratados tanto nas alegrias de que falas, como nos momentos de cansaço e até exasperação, mas não trocávamos as férias com filhos e netos por nada neste mundo. Mesmo que no final seja preciso tirarmos férias das férias, mas isso também o sentem os pais!

Dito isto, obrigada pelo teu obrigada, porque nas relações entre pais e filhos é tão fácil tomarmo-nos uns aos outros como garantidos, como se cada uma das partes não fizesse mais do que aquilo que lhes compete. Além do mais, a gratidão faz bem a tudo e é o mais poderoso tira-nódoas que existe. Por isso, querida filha, informo-te que acabas de pôr a tabela a zeros, o que significa que, para o ano, já podes voltar a deixar a toalha de praia molhada em cima do meu querido sofá (ler aqui um sorriso).

Quanto à CASA, está sempre à vossa espera!


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990.

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