A beleza tem segurança nela

Tiramos 100 fotos e achamos feiura em todas elas e, anos mais tarde, percebemos que afinal até estávamos muito bem.

Foto
"Ttambém o vermelho das unhas, confidenciou-me a manicura brasileira Thay Rocha, há dois anos a residir em Portugal, é alvo de preconceito" Konstantin Shmatov/Unsplash
Ouça este artigo
00:00
03:24

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Numa destas noites de verão, sentada no sofá, dei com o filme: Sou Sexy, Eu Sei! e a brilhante interpretação de Amy Schummer, no papel de Renee, uma mulher insegura que após acordar de uma queda, passa a acreditar que é a mulher mais bela e capaz do mundo. A película recordou-me outro filme: Seduz-me Se És Capaz, onde o jornalista com ar de desleixado, interpretado por Seth Rogen, conquista a bela Charlize Theron, no papel de candidata à presidência dos EUA. Estes dois filmes, de maneira diferente, alertam para duas questões: por um lado, a existência de padrões enviesados e rígidos, que aprisionam possibilidades de conquista e de metas profissionais, e, por outro, e mais importante, demonstra que a segurança e a autoconfiança, podem não transformar um feio num bonito, mas certamente revolucionam a forma como somos observados.

Sabemos que existe um padrão de beleza cada vez mais feroz, pelo mediatismo das redes sociais, mas a segurança de se achar, mesmo não sendo, desarma quem analisa, quem amplia o ecrã para ver se tem celulite. “Então, mas ela publicou esta foto, mesmo cheia de casca de laranja?” Somos agressivos com os outros e connosco próprios. Tiramos 100 fotos e achamos feiura em todas elas e, anos mais tarde, percebemos que afinal até estávamos muito bem. Também vos acontece, olhar para fotos antigas que nunca chegaram a partilhar ou a publicar e pensar: eu até estava bem aqui… Ou pelo contrário, ver fotos já publicadas e pensar: o que teria eu na cabeça, para ter partilhado esta foto e achar que estava gira?

As avaliações de que somos vítimas, pelo aspeto exterior, podem ser vantajosas ou não. E como é injusto vermos numa joia de pessoa, cara de bandido, ou numas unhas compridas, cor-de-rosa fluorescente, futilidade. Passamos a vida a tentar traçar o perfil aos outros, a fisgar personalidades, pela aparência. E como erramos, na maioria das vezes. É quase como a leitura dos signos do zodíaco. Já sabemos que Escorpião é o pior signo e que os de Peixes são melodramáticos. Fará sentido esta oca apreciação?

Os estereótipos de beleza estão associados a todo o tipo de análise, nem sempre dignificante, como o velho mito da loira burra, associando a cor do cabelo de uma mulher ao seu grau de inteligência. Uma expressão que terá surgido, após o filme Os Homens Preferem as Loiras, de 1953 e que permanece até aos dias de hoje. E mesmo que encarada como “brincadeira”, é desagradável e desadequada. E não é que, também o vermelho das unhas, confidenciou-me a manicura brasileira Thay Rocha, há dois anos a residir em Portugal, é alvo de preconceito. Contou-me esta profissional da estética que as mulheres portuguesas receiam ser confundidas com “trabalhadoras da noite” por usarem vermelho ou cores muito brilhantes nas unhas. Thay desafia-as a fazer o que lhes apetecer e acredita que esse é o caminho para o empoderamento das mulheres, sentirem-se confiantes e bonitas.

Mas, certo é que a hesitação e o medo, perante todo e qualquer estigma, denunciam a fragilidade. Se não falarmos uma língua estrangeira, durante algum tempo, hesitamos, principalmente se estivermos diante de um nativo. Mas, se falarmos com confiança, mesmo sabendo que podemos estar a cometer um erro ou outro, a mensagem passa com mais facilidade. É o mesmo com a beleza, que tem tanto de segurança e confiança nela. Achar-se giro ou gira é meio caminho andado para o ser. Ora experimente!

Sugerir correcção
Comentar