Como lidar com a ansiedade?

É uma emoção tão necessária quanto assustadora e, se não a soubermos gerir, pode tomar conta da nossa vida. A psicóloga Catarina Oliveira ajuda a lidar.

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Perder o sono, o apetite, criar mil e um cenários (irracionais) sobre como tudo pode correr mal. A ansiedade, uma emoção necessária para nos manter vivos (literalmente), para nos ajudar e proteger, pode também tornar-se na nossa pior inimiga.

Quando ela toma conta da nossa vida, é importante actuar (com terapia ou, em alguns casos, medicação), mas há coisas que podemos fazer antes. Cuidar de nós e ter atenção ao que nos rodeia é meio caminho andado para menos ansiedade e mais bem-estar. A psicóloga Catarina Oliveira dá algumas dicas para lidar com esta emoção.

O que é a ansiedade?

É muito simples: a ansiedade “é uma emoção”, tal como “a vergonha, a frustração, a alegria ou a tristeza”.

Apesar de às vezes parecer o nosso maior inimigo, a ansiedade tem, na verdade, uma função protectora e de defesa e, “sem ela, nós, seres humanos, não estaríamos aqui hoje”, refere a psicóloga. É que se recuarmos milhares de anos, percebemos que os nossos antepassados não teriam sobrevivido se não fosse pela ansiedade: quando um urso os viesse atacar, ficariam impávidos e serenos, em vez de se protegerem.

“Hoje em dia, a ansiedade ou o medo não estão no urso, mas antes num trabalho, numa relação, em crenças ou pensamentos que temos. E todos precisamos dela, mas nem todos conseguimos viver com ela”, aponta Catarina Oliveira.

A forma como a ansiedade é vivida varia de pessoa para pessoa, embora possam existir sintomas e comportamentos semelhantes.

Se viste o Divertida-Mente 2, o filme da Pixar que retrata as emoções e se estreou em Julho, a ideia está toda lá. “A ansiedade que chega com as suas malinhas todas, todas as crenças e pensamentos que cria. Porque a ansiedade começa de uma preocupação”, explica.

Também a “criatividade da nossa mente” é retratada, quando vemos a construção de diferentes cenários, ao segundo, de como tudo pode dar errado. “Estes cenários, quando olhamos de uma forma racional, percebemos que são ridículos, mas a ansiedade domina a nossa mente.”

Esse sentimento pode ser avassalador, e é por isso que muitas pessoas preferem evitar lidar com ela. “Mas o truque é enfrentar, mesmo sendo desconfortável, mesmo com o medo presente.”

Quando é que a ansiedade deixa de ser benéfica e passa a ser uma emoção avassaladora?

Se este sentimento começar a “limitar o nosso dia-a-dia, a impedir-nos de dormir, de comer (ou por outro lado, nos faz comer demasiado)”, mas também quando temos “dificuldade em lidar com o outro ou em ir trabalhar, quando deixamos de querer sair de casa ou a ter medos que dominam a nossa vida”, estamos perante uma ansiedade não saudável.

Um exemplo concreto: se temos uma apresentação amanhã, é normal que exista alguma ansiedade antecipatória; mas não é normal se essa ansiedade já se arrasta há uma semana e nos fez deixar de dormir ou comer. E também não é normal se da ansiedade dessa apresentação a ansiedade se generaliza para “todas as situações em que temos de falar com o nosso chefe ou fazer uma apresentação” – ou qualquer outra que “limite o nosso bem-estar no dia-a-dia”.

Quais os sintomas da ansiedade?

Catarina Oliveira divide-os em duas categorias: a parte cognitiva e a parte comportamental. Na parte cognitiva, os sintomas mais comuns são “os pensamentos que nos dizem que não somos capazes, não vamos conseguir, que nos limitam a fazer alguma coisa”. Mas também “a preocupação constante, a irritabilidade e instabilidade”.

A nível físico, há “muitos” aos quais devemos prestar atenção. “Quando não ouves a ansiedade de uma forma, ela arranja maneira de ouvires de outra”, avisa a psicóloga. “Em termos genéricos, pode ser o batimento cardíaco acelerado, respiração ofegante, problemas de pele, queda de cabelo, problemas de estômago ou intestino.” Podem também existir dores musculares, da tensão acumulada.

Quem é mais propenso a sofrer de ansiedade?

“Qualquer pessoa”, afiança a psicóloga. “Nós não nascemos em situações perfeitas, não corre tudo maravilhosamente bem”, começa por explicar. “Pode haver uma situação de bullying na escola, pode haver algo que tenha sido dito na nossa infância ou adolescência, ter pais mais agressivos. Há um conjunto de situações na nossa vida que, se não forem resolvidas no momento certo, podem dar-nos terreno para que determinadas crenças se instalem e a ansiedade esteja presente.”

E se todos nós sentimos, naturalmente, ansiedade, também é possível que todos nós tenhamos “ansiedade que prejudica o dia-a-dia”. A melhor forma de a prevenir é cuidarmos de nós (já lá vamos).

O que não devemos dizer a pessoas ansiosas?

Se houvesse uma lista, estas estariam no topo: “Não penses nisso”, “não tens motivos para estar assim”, “tens uma vida tão boa”.

Há uma regra de ouro, que também aqui se aplica – “às vezes, mais vale ficarmos caladinhos”, ri a psicóloga. “Tudo o que vai desvalorizar o que o outro está a sentir é de evitar. Nem sempre podemos compreender aquilo pelo que o outro está a passar, porque não vivemos aquilo. Podemos dar colo, se for a única coisa que sabemos fazer, e estar ali para a pessoa. É melhor do que dizer algo que a possa magoar a fazer sentir-se invalidada.”

Como lidar?

Trabalhar “o nosso autoconhecimento” é o primeiro passo para prevenir. É importante perceber porque estamos ansiosos e qual o gatilho para nos sentirmos assim. Pode ser uma pessoa, pode ser uma situação, pode ser o comportamento de alguém.

Depois do autoconhecimento, vem o autocuidado que, atenção, “não é ir ao spa ou ao ginásio”: “Ainda que se diga que isso é terapia, não é. Pode ser terapêutico, mas terapia é terapia”, alerta Catarina Oliveira. O autocuidado estende-se à “boa alimentação, hidratação, boa higiene de sono, prática de actividades prazerosas no dia-a-dia”.

E ainda que, muitas vezes, seja necessária terapia e medicação (não é preciso ter preconceitos em relação a ela, assegura a psicóloga) para tratar a ansiedade, o autoconhecimento e autocuidado devem estar em tudo no nosso quotidiano. “Se estamos num trabalho que não nos deixa felizes, pensar em sair; se aquela relação é tóxica, sair dela; se aquele familiar nos diz coisas que nos desagradam temos que ser assertivos ou até nos afastarmos dele.”

A ideia é mais ou menos esta: não é só cuidar da parte de dentro da casa, mas também regar e cuidar do jardim que rodeia o lar.

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