A cantora Mel B e a deputada Paulette Hamilton lideram a campanha do Dia Mundial do Afro, que apela ao Parlamento britânico para legislar sobre a discriminação do cabelo afro. A carta aberta é assinada por mais de 100 personalidades afro-descendentes, que pedem uma actualização da Lei da Igualdade de 2010 para que este tipo de cabelo passe a ser uma característica protegida.
Entre os assinantes, além da Scary Spice das Spice Girls, estão a cantora Beverley Knight, o escritor e activista Patrick Hutchinson, a cantora e apresentadora Fleur East ou a dirigente escolar Evelyn Forde. “A omissão do cabelo como característica protegida na lei facilitou a discriminação quotidiana e a normalização do cabelo afro como inferior em todas as esferas da vida”, declaram na carta.
Cada apoiante escreveu 100 palavras sobre o motivo por que a mudança de mentalidade é fundamental e deve ser incentivada pela lei. “No primeiro vídeo que gravei como Spice Girl, para [o tema] Wannabe, olharam para o meu cabelo e disseram-me que tinha de ser alisado. O meu cabelo grande não se encaixava no molde de estrela pop. Mas eu mantive a minha posição — apoiada pelas minhas companheiras — e cantei e dancei, com o meu cabelo grande, a minha pele morena e estava totalmente orgulhosa de quem eu era”, testemunha Melanie Brown, que se diz “orgulhosa” por ser o rosto do movimento.
O exemplo que passou nesse videoclip de 1996 continua a ter impacto ainda hoje. “As mulheres ainda hoje vêm ter comigo e dizem-me que deixaram de alisar o cabelo. Deixaram os seus caracóis brilhar em todo o lado, porque finalmente conseguiram ter um lugar no grupo das raparigas”, conta, detalhando que as suas três filhas seguem o mesmo exemplo. “Somos quem somos, e ninguém deve tentar discriminar-nos ou mudar-nos.”
Nesta terça-feira, o movimento é levado ao Parlamento britânico, em Londres, para um dia aberto com a fundadora do Dia Mundial Afro (celebrado a 15 de Setembro), Michelle De Leon, o escritor Patrick Hutchinson e a apresentadora Sarah-Jane Crawford, que levam os filhos para falar sobre a “mudança na próxima geração”.
Até porque um dos sítios onde a discriminação ainda perpetua é no ensino — de acordo com um relatório de 2019, 24% dos adultos dizem ter sido vítimas de discriminação na escola pelo cabelo afro. “Muitas crianças do Reino Unido são regularmente castigadas e informadas de que o seu cabelo afro e os estilos de herança africana são inaceitáveis na escola. Esta é uma prática comum há várias gerações”, lamentam na mesma carta aberta, onde alertam para os perigos dos alisamentos capilares desde a infância. “Existem também sérias preocupações em relação à saúde, com níveis mais elevados de substâncias químicas desreguladoras do sistema endócrino encontradas em muitos produtos para o cabelo afro”, escrevem.
E a porta-voz Michelle De Leon insiste: “As leis existem de facto para dizer às pessoas o que está certo e o que está errado e para proteger os grupos minoritários da opressão, da discriminação e da injustiça. Simplesmente não temos as leis certas no Reino Unido para impedir que gerações de discriminação dos cabelos afro continuem.”
A própria deputada Paulette Hamilton desabafa sobre o preconceito de que ainda é alvo, mas coloca a tónica, uma vez mais, nas novas gerações. “Como a primeira deputada negra de Birmingham e como mãe de quatro filhas, sei o impacto que esta campanha pode ter na minha comunidade local e nas pessoas com cabelo afro em todo o Reino Unido”, termina, lembrando que a Grã-Bretanha pode ser exemplo para outras nações nesta temática.
Em Março deste ano, o Parlamento francês aprovou uma lei que proíbe a discriminação contra rastas, tranças, afros e qualquer outro estilo, cor ou textura de cabelo, mas a medida ainda está pendente de validação do Senado.