A TAP queima alguns, mas toca-nos a todos
Politicamente, a “brincadeira” dos aviões tem saído cara a vários governantes ao longo dos tempos.
A Transportadora Aérea Portuguesa (TAP) é um colosso. No final de 2022, tinha quase sete mil trabalhadores, o que a colocava (e coloca) na categoria das maiores empresas do país.
Três anos antes (pré-covid), quando a companhia tinha 9000 funcionários, havia apenas 875 empresas com mais de 250 funcionários (o valor a partir do qual uma empresa deixa de ser considerada média), entre as mais de 889 mil registadas em Portugal.
A TAP é, portanto, um colosso empresarial. Quase a cumprir oito décadas de vida, transporta cerca de 16 milhões de passageiros por ano, tem uma frota de 99 aviões com uma média de idades a rondar os dez anos e fechou o ano de 2023 com lucros recorde de 177,3 milhões de euros.
Ainda assim, a TAP também tem sido sempre um problema colossal que nos toca a todos, quer por via do dinheiro que o Estado lá foi injectando, quer por via dos “negócios simulados” ou de outros contorcionismos e irregularidades recentes que prejudicaram os contribuintes.
Politicamente, a “brincadeira” dos aviões tem saído cara a vários governantes ao longo dos tempos. Só no último Governo, a TAP “queimou” Alexandra Reis, que teve de devolver a maior parte da indemnização recebida quando saiu da empresa; levou Pedro Nuno Santos a demitir-se do Governo; e o terramoto que foi a comissão de inquérito parlamentar à gestão da transportadora teve ainda réplicas em João Galamba. Entre outros.
É verdade que a TAP, se fosse sempre bem gerida, podia não ser um problema — como não o são muitas outras companhias aéreas noutros países. Mas a culpa não será só dos gestores. O constante privatizar-nacionalizar-reprivatizar-renacionalizar por certo não ajuda a criar a estabilidade desejável.
Mas é justamente aí que começam os problemas. A TAP é, neste momento, o assunto em que PS e PSD, mais do que esquerda e direita, podem apresentar modelos distintos de sociedade.
Se o Orçamento é o terreno em que actualmente se parece preferir entrar pela disputa política e em que se procuram (nem sempre com sucesso) outras diferenças ideológicas que justifiquem não chegar a uma negociação, a TAP é o exemplo acabado do que distingue socialistas e sociais-democratas.
Ao contrário do Orçamento, dificilmente levará a eleições antecipadas, mas vai continuar a ser um íman de problemas para governantes. Apesar das potencialidades do negócio que a aviação aérea ainda representa em tempo de alterações climáticas.