O trono maori tem uma rainha pela segunda vez desde o início do movimento da comunidade, em meados do século XIX, altura em que o povo maori decidiu eleger uma figura que se posicionasse em pé de igualdade com a então rainha Vitória, para negociar com os colonizadores britânicos. Nga Wai Hono i te Po Paki, de 27 anos, foi escolhida para ocupar o trono maori e coroada, nesta quinta-feira, por todos os líderes tribais.
Quando Nga Wai Hono nasceu, em 1997, nada fazia crer que um dia se tornaria rainha, uma vez que, na linha de sucessão, o rei maori Tuheitia Pootatau Te Wherowhero VII já tinha dois filhos: Whatumoana Te Aa Paki e Korotangi Paki. O primeiro, porém, foi renegado pelo pai, depois de um casamento que não contou com a bênção do rei, enquanto o segundo se viu envolvido num escândalo, após ter sido o protagonista de um vídeo, no qual se mostrava alterado, que se tornou viral.
Nga Wai Hono, pelo contrário, sempre se destacou pela dedicação à cultura maori: tem um mestrado em estudos culturais maoris pela Universidade de Waikato e recebeu a sua moko kauae (tatuagem no queixo) aos 19 anos, como uma homenagem ao seu pai e aos anos que este passou no trono.
Nesta quinta-feira, após o funeral de Tuheitia Pootatau Te Wherowhero VII, que morreu durante o sono, na sexta-feira, aos 69 anos, após uma cirurgia ao coração, os líderes maoris saudaram Nga Wai Hono como o “novo amanhecer”.
Numa cerimónia a que assistiram milhares de pessoas em Turangawaewae Marae, cidade de Ngaaruawaahia, na região de Waikato, na Ilha do Norte da Nova Zelândia, Nga Wai Hono i te po Paki foi conduzida ao trono pelo conselho consultivo Kiingitanga, um grupo de 12 anciãos de várias tribos, que a escolheram como rainha. Isto porque, ao contrário do que é comum numa monarquia, o trono não é herdado, mas conquistado mediante a aceitação de todos os líderes.
“Seguimos o tikanga dos nossos antepassados que criaram o Kiingitanga para unificar e elevar o nosso povo e escolhemos Nga Wai Hono i te po Paki como a nossa nova monarca”, declarou o presidente da Tekau-Maa-Rua, Che Wilson, citado num comunicado oficial. A princesa foi então ungida com óleos sagrados e abençoada com a Bíblia utilizada para coroar o primeiro rei maori, em 1858, tornando-se rainha.
A ascensão de Nga Wai Hono era tida como natural pela comunidade maori, já que, enquanto princesa, a jovem esteve, nos últimos anos, ao lado do pai em muitos eventos. A advogada do Tratado de Waitangi, Annette Sykes, que trabalha em prol dos direitos dos maoris, afirmou que a nova rainha representa um futuro melhor. “Ela é inspiradora; a revitalização e a recuperação da nossa língua tem sido uma jornada de 40 anos para a maioria de nós e ela é o epítome disso, é a sua primeira língua, ela fala-a com facilidade. O bem-estar político, económico e social do nosso povo está no centro das suas preocupações e, em muitos aspectos, ela é como a sua avó, que era adorada pela nação”, declarou, citada pelo Guardian.
Sykes avaliou ainda a relevância de o conselho, composto exclusivamente por homens, ter escolhido uma mulher como sua líder. “Ela é o novo amanhecer”, concluiu.
Foi em meados do século XIX que os maori decidiram recuperar os antigos conselhos tribais runanga ou conselhos de guerra para fazerem face ao domínio britânico. Foi através destes encontros que Tamihana Te Rauparaha pôde apresentar a sua ideia de formar um reino maori, com um rei a governar todas as tribos. O movimento tinha como objectivo unir os maoris e eleger um monarca que se pudesse apresentar em pé de igualdade com a rainha Vitória. O primeiro a ser coroado rei maori foi o ancião Te Wherowhero, em Junho de 1858, tendo adoptado o nome Pōtatau.