As frases dos meus professores que nunca esquecerei

Há poucas figuras que nos marcam tanto como os professores que passam pela nossa vida. Partilho algumas frases que ouvi em sala de aula e que ficaram gravadas.

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Megafone P3: As frases dos meus professores Getty images
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Há poucas figuras que nos marcam tanto como os professores que passam pela nossa vida. As suas palavras têm o poder de inspirar sonhos, de despertar a curiosidade, e até de mudar a nossa maneira de pensar. Neste artigo, vou enumerar frases que ouvi em sala de aula e que ficaram gravadas na minha memória até hoje.

1. “O amor é como as velas”

“O amor é como as velas. Por vezes, arde tão rápido que a chama se consome e apaga. Quando é verdadeiro, arde a vida inteira.” A professora Maria Gandra foi minha professora de português na escola europeia em Bruxelas. Uma mulher muito culta, interessante e de altas convicções. Foi exilada política antes do 25 de Abril e acabou por assentar na cidade de Bruxelas. Lembro-me de que sempre que mencionava o marido, os seus olhos brilhavam e falava com ternura. Deve ter ardido mesmo a vida inteira. Uso esta frase muitas vezes para me consolar a mim e aos meus amigos em crises amorosas. Pronto, é inevitável. A vela ardeu. Pode ser que a próxima seja uma dessas velas mágicas que ardem a vida inteira.

2. “As melhores histórias são as mais pessoais”

Foi na minha querida Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, famosa por ser esplanada com faculdade, que me inscrevi numa cadeira opcional de Guionismo. Quando entrei na sala, não havia um único lugar livre. O professor Miguel Clara Vasconcelos clarificou que aquele número de alunos não seria exequível, porque a disciplina era um laboratório de escrita. Na introdução, explicou o seu mote: “As melhores histórias são as mais pessoais”. Passou-nos um trabalho de casa — escrever um texto sobre uma experiência que nos tivesse marcado profundamente. Na segunda aula, a sala estava mais vazia porque nem todos tiverem estofo. Foi a minha experiência de Dead Poets Society. Um semestre de escrita intensa, de mergulhar no âmago do subconsciente para escrever sobre o nosso lado mais oculto e sombrio.

3. “Não há almoços grátis”

O professor Luís Oliveira Martins dizia esta frase em praticamente todas as aulas de Economia. Foi uma das minhas piores cadeiras da faculdade, porque verdade seja dita, não sou muito dada a números. Se há uma coisa que ficou na minha memória é que “não há almoços grátis.” Em que situações penso nesta frase? Em muitas, especialmente em contexto de primeiros encontros. É por causa desta aula que sou apologista de dividir todas as contas.

4. “Com a vossa idade, cinco euros dava-me para encher o depósito da mota, comprar um maço de tabaco e ainda sobrava para comprar um pacote de pastilhas.”

Esta professora, que vamos manter em anónimo por razões óbvias, dava aulas a crianças de 12 anos. Os tempos eram outros com certeza, porque hoje em dia, com cinco euros só levávamos mesmo o maço e, para o comprar, teríamos de apresentar cartão de cidadão. É uma boa frase para pensarmos sobre os tempos de inflação, mas também sobre as mudanças económicas e sociais das últimas décadas. Quem me dera a mim comprar um maço e encher o depósito com cinco euros. Quem me dera, nos meus tempos áureos de adolescente rebelde, comprar um maço sem ter de pedir a um amigo mais velho, que compactuava com estas ilegalidades.

5. “Há dias para estudar e dias para viver”

Nesta fase, eu estava a concluir a minha licenciatura e ao mesmo tempo estava no curso do Hot Clube de Portugal. Inscrevi-me nas aulas de piano como segundo instrumento. Tinha trinta minutos de aula por semana e ia para lá cheia de culpa com a minha síndrome de boa aluna, porque não tinha tido tempo para estudar. A verdade é que eu me tinha metido a fazer mais do que podia, mas essa é a história da minha vida. Entrava logo a explicar as mil razões que levaram àquele desleixo. O professor Luís Barrigas, compreensivo, respondia: “Há dias para estudar e dias para viver”. Hoje em dia penso tanto nesta frase. Acho que até ditou o meu método de trabalho no que toca à escrita. Quando me sinto preguiçosa e não me apetece escrever, penso que tenho de viver para ficar inspirada.

No geral, eu sou uma pessoa com muito má memória. Nunca me lembro dos sítios onde estive, nem de datas. Fico frustrada porque sou capaz de ler um livro ou ver um filme e esquecer-me completamente da história. Guardo coisas em sítios específicos para saber onde estão e esqueço-me de onde as guardei. Se me lembro do que estudei no décimo ano em História? Não faço ideia, mas estas frases ninguém me tira.

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