Alterações climáticas: isto não é ficção científica

O arquipélago da Polinésia, onde vivem 11 mil pessoas, pode ficar submerso em apenas 100 anos, o que na história do planeta é uma pequena fracção de tempo

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O Tratado Falepili tem um nome fora do comum e entrou em vigor na passada quarta-feira, no dia 28 de Agosto. Por que é que é tão importante? Porque consiste num acordo entre a Austrália e a nação insular de Tuvalu, que enfrenta o drama do desaparecimento iminente: o arquipélago da Polinésia, onde vivem 11 mil pessoas, pode ficar submerso em apenas 100 anos, o que na história do planeta é uma pequena fracção de tempo. As alterações climáticas, com a subida do nível do mar, ditam o desfecho.

Os subscritores chamam-lhe um “caminho especial de mobilidade”, que permitirá aos habitantes de Tuvalu morar e trabalhar na Austrália, tendo em conta que as próximas gerações terão cada vez menos território físico para habitar. São mais um caso de refugiados climáticos, expressão que parecia alarmista quando começou a surgir há uns anos, mas que hoje em dia não é nada mais nada menos do que algo bem real e tangível.

O Banco Mundial estima que haja 216 milhões de refugiados climáticos até 2050. De acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM), o Brasil, por exemplo, já é o sexto país com o maior número de deslocados internos, devido à maior frequência de fortes inundações, como as que ocorreram em Maio no Rio Grande do Sul. No ano de 2022, mais de 700 mil brasileiros foram, aliás, obrigados a deslocar-se para outras zonas por causa das inundações.

A Unicef também tem estado atenta ao problema e revelou que, entre 2016 e 2021, mais de 40 milhões de crianças terão sido deslocadas em todo o mundo.

Em Portugal, as alterações climáticas manifestam-se especialmente na erosão costeira, aumento da temperatura da água e em períodos maiores de seca. Ao contrário de outros países, não tem havido eventos climáticos extremos que suscitem uma onda imediata de alerta e preocupação, mas a verdade é que Portugal já entrou para o top 20 dos países mais afectados pelas ondas de calor e tem crescido o número de mortes provocadas pelo aumento das temperaturas.

Na bacia do Mediterrâneo, Grécia, Malta e Itália vivem as situações mais dramáticas e as preocupações dos europeus com as alterações climáticas já se fazem sentir mesmo na altura de férias. Um recente trabalho do PÚBLICO reflectia sobre a forma como essas alterações já orientam as escolhas dos turistas: cerca de 76% dos europeus afirmam estar a ajustar os seus hábitos de viagem em função das alterações climáticas, segundo o relatório de 2024 da European Travel Commission (ETC).

Em suma, as consequências das alterações climáticas sentem-se todos os dias em várias vertentes e só mesmo os negacionistas podem ignorá-lo, até porque há mesmo países em risco de desaparecimento e isso não é ficção científica.

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