Paridade dos comissários é “um revés embaraçoso” para Von der Leyen

Com os nomes já conhecidos, menos de 30% do colégio de comissários serão mulheres. Um autêntico cartão vermelho a Von der Leyen.

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Ursula von der Leyen vai liderar a Comissão Europeia num segundo mandato REUTERS/Johanna Geron
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"Quero escolher os melhores que partilham o compromisso europeu e, em termos de números, haverá paridade entre homens e mulheres", disse Ursula von der Leyen, em Estrasburgo, ainda em Julho, pouco depois de ser reeleita, referindo-se à composição do próximo colégio de comissários europeus. Nesta quarta-feira, Portugal e Espanha, com Maria Luísa Albuquerque e Teresa Ribera, respectivamente, responderam positivamente ao apelo da presidente da Comissão Europeia, apresentando duas mulheres. A Dinamarca, um dos países que ainda não tinham enviado o nome, seguiu a norma-padrão dos restantes parceiros e apontou um homem, Dan Jorgensen. O prazo termina no dia 30, sexta-feira, e falta ainda a apresentação de candidatos de três países, mas já se pode tirar uma conclusão: a grande maioria são homens e a paridade é, de facto, uma miragem... O que representa uma derrota para Von der Leyen.

Dos nomes que já se conhecem, e já contando com as apostas ibéricas oficializadas nesta quarta-feira (o nome de Espanha era relativamente conhecido e o de Portugal também já circulava pela imprensa europeia), apenas seis (mais a Alemanha, com a própria Von der Leyen) são mulheres. Ou seja, menos de 30% dos possíveis comissários europeus serão mulheres.

Não só há um cartão vermelho ao pedido de Von der Leyen, como um retrocesso face à realidade existente. Actualmente, são 12 as mulheres que ocupam este cargo, ou seja, 44%. Três países ainda não revelaram o seu candidato: a Itália deverá fazê-lo na sexta-feira, mas, segundo a imprensa europeia, tudo aponta para que seja um homem. Faltam também a Bélgica e a Bulgária, que provavelmente o farão fora do prazo definido.

"A próxima Comissão Europeia poderá ser a mais desequilibrada em termos de género das últimas duas décadas, com apenas algumas mulheres comissárias, devido à falta de vontade dos Estados-membros em apresentarem dois e não apenas um candidatos, como solicitado por Von der Leyen", escreveu na rede social X Alberto Alemanno, professor da cátedra Jean Monnet de Direito e Política da União Europeia na Escola de Altos Estudos Comerciais de Paris.

O pedido de dois nomes, um homem e uma mulher, tinha sido feito na carta que seguiu de Bruxelas para todas as capitais logo em Julho, na qual a presidente da Comissão Europeia lembrava que pretendia, de facto, formar um executivo paritário, insistindo em que os Estados-membros lhe indicassem dois candidatos. "Os líderes dos países da UE rejeitaram o pedido de Von der Leyen para uma escolha, apresentando-lhe, em vez disso, um facto consumado e deixando a chefe da Comissão quase impotente", escreve o Politico Europe esta semana.

Dupla derrota para Von der Leyen

Uma equipa de topo dominada por homens será, assim, "um revés embaraçoso para a estratégia de igualdade de género da União Europeia, que em 2020 apelou a um equilíbrio de género de 50% em todos os níveis de gestão [da Comissão] até ao final de 2024", recorda o diário britânico The Guardian. ​

Para Alberto Alemanno, a curto prazo, uma Comissão dominada por homens "assinala a incapacidade de Von der Leyen impor a sua vontade às capitais europeias no início de um novo mandato", aceitado que "o interesse nacional prevaleça sobre o interesse geral da UE", explica o especialista no X. Para limitar o risco de exposição "para a sua reputação" e de "toda a UE", a presidente tem de manifestar a "sua insatisfação às capitais nacionais e pedir-lhes uma nova lista de candidatos o mais rapidamente possível".

"Um colégio dominado por homens cria um precedente perigoso para o enfraquecimento da autoridade da presidente da Comissão Europeia, que se revela incapaz de exercer as suas prerrogativas em relação aos Estados-membros, enfraquecendo assim ainda mais a autoridade da presidente eleita em relação aos líderes da UE", remata o especialista.

No entanto, o equilíbrio entre géneros ainda pode mudar. O colégio de comissários tem de ser aprovado numa única votação pelo Parlamento Europeu, depois de todos os comissários serem submetidos a audições, o que pode levar a que alguns dos nomes agora conhecidos venham a ser rejeitados. Nos últimos anos, foi mesmo comum a rejeição de nomes depois de os mesmos terem sido apresentados.

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