Uma viagem de oito dias que vai demorar meses: SpaceX vai trazer astronautas da NASA para a Terra
Os astronautas que chegaram à estação espacial em Junho só vão poder partir em Fevereiro. NASA vai recorrer à SpaceX depois de considerar que usar a Starliner da Boeing seria demasiado arriscado.
Os dois astronautas da NASA que chegaram à Estação Espacial Internacional em Junho a bordo da cápsula Starliner da Boeing, que revelou problemas, terão de regressar à Terra num veículo da SpaceX no início do próximo ano, anunciou a Agência Espacial Norte-Americana este sábado, admitindo que os problemas do sistema de propulsão da Starliner são demasiado arriscados para transportar a sua primeira tripulação de volta à Terra.
Os astronautas veteranos da NASA Butch Wilmore e Suni Williams, ambos antigos pilotos de testes militares, foram os primeiros a viajar na Starliner, a 5 de Junho, quando partiram para a Estação Espacial Internacional (EEI) para o que se esperava ser uma missão de teste de oito dias.
Mas o sistema de propulsão da Starliner sofreu uma série de falhas nas primeiras 24 horas do seu voo para a EEI que manteve os astronautas na estação até agora, durante 79 dias, enquanto a Boeing investigava os problemas encontrados.
Os responsáveis da NASA asseguraram, durante uma conferência de imprensa em Houston, que Wilmore e Williams estão seguros e preparados para ficar ainda mais tempo. Vão usar o seu tempo extra no espaço para realizar experiências científicas ao lado dos outros sete astronautas da estação, disse a NASA.
No que é uma rara mudança de planos neste tipo de operações da NASA, espera-se agora que os dois astronautas regressem apenas em Fevereiro de 2025 numa nave Crew Dragon da SpaceX, que deverá ser lançada no próximo mês no âmbito de uma missão de rotina de rotação de astronautas. Dois dos quatro lugares da Crew Dragon serão mantidos vazios para Wilmore e Williams.
A decisão da agência, que acabou por envolver o principal rival espacial da Boeing na solução para o regresso dos astronautas à Terra, é uma das mais importantes da NASA em anos. A Boeing esperava que esta missão da Starliner ajudasse a redimir o seu programa espacial após anos de problemas de desenvolvimento e uma derrapagem de 1,6 mil milhões no orçamento desde 2016.
Cinco dos 28 propulsores da Starliner falharam durante o voo e houve várias fugas de hélio, que é utilizado para pressurizar os propulsores. Ainda assim, a nave conseguiu acoplar-se à estação.
A NASA afirmou em comunicado que a Starliner abandonará a EEI, sem tripulação, no "início de Setembro". A nave espacial tentará regressar à Terra de forma autónoma, renunciando a um dos objectivos centrais do teste: ter uma tripulação presente e a controlar da viagem de regresso.
"Sei que esta não é a decisão que esperávamos, mas estamos prontos para levar a cabo as acções necessárias para apoiar a decisão da NASA", disse Mark Nappi, chefe do programa Starliner da Boeing, à sua equipa, por correio electrónico. "O foco continua a ser, em primeiro lugar e acima de tudo, garantir a segurança da tripulação e da nave espacial", disse Nappi.
Vários responsáveis da NASA e representantes da Boeing tomaram a decisão durante uma reunião na manhã deste sábado em Houston.
O chefe de operações espaciais da NASA, Ken Bowersox, disse que os funcionários da agência votaram unanimemente na Crew Dragon para trazer os astronautas para casa. A Boeing votou a favor da Starliner, que disse ser segura.
A Boeing trabalhou durante anos para desenvolver a Starliner, concebida para competir com a Crew Dragon como opção na corrida dos privados ao espaço — uma corrida que a SpaceX venceu confortavelmente ao enviar a primeira tripulação para o espaço em Maio de 2020. A empresa está também a debater-se com problemas de qualidade na produção de aviões comerciais, o seu principal produto.
A Starliner falhou um teste em 2019, numa viagem não tripulada à EEI, mas foi bem-sucedida numa tentativa de 2022, onde também encontrou problemas com o propulsor. A missão de Junho, a primeira tripulada, era necessária para que a NASA pudesse certificar a cápsula para voos de rotina, mas agora o caminho da Starliner é incerto.