O último dia de Paredes de Coura foi dia de guitarras — e de Fontaines D.C.

O festival regressa de 13 a 16 de Agosto de 2025. Segundo a organização, terão passado pelo festival, este ano, cerca de 100 mil pessoas.

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Fontaines D.C. Paulo Pimenta
PP 17 AGOSTO 2024 PAREDES DE COURA FESTIVAL PAREDES COURA VODAFONE CONCERTO THE JUSES AND MARY CHAIN 
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The Jesus and Mary Chain Paulo Pimenta
PP 17 AGOSTO 2024 PAREDES DE COURA FESTIVAL PAREDES COURA VODAFONE CONCERTO SUPERCHUNK
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Superchunk Paulo Pimenta
PP 17 AGOSTO 2024 PAREDES DE COURA FESTIVAL PAREDES COURA VODAFONE CONCERTO SLOWDIVE
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Slowdive Paulo Pimenta
PP 17 AGOSTO 2024 PAREDES DE COURA FESTIVAL PAREDES COURA VODAFONE CONCERTO HURRRAY FOR THE RIFF RAFF
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Hurray for the Riff Raff Paulo Pimenta
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A edição de 2024 do Vodafone Paredes de Coura chegou ao fim este sábado com um dia em que as guitarras e o rock de diferentes índoles estiveram em foco. Uma banda veterana não aqueceu nem arrefeceu (The Jesus and Mary Chain), outra deu um belo concerto (Slowdive) e outra ainda estreou-se finalmente em Portugal (Superchunk). Mas o dia foi, acima de tudo, dos Fontaines D.C., talvez uma das bandas mais interessantes a fazer rock actualmente.

Hurray for the Riff Raff

Alynda Segarra trouxe a Paredes de Coura o nono álbum do seu projecto Hurray for the Riff Raff, intitulado The Past Is Still Alive. Canções de alt-country que nascem do trauma e estendem a mão. O concerto que abriu o palco principal não foi visto por muita gente, mas o disco merece uma escuta doméstica.

Slowdive

Desde que em 2017 puseram fim a um hiato de quase duas décadas e regressaram com um álbum homónimo, apenas o quarto da sua carreira, que os Slowdive têm sido uma presença regular nos palcos nacionais. Habituámo-nos a tê-los por perto. Este sábado, em Paredes de Coura, o grupo britânico voltou a encontrar-se com o público português. E deu um muito bom concerto, digno de uma das bandas seminais do shoegaze. Um concerto para não nos cansarmos de os termos por cá. Esta foi a sua primeira apresentação em Portugal desde o lançamento, no ano passado, de Everything is Alive, o segundo álbum nascido da reunião. A inclusão de alguns temas novos no alinhamento não mata a sensação de déjà vu. Mas arranjaremos sempre tempo na agenda para um reencontro com canções incríveis como Souvlaki space station ou a mais recente Star roving. Arranjaremos sempre tempo para as guitarras salvíficas de Neil Halstead, que dão abrigo e amparam a queda.

The Jesus and Mary Chain

O concerto da veterana formação escocesa oscilou entre o talento e o aborrecimento. Por vezes, a banda de rock alternativo/noise pop/etc. que influenciou tanta gente aparecia, encharcando com perícia óptimas canções pop em doses apetecíveis de ruído. Mas momentos houve, também, em que o compositor e vocalista Jim Reid parecia quase entediado consigo próprio, ou passava a imagem de que estava meramente a cumprir calendário. Um alinhamento com algumas escolhas menos interessantes e um punhado de pausas compridas entre canções ajudam a contar a história de um concerto que não fica para a história.

Superchunk

Concluído o concerto dos The Jesus and Mary Chain, não foram muitos os que fizeram a curta peregrinação até ao palco secundário, onde os Superchunk finalmente se estrearam em Portugal, depois de 35 anos de carreira. Uma pena, porque a banda da Carolina do Norte, formação fundamental para se contar a história do indie rock americano nos anos 1990, deu tudo – e, felizmente, recebeu muito carinho dos poucos curiosos e convertidos presentes. Foi uma coisa linda, ver o vocalista, guitarrista e compositor Mac McCaughan a correr e a saltar como se fosse 1994 — ano de Foolish, óbvio candidato a um dos melhores discos da banda e álbum cujo 30.º aniversário foi justificação para que vários dos seus temas povoassem o alinhamento. Canção que nunca teria faltado, independentemente da efeméride, era Driveway to driveway, uma das melhores canções sobre corações partidos feitas nos anos 1990 por pessoas que gostavam de guitarras e sentiam as coisas intensamente. Sonhos indie foram cumpridos esta madrugada em Paredes de Coura.

Fontaines D.C.

Disse a organização do festival, este sábado à tarde, que o último dia da edição deste ano foi aquele para o qual haviam sido vendidos mais bilhetes. A enchente era perfeitamente visível nos momentos que antecederam a entrada em palco dos Fontaines D.C., talvez uma das bandas mais interessantes a fazer rock actualmente. Dois anos após a estreia em Portugal, com um concerto celebrado no Nos Alive, no Passeio Marítimo de Algés, os irlandeses voltaram a mostrar serviço: encerraram o Paredes de Coura com o concerto da noite.

Um concerto de pós-punk gótico (mas não só) em que o vocalista Grian Chatten, vestindo uma T-shirt dos Rolling Stones e calções baggy, foi de uma Irlanda que não apoia os seus jovens –​ Hold a mirror to the youth and they will only see their face, dispara numa essencial I love you – àquilo que é ser um irlandês a viver em Londres (ou, em termos mais globais, àquilo que é procurar comunidade longe de casa), da renúncia ao pensamento próprio e independente perante a pressão para se ter a opinião certa (Televised mind) à distopia do mundo moderno –​ In the modern world, I don't feel anything/ I don't feel bad, ouvimos numa música que integra Romance, álbum que sai já na próxima sexta-feira e que, a julgar por este e outros temas, amplia a paleta sonora da banda (nesta canção há guitarra acústica e arranjo de cordas a dialogarem, enquanto numa Starbuster, que já está cá fora e é já uma favorita entre os fãs, existe uma aproximação ao hip-hop). Aguardamos com entusiasmo, porque estes Fontaines D.C. são um caso cada vez mais sério.

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