Extremistas israelitas atacam localidade palestiniana na Cisjordânia
Autoridade Palestiniana diz que um jovem de 23 anos foi morto por ataque de colonos. Israel diz que está a investigar.
Um grupo de dezenas de colonos israelitas entrou na quinta-feira à noite na localidade palestiniana de Jit, perto de Nablus (Norte da Cisjordânia ocupada por Israel) e incendiou pelo menos quatro casas e vários carros, atirando pedras e cocktails Molotov. O ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana diz que um jovem foi morto por um tiro disparado pelos extremistas e outro ficou ferido com gravidade.
O Exército israelita diz que, minutos depois do “incidente grave”, soldados foram para o local e usaram meios anti-motim e disparos para o ar para retirar os civis israelitas da localidade palestiniana. Disse também ter feito uma detenção ainda no local.
O Exército disse que está a investigar a morte do palestiniano em conjunto com a polícia e os serviços de segurança interna (Shin Bet).
As forças de segurança são frequentemente criticadas por não só demorarem a chegar a locais afectados como por vezes parecerem estar lá para proteger os colonos e não para impedir acções violentas.
A violência na Cisjordânia estava já a aumentar até antes do ataque de 7 de Outubro do Hamas, mas desde então registaram-se 1250 ataques de colonos contra pessoas e propriedade palestiniana na Cisjordânia, segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
O Governo de Benjamin Netanyahu tem avançado com políticas de crescimento dos colonatos e apropriação de terras palestinianas. Dois dos seus ministros, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, são, eles próprios, colonos.
Os EUA condenaram o ataque e o Departamento de Estado disse que estas acções "têm de acabar". O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, propôs sanções a quem no Governo permita estes ataques.
Legalização de colonatos selvagens
Ainda nesta quinta-feira, a organização não-governamental Bimkom – Planners for Planning Rights, divulgou um relatório sobre planos do Governo para legalizar 35% dos colonatos selvagens na área C da Cisjordânia. Os colonatos selvagens são colonatos feitos à revelia das autoridades e por isso considerados ilegais pelo próprio Estado de Israel (a distinção é indiferente perante o direito internacionais, que considera qualquer colonato civil em território militarmente ocupado como ilegal). Muitos são, no entanto, legalizados mais tarde.
O relatório diz ainda que a iniciativa inclui a regularização de 63 dos 200 colonatos selvagens na área C, uma área sobre a qual Israel tem controlo militar total, ligando-os à rede de electricidade e água (a divisão da Cisjordânia entre três áreas, A, B e C, com diferentes graus de autonomia palestiniana, foi feita nos acordos de Oslo de 1993-95, prevendo-se na altura que seria temporária até à criação de um Estado palestiniano).
O relatório também diz que em 49 dos 63 casos, os colonatos incluiram a apropriação de territórios privados palestinianos.
Um barril de pólvora
“Tem havido um aumento de ataques por uma minoria de colonos”, declarou ao New York Times David Makovsky, director do projecto Koret de relações árabes-israelitas do think tank Washington Institute. “A Cisjordânia é um barril de pólvora. Não é a frente para onde se olha, mas é outra frente na guerra.”
Na reacção à violência em Jit, o primeiro-ministro foi rápido na sua condenação, embora, diz o Times of Israel, pareça tê-la apresentado como uma tentativa de lutar contra terrorismo e não como um acto de terrorismo em si. Dizendo que considera o incidente “grave”, continuou: “quem luta contra o terrorismo são apenas as IDF [Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês] e as forças de segurança, e mais ninguém”.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, denunciou “a meia dúzia de extremistas” responsáveis pela violência em Jit “enquanto os nossos soldados estão a lutar em várias frentes para defender o Estado de Israel”.
O ministro das Finanças, pelo seu lado, disse que os responsáveis não eram colonos. A acção “não está de modo nenhum ligada ao movimento dos colonatos ou a colonos”.
Já o outro ministro que é também colono, Ben-Gvir, disse que a responsabilidade era do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Herzi Halevi e do ministro da Defesa, declarando que estes “não apoiam os soldados que disparam contra terroristas, o que leva ao tipo de incidentes como este”, declarou, citado pelo Times of Israel.