Negociações para cessar-fogo em Gaza vão passar por conversas paralelas com o Hamas
Chefes de espionagem de Israel, EUA e Egipto conversam em Doha com primeiro-ministro do Qatar. Mediadores estão a pensar consultar a equipa do Hamas que recusou participar nas negociações.
Uma nova ronda de conversações sobre o cessar-fogo em Gaza está em curso na capital do Qatar, Doha, onde o chefe de espionagem de Israel se juntou aos seus homólogos dos EUA e do Egipto e ao primeiro-ministro do Qatar. O porta-voz da segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, confirmou que as conversações começaram oficialmente, mas advertiu que era improvável que chegassem a um acordo na quinta-feira e que provavelmente continuariam na sexta-feira.
O Hamas recusou participar nesta reunião à porta fechada por estar comprometido com a proposta que lhe foi apresentada a 2 de Julho e considerar que estas negociações seriam um "voltar à estaca zero". No entanto, os mediadores planeiam consultar a equipa de negociação do Hamas sediada em Doha, após a reunião, disse à Reuters um funcionário informado sobre as conversações.
A ronda de negociações, um esforço para pôr fim ao derramamento de sangue em Gaza e trazer 115 reféns israelitas e estrangeiros para casa, foi organizada quando o Irão parecia prestes a retaliar contra Israel na sequência do assassinato do líder do Hamas, Ismail Hanyeh, em Teerão, a 31 de Julho.
Com os navios de guerra, submarinos e aviões de guerra dos EUA enviados para a região para defender Israel e dissuadir potenciais atacantes, Washington espera que um acordo de cessar-fogo em Gaza possa afastar o risco de uma guerra regional mais alargada.
A delegação israelita inclui o chefe de espionagem David Barnea, o chefe do serviço de segurança interna Ronen Bar e Nitzan Alon, que depois do ataque do Hamas de 7 de Outubro foi nomeado comandante do dispositivo de informação para a localização de pessoas raptadas e desaparecidas, informaram as autoridades de defesa.
O director da CIA, Bill Burns, e o enviado dos EUA para o Médio Oriente, Brett McGurk, representaram Washington nas conversações, convocadas pelo primeiro-ministro do Qatar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, estando o chefe dos serviços secretos do Egipto, Abbas Kamel, também em Doha.
Israel e o Hamas acusaram-se mutuamente de não terem conseguido chegar a um acordo mas, no período que antecedeu a reunião, nenhum dos lados pareceu excluir a possibilidade de um acordo. Uma fonte da equipa de negociação israelita disse na quarta-feira que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu permitiu uma margem de manobra significativa em algumas das disputas substanciais.
As lacunas incluem a presença de tropas israelitas em Gaza, o sequenciamento da libertação de reféns e as restrições à livre circulação de civis do sul para o norte de Gaza.
Kirby disse aos jornalistas que os negociadores estavam concentrados em reduzir as lacunas e implementar o acordo-quadro, que, segundo ele, tinha sido "geralmente aceite" por ambas as partes. "Os obstáculos que restam podem ser ultrapassados e temos de encerrar este processo", afirmou. " Hoje é um começo prometedor".
Na véspera das conversações de quinta-feira, o Hamas, que rejeita qualquer intervenção norte-americana ou israelita na definição do "dia seguinte" à guerra em Gaza, disse aos mediadores que se Israel fizesse uma proposta "séria" que estivesse de acordo com as propostas anteriores do Hamas, o grupo continuaria a participar nas negociações.
Sami Abu Zuhri, alto funcionário do Hamas, disse à Reuters na quinta-feira que o grupo está empenhado no processo de negociação e pediu aos mediadores que garantam o compromisso de Israel com a proposta que o Hamas acordou no início de Julho, que, segundo ele, acabaria com a guerra e exigiria a retirada total das tropas israelitas de Gaza.
Enquanto os negociadores chegavam ao Qatar, os combates prosseguiam em Gaza, com as tropas israelitas a atingirem alvos nas cidades meridionais de Rafah e Khan Younis.