Alfredo da Costa fez 25 partos num dia, um recorde difícil de manter

“Este esforço não pode ser contínuo. Os profissionais não aguentam”, avisa presidente da Unidade Local de Saúde de São José.

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Muitas das grávidas que maternidade está a receber são da margem Sul, algumas da zona de Santarém, mas também há mulheres que vão pelo próprio pé Rui Gaudêncio
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A Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, realizou, na segunda-feira, 25 partos, o número mais alto desde 2013, com "um grande esforço" dos profissionais que não é possível manter por muito mais tempo, alertou esta terça-feira a presidente da instituição.

Na segunda-feira, dia em que estiveram encerradas cinco urgências de Ginecologia e Obstetrícia, a maternidade registou 98 admissões e realizou 25 partos, cinco dos quais cesarianas, o número mais elevado, pelo menos desde 2013, ano em que num dia de Janeiro se registaram 22 partos.

"Desde 2013 que não se fazia tantos partos", disse a presidente da Unidade Local de Saúde de São José, Rosa Valente de Matos, enaltecendo "o grande esforço" de uma equipa que "tem alterado as suas férias, o seu período de descanso para poder responder, neste momento, às necessidades" do país e da zona de Lisboa.

A administradora alertou, contudo, que este esforço "não é possível de se manter por muito mais tempo", porque a equipa é a mesma que foi pensada para realizar um menor número de partos e "os profissionais têm as suas limitações e estão cansados".

"Este esforço não pode ser contínuo. Os profissionais não aguentam, portanto temos estado a trabalhar em rede com o senhor director executivo, no sentido de que as grávidas que possam ter alta possam ir para os seus hospitais de origem", disse, observando que 60% das mulheres que a maternidade está a atender são fora da área de Lisboa.

Segundo esta responsável, muitas das grávidas que unidade de saúde está a receber são da margem Sul, algumas da zona de Santarém, mas também há mulheres que vão pelo próprio pé porque sabem que a maternidade está aberta. Perante o fecho previsto de sete urgências de Ginecologia e Obstetrícia na quinta-feira (feriado), oito no sábado e sete no domingo, a articulação vai ter que ser ainda maior por parte dos outros hospitais para poderem receber as mulheres, avisa.

"O senhor director executivo do Serviço Nacional de Saúde de certeza que estará a pensar em como - havendo menos maternidades abertas - essa articulação tem que ser feita, para que o esforço não recaia só sobre a maternidade, cuja capacidade também é um bocadinho limitada", prossegue. "Temos 30 camas de puerpério. Obviamente, se não houver articulação com outros hospitais, para as grávidas que já tenham parido poderem ter alta com os seus bebés e poderem ir para o seu hospital de residência ou mesmo para as suas casas, é impossível".

A Alfredo da Costa tem registado uma média semanal de 442 atendimentos na urgência em Agosto, acima da média de Julho (320), e uma média de 13 partos por dia, 15 ao fim-de-semana (no mês homólogo de 2023 foram 11c).

A enfermeira directora da Unidade Local de Saúde de São José, Maria José Costa Dias, também destaca o número de partos realizados num só dia, atribuindo este aumento ao encerramento de outras maternidades e ao facto de as grávidas saberem que a esta instituição tem as portas abertas.

"Algumas vêm por sua iniciativa e nós estaremos cá para dar a nossa melhor resposta possível, com as contingências que também temos", diz Maria José Costa Dias, realçando o espírito de missão dos profissionais para tentarem "dar a sua melhor resposta".

Rosa Valente de Matos também quis deixar uma mensagem de agradecimento aos profissionais das equipas de urgência e do serviço de Neonatologia, que dá resposta aos recém-nascidos que têm de ir para os cuidados intensivos."Temos que estar todos muito agradecidos à grande equipa que temos na maternidade. É uma maternidade escola, vai fazer 100 anos, é uma referência a nível nacional e eu penso que também é essa a razão por que os profissionais sentem o esforço que têm que fazer para a preservar como uma referência a nível nacional", realça.

A Direcção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde indica que foram realizados no fim-de-semana passado 114 partos em Lisboa e Vale do Tejo, 56 no sábado e 58 no domingo.

No sábado a maioria dos partos foi feita na Unidade Local de Saúde Loures-Odivelas, com 12 partos, e na Alfredo da Costa, com 15. Já no domingo, a maior parte foram feitos nos hospitais de Cascais e Amadora-Sintra, com 11 partos cada, e nesta maternidade, com dez.