Onze maternidades indisponíveis para receber grávida. Bombeiros percorreram 170km

Bombeiros tiveram de transportar grávida desde Torres Vedras até Coimbra, numa distância de 170 quilómetros, porque maternidades mais próximas não tinham disponibilidade para a receber.

Foto
Informação sobre a possibilidade de os hospitais receberem as grávidas é "extraordinariamente dinâmica" e tem exigido da central médica do INEM uma multiplicidade de contactos telefónicos Matilde Fieschi
Ouça este artigo
00:00
04:07

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

No sábado, dez maternidades de hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo e a de Leiria estavam ou encerradas, “sob grande pressão” ou com “constrangimentos” que as impediam de receber grávidas enviadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Foi por isso, explica o INEM, que nesse dia os Bombeiros Voluntários de Torres Vedras tiveram de percorrer 170 quilómetros para transportar uma grávida até Coimbra, uma notícia avançada pelo Correio da Manhã.

Aqui, a versão do comandante dos Bombeiros de Torres Vedras é a de que ainda se viram confrontados com a recusa da maternidade Bissaya Barreto, também em Coimbra, em receber a utente, por falta de vagas. A grávida acabaria por ser atendida na Maternidade Daniel de Matos, na mesma cidade.

“Os únicos hospitais mais próximos que poderiam, eventualmente, receber a utente seriam o HFF [Hospital Fernando da Fonseca, o Amadora-Sintra], Beatriz Ângelo [Loures] ou Barreiro, mas estas unidades hospitalares encontravam-se já sob grande pressão e a receber as grávidas de toda a região de Lisboa, Margem Sul do Tejo e Litoral Alentejano”, esclarece o INEM, em resposta escrita. De igual forma, acrescenta, “Cascais, São Francisco Xavier e MAC [Maternidade Alfredo da Costa] apresentavam constrangimentos e não estavam a receber utentes referenciadas pelo CODU”.

Neste contexto, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes decidiu encaminhar “a utente para Coimbra, considerando que os restantes hospitais a norte, mais próximos, também não representavam alternativa válida por terem comunicado ao CODU constrangimentos ou encerramentos (Caldas da Rainha, Vila Franca de Xira, Santarém, Abrantes, Leiria)”.

Quanto à Maternidade Bissaya Barreto, esta "recusou receber a utente por falta de vagas e por não ter existido por parte do CODU um contacto telefónico prévio, tendo a utente sido depois admitida na Maternidade Daniel de Matos, em segurança e contando sempre com o acompanhamento da tripulação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”.

Relativamente à demora referida pelo Correio da Manhã, o INEM especifica que "a chamada inicial para esta situação foi às 6h17 e pelas 8h52 a Maternidade Daniel de Matos informou o CODU de que receberia a utente, não se confirmando as cinco horas referidas na notícia".

O INEM assume que “tem enfrentado inúmeros desafios para cumprir a sua missão de referenciação” de grávidas, “considerando as carências e as dificuldades sentidas de forma generalizada pelas unidades hospitalares para assegurar o funcionamento das urgências de obstetrícia e blocos de partos”. Acrescenta que "a informação sobre a possibilidade de os hospitais receberem as grávidas é extraordinariamente dinâmica, exigindo por parte da central médica do INEM uma multiplicidade de contactos telefónicos para que seja possível assegurar vagas para estas utentes".

Problemas no transporte de doentes

Já a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) avisou que há problemas com o transporte de doentes urgentes para longe da sua residência, sobretudo nos distritos de Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal, devido ao encerramento rotativo de várias urgências hospitalares.

"É em Leiria, Santarém, Lisboa e Setúbal que está o foco do problema, que não é generalizado, embora haja situações pontuais em Coimbra e Beja. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) tem estatísticas sobre quais são as urgências e a que horas estão saturadas, quais os corpos de bombeiros que estão a uma hora de distância das urgências e parece que ninguém quer resolver isto", afirmou à Lusa o presidente da LBP, António Nunes.

A LBP especifica que a ambulância dos bombeiros de Torres Vedras foi accionada pelas 6h23 pelo CODU para uma grávida em "possível trabalho de parto". Quando estavam junto da grávida, os bombeiros foram informados pelo CODU de que o hospital mais próximo seria Abrantes, mas, na dúvida sobre a sua disponibilidade, reencaminharam a ambulância para a Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra. Quando chegaram a Coimbra, foram informados de que a doente não seria admitida, tendo sido indicada a Maternidade Daniel de Matos, na mesma cidade.

"A situação que se passou é inconcebível", defendeu António Nunes, acrescentando que "estas situações repetem-se com frequência e estão a agravar-se". A LBP tem vindo desde, pelo menos, há um ano a alertar para o problema e a queixar-se de que o CODU "não está a trabalhar adequadamente".