Longa vida ao Porto Tónico – e não só

Os cocktails com vinho do Porto estão na moda e são uma aposta das marcas para chegarem a um público mais jovem, sobretudo com bares pop-up durante o Verão.

Foto
Cocktails com vinho do Porto, Público, Fugas, Terroir
Ouça este artigo
00:00
05:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O vinho do Porto tem ajudado o Red Frog a manter-se na lista dos 100 melhores bares do mundo. Se em 2017 o bar lisboeta alcançava a 92.ª posição – o primeiro bar português a conseguir o feito –, no ano seguinte saía da lista. Paulo Gomes, bartender e um dos fundadores do bar, ficou surpreendido com a despromoção e tentou perceber a razão. “Estávamos a fazer algumas coisas bem e outras não”, confessa. “Uma delas era não trabalharmos nada do que era nosso, coisas que nos distinguiam dos outros bares.”

A partir daí, começou a apostar em produtos portugueses, entre eles fortificados como o vinho do Porto. “É superversátil se soubermos o que extrair dele”, começa. “Digo que podemos olhar para o vinho do Porto como olhamos para o vermute, mas sem aquela complexidade. Conseguimos fazer tudo o que fazemos com um vermute, um Manhattan ou um Negroni, por exemplo.”

Na carta do Red Frog, e com o bar agora a ocupar a 88.ª posição na lista dos 100 melhores do mundo, Paulo e o sócio, Emanuel Minez, optaram por cocktails menos convencionais. Como o Fake Wine (15 euros), que à primeira vista parece um simples copo de vinho branco, mas que, na verdade, é uma mistura de ingredientes como pimentos, água de tomate, Martini Fiero, rúcula e vinho do Porto Graham’s Blend n.º 5, um blend criado pela marca para cocktails, sobretudo para um público “mais novo consumir”, diz Paulo. “Os ingredientes são todos destilados e clarificados para parecer vinho branco, mas tem essas notas.”

Outro dos clássicos do bar, criado em 2017 e na carta há vários anos, é o Zeppelin Funk Punch (16 euros), uma versão do Milk Punch com vinho do Porto, gin, chá Earl Grey fumado, mirtilos e leitelho. “Nos Estados Unidos trabalham mais o vinho do Porto na coquetelaria do que nós”, continua o fundador do Red Frog. “Não estamos tão habituados.”

Ainda assim, nos últimos anos tem havido uma explosão de cocktails com Porto, sobretudo do Porto tónico, um bom substituto para o clássico gin tónico, embora seja uma receita “bastante antiga, dos anos de 1970”, sublinha Paulo. “Aliás, foi uma das primeiras receitas de algo misturado em Portugal.”

O Zeppelin Funk Punch, do Red Frog, é uma versão do Milk Punch com vinho do Porto, gin, chá Earl Grey fumado, mirtilos e leitelho. DR
Emanuel Minez e Paulo Gomes são proprietários do Red Frog, o primeiro bar português a entrar no top 100 da lista The World's 50 Best Bars. Rui Gaudêncio/Arquivo Público
Fotogaleria
O Zeppelin Funk Punch, do Red Frog, é uma versão do Milk Punch com vinho do Porto, gin, chá Earl Grey fumado, mirtilos e leitelho. DR

Hugo Silva, consultor de bares e director da escola Cocktail Team, a funcionar desde 2005 no Cacém, em Sintra, fala numa “ascensão” e numa “redescoberta” de cocktails com vinho do Porto. “Adiciona profundidade e complexidade aos cocktails que é difícil replicar com outros ingredientes”, descreve. “A doçura equilibrada e os aromas ricos transformam uma bebida simples numa experiência sofisticada e única.”

Nas aulas práticas da escola ou nos eventos que organizam, o vinho do Porto está cada vez mais presente. “Para cocktails, damos preferência aos tawny, por serem vinhos jovens e fáceis de harmonizar com outros ingredientes e sabores.”

Na cidade do Porto, qualquer bar que se preze tem um Porto tónico na carta. Mas os turistas começam a querer descobrir novas combinações, algumas que nem estão na lista. Felipe Maia, bartender do hotel de cinco estrelas Casa da Companhia, na movimentada Rua das Flores, está habituado a improvisar outros cocktails com Porto. Por exemplo, um Porto Sour ou um Porto Negroni (todos a 9 euros), este último o seu preferido. “Costumo sugerir estes cocktails quando alguém me diz que quer experimentar o vinho do Porto de uma forma diferente”, diz o bartender brasileiro, que prepara os cocktails em poucos minutos.

Foto
O clássico Porto tónico assegura "80% dos pedidos" do pop-up 1982 Garden Bar, da Churchill's. Native Birds/DR
Foto
O 1982 Garden Bar, em Vila Nova de Gaia, toma partido de um jardim com vista para o Douro e um mural de Kruella d’Enfer. Native Birds/DR

Pop-ups com relva e drag bingo

No Verão, várias casas de vinho do Porto apostam em bares pop-up, sobretudo aos fins-de-semana. É o caso do 1982 Garden Bar, da Churchill’s, mesmo ao lado das caves da empresa, em Vila Nova de Gaia, que só funciona de sexta a domingo e quando o tempo permite. “Normalmente abrimos de Maio a Outubro”, diz Márcia Ribeiro, que tem como função receber os clientes.

Muitos são turistas que terminam ali a sua visita às caves. Outros são curiosos que descobrem o espaço, uma espécie de oásis que tem jardim com vista para o Douro e um mural da artista Kruella d’Enfer.

Na inauguração do bar, em 2020, a marca tinha cestos de piquenique com petiscos para levar para o jardim. Agora, o menu é “bastante simples”, diz Márcia, e inclui apenas dois cocktails: o Porto tónico (8,50 euros) e o Gricha Mule (10 euros). O primeiro corresponde a “80% dos pedidos” do bar. O segundo é uma versão do Moscow Mule, com Churchill’s Dry White Port, ginger beer, pepino, lima e folhas de hortelã.

Apesar de haver algumas mesas de madeira, a ideia é que as pessoas se sentem na relva em toalhas. Para Márcia, os cocktails com Porto estão na moda. “Sem dúvida. Ainda há pouco tivemos clientes que tomaram um Porto tónico em Lisboa e vieram para experimentar o da Churchill’s.”

Também a Symington abriu um bar pop-up no ano passado, o Rebel Port Club, na Baixa do Porto, nas traseiras da loja de roupa LOT – Labels of Tomorrow. Rita Bulhosa, responsável pelos eventos e activações da empresa, conta que até 2019 não costumavam organizar eventos. “Hoje em dia fazemos cerca de 50 por ano e as pessoas estão a aderir cada vez mais. O vinho do Porto é visto como uma coisa muito tradicional e estamos a tentar chegar a um público mais jovem.”

O pop-up Rebel Port Club, da Symington, funciona na Baixa do Porto, até Outubro. DR
Na carta do Rebel Port Club há seis cocktails com Portos das marcas Graham’s e Cockburns. DR
O drag bingo, jogo de bingo apresentado por uma drag queen, é uma das propostas mais ousadas da programação do Rebel Port Club. DR
Fotogaleria
O pop-up Rebel Port Club, da Symington, funciona na Baixa do Porto, até Outubro. DR

O bar, a funcionar de quarta a domingo e aberto até Outubro – mais uma vez, “se o tempo permitir” –, tem uma carta com seis cocktails das marcas Graham’s e Cockburns, pensados por Iolanda Lourinha. Além do Rebel Port (6,50 euros), uma versão do tradicional Porto tónico, um dos mais pedidos é o White Collins (7 euros), uma reinvenção do Tom Collins com maçã e gengibre.

A ideia do espaço, numa antiga capela pintada de preto, é tornar o vinho do Porto uma “coisa menos séria”, continua Rita. Além de concertos e exposições de entrada livre, planeiam nas próximas semanas organizar workshops de cocktails com Porto e mais uma edição (a terceira) do drag bingo, um bingo apresentado por uma drag queen, com prémios como cocktails e garrafas de Porto. “Mais fora da caixa”, resume Rita.

Sugerir correcção
Comentar