A “stora” só queria perder peso e acabou a desbravar o breaking para as mulheres
Com 41 anos, a senhora professora Ayumi vai ensinar as jovens a dançar – não as alunas dela, mas as rivais em Paris. Tem idade para ser mãe de muitas delas e diz ao PÚBLICO que se sente com energia.
Não há justificação mais óbvia para o breaking ser desporto olímpico do que uma busca por público jovem. Também por isso não é uma modalidade fixa – em Los Angeles 2028 já não estará –, mas, se cumprir aquilo a que se propõe, trará público mais novo aos Jogos de Paris. Público novo que poderá idolatrar uma campeã já na faixa dos... 40 anos.
“Sou velha, mas não me sinto velha”, disse Ayumi Fukushima à AFP, há alguns meses, ideia que desenvolveu ao PÚBLICO, nesta sexta-feira: “Sinto-me com energia. E estou a adorar estar no meio destes jovens”. E foi isto. A breve conversa não deu para mais, até porque já isto foi ligeiramente à revelia das regras. Mas adiante.
Por falar em regras, há uma regra de senso comum que nos diz que qualquer pessoa que diga “no meu tempo...” ou “na minha geração...” está a precisar de um banho de juventude. “Agora, alguns deles já conseguem viver da dança, mas na minha geração era comum trabalhar enquanto dançávamos”, apontou Ayumi.
Como usou a expressão “na minha geração”, está a precisar do tal banho. E vai tê-lo em Paris. Das 15 rivais em Paris, Ayumi, de 41 anos, tem idade para ser mãe de pelo menos dez delas – vai competir com adversárias com uma média de 25 anos. Vamos colocar de outra forma: Ayumi já dançava antes de algumas rivais terem nascido.
As casas de apostas dizem que Ayumi veio para Paris como uma das mais fortes candidatas ao ouro, mas, mais do que o mérito desportivo, a japonesa chega aos Jogos com uma história diferente das jovens adversárias, muitas delas estudantes.
"Queria perder peso"
Boa parte das adversárias não tem sequer anos de vida suficientes para terem muita coisa para contar. Mas Ayumi é diferente. É professora primária, actividade que teve de abrandar assim que o breaking se tornou um projecto olímpico para si, mas que não quer deixar de todo.
“Ser professora é a minha profissão, mas também é bom para encontrar um equilíbrio mental”, aponta, sobre uma actividade paralela, a dança, que mudou muito desde que se tornou olímpica. “A dada altura, percebi que me tinha esquecido da parte divertida da dança. O desafio deve fazer parte da diversão”.
Como é que uma professora acaba no breaking? Não, não foi por influência dos alunos. “Em 2004, voltei de umas férias de Verão no Canadá e queria começar algo novo e perder peso, depois de ter ganhado dez quilos”, conta ao site Olympics, sobre o dia em que a irmã a levou a assistir a um duelo de breaking.
Em 2017, tornou-se a primeira mulher a participar do Red Bull BC One, competição internacional de uma modalidade que à época ainda não tinha categoria feminina. É desde aí que muitas outras se juntaram, nomeadamente as 15 que também vieram a Paris, entre as quais a portuguesa Vanessa Marina.
O breaking saiu da rua
Agora, nos Jogos, o breaking enfrenta um dilema. Nos primórdios, nos anos 70, era mais uma expressão cultural derivada do hip-hop, ou até mesmo arte, do que propriamente um desporto.
Os mais conservadores do breaking não concordam com a passagem para modalidade olímpica, porque retira as bases da dança como arte: passa, como o skate, a ter preceitos como pontos, rankings, qualificações, detalhes técnicos dos movimentos, etc.
Toda essa transformação necessária para passar a ser uma competição olímpica, mais do que uma crew que faz duelos nas ruas, é, para Ayumi, uma boa evolução, porque a presença nos Jogos difunde a modalidade.
“Fiz parte de uma cultura muito bonita no breaking, mas, nos últimos dois anos, fiz parte disto como um desporto. E não poderia estar mais contente e grata com o facto de as pessoas conhecerem melhor o breaking e apoiarem. Não poderia mesmo estar mais contente”.