Ribeiro e Baptista fizeram tudo bem, mas os outros fizeram melhor

A embarcação portuguesa, campeã mundial em 2023, foi sexta na final olímpica de K2 500m nos Jogos Olímpicos.

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João Ribeiro e Messias Baptista, canoístas portugueses HUGO DELGADO / LUSA
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João Ribeiro e Messias Baptista, canoístas portugueses HUGO DELGADO / LUSA
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Vento, algas, correntes. Uma pista de canoagem nunca é totalmente calma ou limpa. Há sempre qualquer coisa que exige adaptação e raciocínio rápido. A pista de Vares-sur-Mairne tinha um pouco de tudo isto, mas era igual para todos. Oito caiaques alinharam na final do K2 500 metros, pouco menos de 90 segundos depois, já tudo tinha terminado. João Ribeiro e Messias Baptista não sentiram adversidades nem contratempos e sentiram que tinham feito tudo bem, antes e durante os tais 90 segundos. Só que o melhor que eles tinham para dar não iria chegar para a medalha nos Jogos Olímpicos de Paris.

Ribeiro e Baptista, os campeões do mundo de 2023, foram apenas sextos na final olímpica onde se assumiam como candidatos a um lugar de pódio. Mas eles também já sabiam que ia ser assim e, numa prova tão curta e explosiva como esta, todos os segundos, décimos, centésimos e milésimos contam. Não tiveram um bom princípio e não tiveram um bom final e, pelo meio, também não andaram perto da frente. Quintos aos 250 metros, sextos aos 500, com 1m27,82s.

Primeiro que eles, os alemães Max Lemke e Jacob Schopf (1m26,87s) ficaram com a medalha de ouro, depois os húngaros Bence Nadas e Sandor Totka (1m27,15s), com a prata, e os australianos Jean van der Westhuyzen e Tom Green (1m27,29s) com o bronze. Quando acabou, ainda no barco, Ribeiro, que vai na proa, esticou o braço esquerdo para trás, para saudar o seu colega dez anos mais novo. Vieram para a margem, arrumaram o caiaque ao lado dos outros e encaminharam-se sem vontade na direcção dos microfones para as reacções.

E a vontade também não parecia muita para se encontrarem com uma comitiva liderada por Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal, que estava ali para ver o que se esperava ser uma medalha. Se tivesse sido, o momento teria outras cores. Mas não foi. E não teve. Foi um encontro de palavras e cumprimentos breves, transmitido em directo para a televisão portuguesa. Depois, cada lado foi para o seu lado. Por ali também andava Olaf Scholz, mas esse estava contente com os resultados da manhã: um ouro no K2 masculino e um bronze no K2 feminino.

Em dupla desde 2021

João Ribeiro tem 34 anos, Messias Baptista tem 25. Ribeiro começou quando a bandeira portuguesa mal se via nas “startlists” das finais de canoagem, Baptista já entrou com o comboio dos títulos e das medalhas em andamento. Ribeiro, homem de Esposende, já teve o sabor do sucesso prolongado em Mundiais e Europeus durante mais de uma década, mas também já tinha provado o fracasso olímpico (finais fora do pódio em 2016 e 2021). Baptista, natural de Vila do Conde, tinha sido, sobretudo, um homem de K4 e K1, e, antes de Paris, o único sabor de final olímpica que tinha tido fora em Tóquio (8.º).

Foi depois desses Jogos, em que Portugal nem sequer esteve representado em K2, que Ribeiro e Baptista se juntaram, o experiente e o novato. Duas gerações desportivas no mesmo barco, mas isso não queria dizer que mandasse o mais velho. “Não é por ter mais experiência que tenho uma opinião mais válida”, dizia Ribeiro ao PÚBLICO em 2023.

Antes, o foco de ambos era o K4, mas como esta falhou o apuramento, Ribeiro e Baptista concentraram-se no barco intermédio e redução da distância olímpica em K2 de 1000 metros para 500, potenciou ainda mais a competitividade de ambos como dupla – Ribeiro e Baptista sempre foram muito competitivos em K1 200 metros.

Foi já em 2023 que, nos Mundiais de Duisburgo, os dois portugueses validaram essa aposta com um título e, até Paris, abdicaram de fazer muito no circuito mundial de canoagem para se concentrarem nos Jogos. Só que os adversários também não estiveram parados desde esse Mundial, como explicaram os dois canoístas após a final, com uma enorme clareza de espírito: fizeram tudo bem e os outros foram melhores. Mais do que isso, os outros mudaram muita coisa para poderem ser melhores que os portugueses.

“As equipas não estavam contentes por Portugal ser campeão do mundo neste barco. A Hungria, por exemplo, reformulou o barco depois de ser vice-campeã do mundo, a Alemanha também trouxe outro. Fizeram de tudo para terem os melhores barcos, mas nós também fizemos o nosso melhor”, analisou João Ribeiro. “Já sabíamos que ia ser assim. Os primeiros oito, nove, andamos todos no mesmo segundo. Viemos para aqui como campeões do mundo, os outros países não gostaram quando são outros a ganhar”, lamentou, por seu lado, Messias Baptista.

No imediato, disse ainda João Ribeiro, o que fica é a tristeza de mais uma oportunidade de medalha perdida depois de tantas finais disputadas em três edições dos Jogos. Só depois é que João Ribeiro é que irá pensar no que fez e na carreira que tem tido, cheia de medalhas e de títulos: “Agora impera um bocado a tristeza, daqui a uns dias estarei orgulhoso.”

E como fica o futuro da dupla? Tem futuro? A resposta de Messias Baptista foi um talvez que soou a sim: “Estes últimos anos com o João foram muito bonitos, com muitas alegrias e muitas tristezas. Só o futuro dirá o que vamos fazer, mas espero contar com a experiência dele para o meu futuro.”

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