Polícia britânica prepara-se para nova onda de motins anti-islâmicos e contra-protestos

Governo de Starmer afirma que haverá uma presença policial suficientemente grande para lidar com qualquer agitação e presidente da Câmara apela aos londrinos que se preocupem com “amigos e vizinhos”.

Foto
O Reino Unido tem sido fustigado por motins de extrema-direita Stringer / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
02:52

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A polícia britânica prepara-se para novos tumultos anti-islâmicos nesta quarta-feira, com grupos de extrema-direita a apontar como alvos centros de asilo de imigrantes, mesquitas ou escritórios de advogados de imigração em todo o país, levando os manifestantes anti-fascistas a planear protestos de repúdio aos primeiros.

Num comunicado publicado na rede social X, a Polícia Metropolitana diz saber estarem em preparação para esta quarta-feira à noite "eventos" promovidos por "grupos de ódio" e "divisionistas" e avisa estar preparada para usar "todo o poder" para prevenir novas desordens. "Detivemos mais de 100 pessoas nos distúrbios da semana passada no centro da cidade [de Londres] e não vamos hesitar em prender outras centenas", lê-se no comunicado.

Também o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, recorreu ao X para avisar que a polícia está a trabalhar de perto com as líderes comunitários e organizações locais para proteger edifícios e lugares identificados como alvos, mas pede ainda a ajuda dos londrinos para se preocuparem com os seus amigos e vizinhos muçulmanos ou de minorias étnicas.

"Actos de violência e desordem nas ruas não serão tolerados, e se cometerem crimes serão presos e enfrentarão todo o poder da lei", escreveu Sadiq Khan.

O Reino Unido tem sido dominado por uma onda crescente de violência que eclodiu no início da semana passada, quando três jovens raparigas (uma delas portuguesa) foram mortas num ataque com faca no noroeste do país, desencadeando uma onda de mensagens falsas online que identificaram erradamente o suspeito do crime como um imigrante islâmico.

O primeiro-ministro Keir Starmer, um antigo procurador que enfrenta a sua primeira crise desde que venceu as eleições de 4 de Julho, avisou os desordeiros de que enfrentarão longas penas de prisão, enquanto procurava travar o pior surto de violência no Reino Unido em 13 anos. "O nosso primeiro dever é garantir a segurança das nossas comunidades", disse.

"Eles estarão em segurança. Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para garantir que, nos casos em que é necessária uma resposta da polícia, essa resposta está disponível, e nos casos em que é necessário apoio para determinados locais, esse apoio está disponível".

Nas vilas e cidades, grupos de algumas centenas de desordeiros entraram em confronto com a polícia e partiram janelas de hotéis que albergam requerentes de asilo de África e do Médio Oriente, gritando "tirem-nos daqui" e "parem os barcos" - uma referência aos que chegam ao Reino Unido em pequenos botes.

Também atacaram mesquitas com pedras, aterrorizando as comunidades locais, incluindo as minorias étnicas que se sentiram visadas pela violência.

As mensagens na Internet referiam que os centros de imigração e os escritórios de advogados avisavam os imigrantes que iriam ser atacados nesta quarta-feira, com uma mensagem a dizer: "Quarta-feira à noite, rapazes. Eles não vão parar de vir até que vocês lhes digam".

Em resposta, os grupos anti-racismo e anti-fascistas organizaram manifestações de resposta em cidades de todo o país. Um post sobre um protesto de extrema-direita planeado na cidade costeira de Brighton, no Sul do país, dizia " A escumalha racista está a tentar atacar o escritório de um advogado de imigração. Não vamos deixar que isso aconteça - usem coberturas faciais e máscaras".

O Governo criou o chamado "exército permanente" de 6000 polícias especializados para responder a qualquer surto de violência e afirma que terá uma presença suficientemente grande para lidar com qualquer agitação.

"Este país está a enfrentar uma das piores vagas de distúrbios violentos da última década", afirmou o comissário adjunto Andy Valentine, responsável pela operação policial em Londres. " Não vamos tolerar isto nas nossas ruas. Usaremos todos os poderes, tácticas e ferramentas disponíveis para evitar mais cenas de desordem. "

Starmer prometeu um ajuste de contas para aqueles que forem apanhados em tumultos, a pilhar lojas e a incendiar carros. Disse que mais de 400 pessoas tinham sido detidas, 100 tinham sido acusadas e que esperava que as sentenças começassem em breve.

Notícia actualizada às 14h53 com informações da Polícia Metropolitana e presidente da Câmara de Londres