Starmer avisa participantes em motins racistas: “Vão-se arrepender”

Tijolos atirados contra casas “porque somos britânicos”, lojas pilhadas, ameaças a centros de refugiados: a polícia deteve pelo menos 147 pessoas desde sábado à noite, mas a violência não parou.

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Uma biblioteca de um centro comunitário incendiada durante os motins racistas em Liverpool EPA
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O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que pode “garantir” a quem participe nos motins que “se vai arrepender”, e que será feito “tudo o que for preciso para levar estes desordeiros à justiça”, depois de dias de violência racista e islamófoba no Reino Unido.

Starmer assegurou que tem passado os últimos dias a trabalhar com a polícia e o sistema judicial, desde que a violência começou por causa de três mortes em Southport, para que agora seja possível conseguir “detenções, acusações, prisões preventivas e condenações muito rapidamente”.

O primeiro-ministro repetiu as acusações contra a extrema-direita de estar por trás dos motins. Segundo a emissora britânica BBC, foram detidas 147 pessoas desde sábado à noite e este número deverá aumentar.

Os motins começaram na terça-feira depois da morte de três crianças por um jovem de 17 anos em Southport, a norte de Liverpool. Outras oito pessoas ficaram em estado crítico na sequência do ataque.

Logo nessa noite, pessoas ligadas ao grupo de extrema-direita e anti-islão English Defense League (EDL) foram até à localidade no final de uma vigília em memória das vítimas, atacando uma mesquita, queimando carros e atirando objectos contra a polícia.

Neste domingo, havia relatos de vandalismo e ameaças em zonas residenciais de Middlesbrough, descreve o diário britânico The Guardian. Grupos andavam de bairro em bairro a partir janelas de casas e vidros de automóveis, gritando insultos racistas.

Confrontado por um residente sobre a razão de estarem a quebrar as janelas de casas, um dos elementos do grupo respondeu: “Porque somos ingleses.”

Outro alvo foi um hotel que recebe requerentes de asilo perto de Rotherham, com pessoas a atirarem tijolos contra a polícia e contra o edifício, partindo várias janelas, antes de pegarem fogo a caixotes do lixo e tentarem incendiar o hotel.

Dezenas de pessoas juntaram-se noutro hotel que também recebe requerentes de asilo em Aldershot, no Sul de Inglaterra.

A agência Reuters descreve violência também nas cidades de Liverpool, Bristol e Manchester. Os alvos foram variados: em Liverpool, o interior de uma biblioteca de um centro comunitário foi reduzido a cinzas.

“Não representa o país”

O chefe de Governo teve ainda uma palavra para aqueles que são alvos da violência: “Aos que se sentem atingidos por causa da cor de pele ou da religião: sei quão assustador pode ser. Quero que saibam que este grupo violento não representa o nosso país – e vamos levá-los à justiça.”

A ministra do Interior, Yvette Cooper, anunciou uma verba extra para aumentar a protecção às mesquitas além dos recursos actuais, o que poderá permitir uma resposta mais rápida para mesquitas consideradas em risco de serem alvo de violência.

Quem também falou do sucedido foi o anterior primeiro-ministro Rishi Sunak, para dizer que os motins “não têm nada a ver com a tragédia em Southport”. “Este comportamento violento e criminoso não tem lugar na nossa sociedade”, garantindo que “a polícia terá o nosso apoio total para lidar com estes criminosos com rapidez”.

O jornalista Paul Mason (autor de Como Travar o Fascismo, ed. Objectiva) escrevia no X que a estratégia da polícia em dispersar os amotinados não funcionava quando estes ameaçavam a segurança de pessoas. E por isso dizia que o que as forças de segurança fizerem nos próximos dias será determinante, já que “se as comunidades pensarem que não podem contar com a polícia, vão começar a defender-se sozinhas – e isso irá alimentar a narrativa fascista”.

O investigador da Universidade de Oxford Vicente Valentim, que tem estudado a normalização de discursos de direita radical e extrema (autor de O Fim da Vergonha, ed. Gradiva), escreveu na rede social X que, na sua opinião, haverá uma ligação entre o que está a acontecer e a retórica política tanto de partidos de direita radical como do Partido Conservador.

Primeiro, lembra que eleições em que partidos neste lado do espectro político têm sucesso (como aconteceu nas últimas eleições britânicas) podem normalizar expressões públicas de pontos de vista de extrema-direita e direita radical, e que mais pessoas se sentem confortáveis em agir de acordo com esses pontos de vista após a eleição.

Também sublinha que o facto de “os partidos de direita mainstream adoptarem retórica dos partidos mais radicais ou extremistas, como também aconteceu nesta campanha, ainda contribui mais para o processo de normalização”. E finalmente, lembra que a normalização aumenta o grau de xenofobia dos protestos.

Ou seja: “se é difícil identificar com rigor o que causou estes acontecimentos específicos”, também “é certamente plausível que o aumento do uso de retórica de direita extrema e radical por políticos tenha contribuído.”

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